Em Famalicão, há gente jovem a ressuscitar carros antigos

Turmas do 11.º e 12.º ano de uma escola profissional de Famalicão vão passar os dias a restaurar carros antigos. A ideia passa por prestar apoio ao Museu Automóvel, mas também abrir a oficina a particulares.

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Adriano Miranda
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“Vai buscar outro martelo, ó Meneses!”. E Ricardo Meneses lá foi. Foi só o tempo de abandonar a explicação que estava a ouvir do professor Miguel Fernandes, dar uns passos em direcção a outra bancada, procurar a ferramenta entre o resto do material ainda com brilho de novo e voltar, para ouvir o que era dito sobre um sistema de travagem. Em Ribeirão, perto de Famalicão, para os alunos do 12.º ano da Escola Profissional CIOR (Cooperativa de Ensino de Vila Nova de Famalicão), os dias vão passar muito por isto.

São muitos os que, tal como Ricardo, vão aprender a restaurar carros clássicos, “mais velhos que nós todos juntos”, como se ouve alguém comentar por entre o barulho dos martelares na garagem da Escola de Restauro Automóvel, inaugurada na passada sexta-feira. Estamos numa oficina mas ainda não se ouvem os habituais rugidos dos motores. É normal — afinal, antes de tudo, falamos de uma escola de restauro. Ouvir motores seria sinal que o trabalho estava terminado quando, na verdade, está apenas a começar.

Mas por que razão estão estudantes a trabalhar em carros antigos? A iniciativa partiu do Museu do Automóvel, que convidou a CIOR como parceira, com o objectivo de formar profissionais na área do restauro de automóveis. “É um protocolo entre a CIOR e o museu. Temos aqui a disciplina de Práticas Oficinais, a parte prática dos cursos de Mecatrónica Automóvel”, explica Pedro Silva, director do curso. Esta não é a primeira vez que alunos da cooperativa se debruçam sobre motores e chassis para aprender os ossos do ofício. Mas enquanto na escola, há “sempre carros [modernos] na oficina”, o trabalho com o museu “é diferente”. “O que costuma acontecer é chegar um carro de alguém que [os estudantes] não conhecem, repará-lo e nunca mais o verem. Neste caso, os carros vão para o museu e os alunos vêem o trabalho feito. É recompensador”, afirma.

Há já um automóvel estacionado na oficina: é um Chrysler de 1928. “O plano é fazer o restauro completo”, diz Miguel Fernandes, professor de Mecatrónica na CIOR, reparando que “é o que tem pior aspecto”. E tem mesmo. A marca é mesmo das poucas coisas que o tempo não destruiu. O restauro completo de um carro leva tempo e, neste caso, é provável que passe pelas mãos de várias gerações de estudantes.

“Trabalhar com estes carros é muito diferente. A parte mecânica não tem nada a ver com os carros modernos. Esta iniciativa é excelente para podermos conhecer o antigo, pois só assim é que se consegue entender o moderno”, afirma Ricardo Meneses. Para o jovem, esta Escola de Restauro Automóvel é, acima de tudo, uma oportunidade: “Há falta de restauradores em Portugal, os que há são mais velhos, e depois não há nada melhor que isto, este ambiente”.

Ainda se vão conhecendo os cantos à casa, mas já há quem vá espreitando, com olhos curiosos, o que esconde um motor coberto de pó e ferrugem, inspeccionam-se ferramentas, ouvem-se explicações. Marco Mendes ainda anda de volta do sistema de travagem. Está a explorar um território diferente, distante das tecnologias electrónicas dos carros actuais: “Aqui é mecânica pura. É uma questão de sabedoria, não há que enganar”.

Como muitos dos que aqui estão, já estagiou e está habituado a linhas de montagem de grandes empresas. Vê aqui uma oportunidade de tirar os velhos carros da garagem e, quem sabe, devolvê-los à estrada, concluindo: “Não há nada mais bonito do que ver um carro antigo a passar na rua”.

Os automóveis do museu são o principal alvo das intervenções na escola mas outras entidades e até particulares poderão vir a recorrer a estes estudantes.

Durante o tempo que vão ocupar este espaço no Lago Discount (uma zona industrial perto de Famalicão), Ricardo, Marco e companhia vão fazer da garagem um autêntico laboratório. Tal como outros alunos do 11.º e 12.º ano. Texto editado por Ana Fernandes     

Uma escola com poucos vizinhos

Quem faz o percurso da Estrada Nacional n.º 14, que liga Porto e Braga, já deve ter reparado nele. A sinalização na rotunda que dá entrada no Lago Discount aponta para uma zona comercial, mas o estado dos cerca de 80 mil metros quadrados do complexo está longe de ser o projecto apresentado em 2004.

Naquele ano as expectativas eram muitas. O investimento era justificado por se tratar de um empreendimento num local estratégico, com boa acessibilidade. A instalação de marcas internacionais no complexo, a ideia de ter um minibus para facilitar a circulação e até atrair clientes da Galiza eram apenas algumas ideias.

Segundo relatava o Jornal Têxtil em Novembro de 2004, 15 mil pessoas deslocaram-se à zona comercial para a primeira fase da inauguração. Agora, em algumas das artérias que compõem o espaço há silêncio, interrompido por um altifalante a ecoar o que há de novo.

Contactada pelo PÚBLICO, a Câmara Municipal de Famalicão lembra que o investimento foi feito por entidades privadas, sendo que o único papel que desempenhou foi o de, posteriormente, licenciar a transição de um modelo industrial para um comercial.

Actualmente, o empreendimento é gerido pela consultora JLL. Segundo a empresa, desde o início da gestão, a taxa de ocupação tem vindo a aumentar e situa-se nos “50/55%”.

A autarquia tem aproveitado o espaço para alojar alguns dos museus e projectos sob a sua alçada. São exemplo disso o Museu do Automóvel ou o Museu da Guerra Colonial. Há ainda iniciativas de reaproveitamento dos espaços, como é o caso da recentemente inaugurada Escola de Restauro Automóvel e a instalação do Instituto Nacional de Artes e Circo.     

Texto editado por Ana Fernandes

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