Top três da formação executiva em Portugal não quer sair do pódio
Nova SBE, Porto Business School e Católica-Lisbon têm presença assídua no ranking de formação executiva do Financial Times. O segredo, dizem, está na diferença e no investimento colocado nos programas para executivos.
São 75 as instituições de ensino superior que compõem o ranking global de formação executiva do Financial Times. Entre elas estão três universidades portuguesas que este ano conquistaram posições de valor entre a elite das escolas de negócios europeias e mundiais. A Católica Lisbon School of Business & Economics ficou no 44.º lugar e tornou-se a faculdade portuguesa com melhor posição no ranking; seguiu-se a Nova School Business and Economics, no 57.º lugar; e a escola de negócios do Norte, a Porto Business School, no 69.º lugar. Para os coordenadores da formação executiva destas três instituições, o ensino para executivos está cada vez mais ecléctico e amadurecido em Portugal.
Na hora de cada escola fazer valer o trabalho que tem desenvolvido, o "top três" da formação executiva em Portugal sabe exactamente dizer o que diferencia a sua instituição das restantes no país e até no mundo. Luís Cardoso, professor e director da formação de executivos na Católica Lisbon School of Business & Economics, acredita que a oferta de cursos da Universidade Católica tem sido preparada para cada cliente, quase como um ensino personalizado e menos genérico. Os clientes poderão ser alunos individuais ou empresas que têm parcerias com a universidade. “Temos construído soluções personalizadas de grande valor acrescentado”, diz Luís Cardoso.
As parcerias internacionais aparecem como uma grande mais-valia para as escolas de negócios. São quase como uma regra de ouro: permitem mais contactos, partilha de docentes, de reputação e de experiências. A Porto Business School (PBS) segue este rumo. “[As parcerias] têm-nos possibilitado aprender e co-criar com os melhores do mundo”, afirma Paula Marques, directora executiva da formação para executivos da PBS.
Desde a London Business School até ao consórcio Unicon, que “reúne um grupo restrito de escolas de negócio que tem como missão pensar o futuro da formação para executivos”, no Norte pensa-se em como vingar em conjunto e não apenas sozinho. Tal pode significar “projectos de investigação de longo prazo” ou “experimentar novas metodologias”.
Para se actualizar no mercado da formação executiva, a maioria das instituições tem recursos preparados para pensar o futuro dos planos de estudo. Através de redes de contactos ou de conselhos consultivos junto de empresas, associações ou organizações, o ensino superior procura encontrar lacunas ou preferências para rentabilizar a oferta da formação executiva em Portugal. O “conhecimento no terreno dos desafios, tendências e necessidades do meio empresarial”, segundo Luís Cardoso, torna-se fulcral para a sustentabilidade e reputação dos programas para executivos.
No caso da Nova School Business and Economics, a diferenciação no "top três" está actualmente acompanhada de uma mudança física. A instituição vai receber cerca de 16 milhões de euros do Banco Europeu de Investimento para a construção do novo campus em Carcavelos. Ao que tudo indica, será nesta freguesia de Cascais a nova casa da escola de negócios da Universidade Nova de Lisboa no próximo ano lectivo (2018/19). Para José Crespo de Carvalho, professor e coordenador académico da formação executiva da Nova SBE, este “megaprojecto” vai “revolucionar a forma como se faz e pensa o ensino superior em Portugal”.
O novo campus terá capacidade para receber mais pessoas, tendo como objectivo principal afirmar-se como uma escola de negócios de Portugal e do mundo.
Saber formar executivos
Hoje, quase todas as instituições de ensino superior em Portugal, entre universidades e politécnicos, oferecem uma ampla variedade de cursos de formação executiva (ver lista de oferta de formação nas últimas páginas). Mestrados, doutoramentos, pós-graduações e cursos de curta duração são algumas das tipologias que os alunos podem encontrar um pouco por todo o país.
Nem todas têm as acreditações internacionais, nomeadamente a AACSB (associação americana para escolas de negócio), a AMBA (associação para MBA) e EQUIS (sistema europeu de qualidade e acreditação escolar), que dão acesso a rankings internacionais como o do jornal britânico Financial Times. No entanto, muitas instituições estão a dar um novo e importante dinamismo ao panorama da formação executiva no país. “É um mercado em evolução, cada vez mais ecléctico, mais de ruptura e desafiante”, aponta José Crespo de Carvalho. Já Paula Marques, da PBS, acredita estarem a viver-se “tempos de muita criatividade”.
Entre as razões apontadas para vir aprender, estudar e até trabalhar em Portugal está o ensino de qualidade, segundo os três coordenadores de formação executiva. Uma das provas mais significativas do sucesso da formação executiva portuguesa está no número de estrangeiros. Na Nova School Business and Economics, os alunos alemães são os principais representantes do mercado externo, logo seguidos dos alunos italianos. “Dizia-me um embaixador meu amigo que a exportação de conhecimento made in Portugal ou pelo menos residente em Portugal era um dos fenómenos mais interessantes do cosmopolitismo necessário ao desenvolvimento do país”, confidencia o professor da Universidade Nova ao PÚBLICO.
O ensino superior e executivo torna-se assim matéria exportável aos olhos e gostos internacionais. Luís Cardoso adianta também que, nos mestrados da Católica Lisbon School of Business & Economics, 50% dos alunos são estrangeiros. Além de usufruírem da reputação obtida através dos rankings internacionais e de terem programas executivos direccionados para estudantes e empresas internacionais, as escolas de negócio portuguesas conseguem pontos a seu favor que vão além do ensino. Quais? “Portugal é um país que reúne condições de excepção para a realização de eventos internacionais, em termos de segurança, clima, beleza natural e património histórico”, acrescenta.
Para Paula Marques, o tecido empresarial português teve também a sua quota-parte de importância no sucesso além-fronteiras – “empresas que souberam reinventar o seu negócio e que hoje são perfeitos exemplos de como o futuro não tem uma resposta única”, refere. O carácter empreendedor poderá permitir, segundo a professora, que algumas organizações venham até Portugal, não só para aprenderem e aprofundarem conhecimentos, como também para recrutarem pessoas e serviços, no chamado “startup scouting”.
O crescimento económico que o país tem registado nos últimos tempos e a melhoria das contas públicas – que se reflecte na saída do “lixo” no rating da Standard & Poor's, por exemplo – não são, porém, uma explicação linear para que as empresas portuguesas apostem mais na formação executiva dos seus trabalhadores. “Não é o crescimento económico o incentivo para procurar formação. É, sim, a incerteza, a velocidade a que o mundo está a rolar que estão a criar algum desconforto junto das empresas que começam a questionar modelos de negócio e estratégias futuras”, contrapõe a professora da PBS.
Luís Cardoso, da Católica, também acredita que existem fragilidades no crescimento económico português, mas admite que “é um facto que se vive um clima mais positivo e confiante, o que tem vindo a ter reflexos evidentes no comportamento das empresas”. Colocar os prós e os contras numa balança, seja ela comercial ou não, é útil, mas o burburinho de crescimento económico irá sempre ajudar na confiança, para o professor da Universidade Nova de Lisboa. “Mais saúde económica significa que as pessoas e as empresas que se querem formar ou formam os seus quadros passam a pensar mais em investimento associado à formação e menos em custo associado à formação”, opina José Crespo de Carvalho.
Novos formatos no futuro
Se uma varinha de condão fosse apontada para a formação executiva em Portugal, cada um dos representantes do "top três" desta área saberia o que dizer. Como todos os programas curriculares, também os planos de estudo para executivos têm as suas evoluções. Os típicos mestrados, doutoramentos ou pós-graduações poderão muito bem ser encolhidos para cursos mais curtos e dirigidos à realidade de cada um. “Iremos aprender de forma modular e em pequenas doses, de modo a evitar a sobrecarga cognitiva e permitir o treino das competências adquiridas em ambiente real”, explica Paula Marques.
Da mesma forma, a rede de contactos e aprendizagem em conjunto serão fulcrais para o futuro profissional e académico. “Até agora, a aprendizagem foi sobretudo uma actividade privada. Hoje, aprender transformou-se numa actividade que nos coloca em constante partilha com os outros e tem uma enorme dimensão social”, diz a directora executiva da formação para executivos da Porto Business School. Para Luís Cardoso, da Católica Lisbon School of Business & Economics, a divisão professor/aluno irá também esbater-se. Vai-se “reduzir a componente de formação convencional, mais centrada no professor enquanto conhecedor dos temas, que os expõe transmitindo saber”, diz.
A inovação vai ter um papel fundamental na formação executiva nomeadamente nos métodos e nas práticas pedagógicas. “Usar mais e mais tecnologia no processo formativo”, incentiva José Crespo de Carvalho. Role-playing (jogo em que se finge ser outra pessoa), flipped classroom ou aula invertida (os alunos aprendem em casa e utilizam a sala de aula para tirar dúvidas) e gamification (a lógica de jogos e exercícios lúdicos em aulas) são algumas das tendências que poderão vingar na formação executiva em Portugal.
Para já, as três instituições académicas — Católica Lisbon School of Business & Economics, Nova School Business and Economics e Porto Business School — não pretendem ficar paradas no tempo, nem longe dos rankings do Financial Times.