O mito confirma-se: a pílula pode mesmo ajudar no combate à acne

Do ponto de vista médico, as pílulas de nova geração são mesmo aconselhadas no “tratamento adjuvante” da acne. “É uma enorme vantagem intervir ao nível hormonal”, considera dermatologista. Hoje é Dia Mundial da Contracepção

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É uma daquelas afirmações que adolescentes e mulheres crescem a ouvir, muitas vezes sem saberem se corresponde à realidade: “A pílula ajuda a tratar a acne.” A verdade é que a pílula contraceptiva feminina é “uma ajuda preciosa” no tratamento desta doença inflamatória crónica. Quem o diz é Marta Pereira, dermatologista do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, a propósito do Dia Mundial da Contracepção, que se celebra esta terça-feira, 26 de Setembro. “É uma enorme vantagem intervir ao nível hormonal [no tratamento da acne] e a pílula tem, indiscutivelmente, o seu lugar.”

“Um dos factores mais importantes na origem da acne é hormonal”, afirma a especialista. “Não é por acaso que a maior incidência se observa em idades jovens, no momento da viragem hormonal. Há um contributo da parte hormonal para estimular a pele — nomeadamente as glândulas de gordura — a produzir mais oleosidade e a formar mais pontos negros, pontos brancos e borbulhas inflamadas.” No caso das mulheres, o ciclo menstrual não pode ser deixado de lado quando se estuda um possível tratamento para a acne. E é aí que a pílula contraceptiva pode entrar: “Não é mito, de todo.”

O que se verifica nos dois dias anteriores ao início do período menstrual é uma diminuição de “abertura do folículo pilo-sebáceo”, o que condiciona “a redução do fluxo do sebo para a superfície”. Tal ocorrência “pode explicar o agravamento pré-menstrual da acne”, lê-se no dossier Avaliação e tratamento do doente com acne — Parte I: Epidemiologia, etiopatogenia, clónica, classificação, impacto psicossocial, mitos e realidades, diagnóstico diferencial e estudos complementares, publicado pelo Portuguese Acne Advisory Board (PAAB) — um grupo de especialistas da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia. Este efeito, contudo, “parece ser mais frequente nas mulheres mais velhas (acima dos 33 anos)”.

“Como pílulas benéficas para o tratamento da acne só tínhamos aquelas que conjugavam o etinilestradiol com outras três substâncias: o acetato de ciproterona [da bem conhecida e já antiga Diane 35], o acetato de clormadinona e a drospirenona”, explica a médica de 41 anos. “Agora”, prossegue, “soma-se o dienogest como uma mais-valia, porque de facto tem um perfil de segurança superior”.

O que Marta Pereira faz é recomendar uma pílula que se enquadre “no perfil necessário à melhoria da acne” da paciente que chega à consulta. Contudo, pede sempre “uma avaliação por parte da Ginecologia”. “Tem de haver uma concordância, um trabalho de equipa.” Pílulas contraceptivas “de nova geração”, como a Valette ou a Sibilla, à base de dienogest e etinilestradiol, “têm muito menos efeitos secundários e um melhor perfil de segurança”. Quer isto dizer que “causam menos alterações no colesterol e têm um menor impacto a nível de risco de tromboses venosas dos membros inferiores”, descreve a médica. Já eram indicadas para o “tratamento adjuvante” da acne, agora são aconselhadas.

“Provavelmente”, avança o estudo Avaliação e tratamento do doente com acne — Parte I, da PAAB, a acne vulgar “é a mais frequente doença cutânea”, uma vez que afecta “85 a 100% da população em qualquer momento da sua vida”. A literatura diz que a incidência é maior até aos 25 anos, mas Marta Pereira — que participou na 7.ª Reunião Nacional da Sociedade Portuguesa da Contracepção enquanto convidada — adianta que a prática clínica mostra outra tendência. “Há uma percentagem muito significativa (em torno de 40%) de mulheres que persistem com acne pela vida adulta ou têm surgimento de lesões de acne mais tardiamente (…) Em muitos casos, a pílula continua a ser uma excelente opção para o controlo das lesões.”

À consulta desta dermatologista chegam mulheres adultas em busca de auxílio. Sentem “muita pressão social” para terem um rosto limpo, livre de borbulhas. “Parece que uma idade pós-adolescente não condiz com acne”, reflecte, “mas o denominador comum aqui é a parte hormonal”.

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