Marine Le Pen perde o braço direito e pode ter ganho um rival
Florian Philippot, ideólogo da saída de França do euro, bateu com a porta. Tem caminho aberto na associação política Patriotas.
O conflito que nos últimos meses foi subindo de tom entre a líder da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, e o seu vice-presidente levou à saída definitiva de Florian Philippot do partido de extrema-direita francesa.
Philippot, até agora o número 2 de Le Pen, foi o ideólogo da FN e o elemento mais influente do partido nos últimos anos, responsável pela estratégia de “normalização” da imagem da formação de extrema-direita, anti-imigração e identitário. Mas introduziu no programa da FN a temática da saída da França da zona euro – sempre mal explicada por Marine Le Pen, e que é apontada como a principal causa para que a líder tenha perdido as eleições presidenciais face a Emmanuel Macron. O resultado abriu uma crise de identidade na Frente.
Após a derrota eleitoral de Le Pen, Philippot – que também não conseguiu ser eleito deputado nas legislativas – formou uma associação política, a que preside, sem informar a presidente da FN. Acusado de preparar o terreno para correr em pista própria, não cedeu ao ultimato de Le Pen para deixar a associação Patriotas, e acabou por ver serem-lhe retirados todos os poderes de vice-presidente na FN. Demitiu-se, anunciando a sua decisão numa televisão.
Ao longo da sua ascensão na FN, gerou muitos anticorpos – era público que Marion Le Pen, a sobrinha da líder, que se afastou da política após a derrota da tia nas presidenciais, o detestava. Louis Alliot, companheiro de Marine Le Pen, disse esta quinta-feira no Twitter que não se perde grande coisa com a saída de Philippot: “A FN vai enfim ficar em paz, sem um extremista sectário, arrogante e vaidoso que tentava amordaçar a nossa liberdade de debate.”
“Se houvesse uma sondagem interna, 90% dos frontistas exigiriam a saída de Philippot”, disse ao Le Monde um dirigente próximo de Marine Le Pen. “Uma parte dos quadros da FN (Nicolas, Bay, Louis Alliot, Gilbert Collard), e figuras ligadas ao partido, como o presidente da câmara de Béziers, Robert Ménard, acusavam-no de ser responsável pela derrota de Marine Le Pen nas presidenciais, devido à estratégia que seguiu”, disse ao jornal Le Figaro David Desgouilles, da revista de direita Causeur.
Esta está longe de ser a primeira crise interna da Frente Nacional. A mais grave, e que pôs seriamente em causa a continuidade do partido, foi a saída de Bruno Mégret, em 1998, com metade dos seus quadros. Enquanto Marine Le Pen recusou compará-lo a Mégret por considerar que “seria insultuosa para Philippot”, o seu pai, Jean Marie Le Pen, cuja expulsão da FN foi instigada por Philippot, considerou que o ex-vice da FN “não tem a força que tinha Mégret.
Até agora, só a eurodeputada Sophie Montel, vice-presidente da associação Patriotas, anunciou que saia da Frente Nacional com Philippot.
Embora Marine Le Pen preveja o “desaparecimento político de Philippot”, ele pode aliar-se ao soberanista e muito auto-apregoado gaullista Nicolas Dupont-Aignan, escreveu no jornal Le Figaro o analista de estratégia e comunicação política Frédéric Saint Clair. Durante as presidenciais, Dupont- Aignan foi apresentado por Le Pen como a sua escolha para primeiro-ministro numa breve aliança, logo quebrada após a derrota eleitoral – mais uma influência de Philippot.
Se a vitória nas presidenciais falhou, quando parecia estar ao alcance da mão, é porque a linha estratégica escolhida não era boa, e é preciso voltar ao básico. Philippot responde, em linhas gerais, que o aumento de eleitores de 5, 5 milhões [Jean-Marie Le Pen na segunda volta das presidenciais em 2002] para 10,6 milhões [Marine Le Pen em 2017] é fruto da normalização da FN, e que um regresso ao básico terá um efeito contrário. Quem tem razão? Philippot, claro”, escreve Saint Clair.