Tubarões vivem mais tempo do que se pensava
Os planos de conservação das espécies ameaçadas poderão ter de ser revistos.
Uma revisão de dados sobre avaliação da idade dos tubarões revela que muitas espécies têm maior longevidade do que se pensava, o que poderá obrigar a uma revisão dos planos de conservação das mais ameaçadas.
Um estudo que será publicado, na quinta-feira, pela revista científica Nature faz uma revisão de dados recolhidos por investigações anteriores sobre os principais predadores marinhos e conclui que muitas estimativas sobre o grau de ameaça de muitas espécies, e, consequentemente, decisões sobre níveis sustentáveis de pesca assentam em dados incorrectos.
O método tradicional de avaliação da idade dos tubarões é a observação dos "anéis" visíveis quando as vértebras dos animais são cortadas, à semelhança do método usado para avaliar a idade das árvores através dos anéis visíveis num corte do tronco.
Mas, "os tubarões não são árvores", diz, citado pela Nature, Alastair Harry, investigador da Universidade James Cook, na Austrália, que aponta um estudo de 2014 que revelou que os tubarões-touro (Carcharias taurus) têm um tempo de vida duas vezes superior aos cerca de 20 anos calculados antes. Em 2007, um outro estudo, realizado na Nova Zelândia, revelou que os tubarões-sardo (Lamna nasus) vivem, em média, mais 20 anos do que o anteriormente estimado.
No caso da espécie de tubarão mais emblemática, o tubarão branco (Carcharodon carcharias), a longevidade poderá chegar aos 70 anos, contra os cerca de 50 anos estimados actualmente.
A revisão dos dados existentes revela que, em muitos casos, os anéis das vértebras deixam de crescer quando os tubarões atingem a idade adulta e o tamanho máximo, o que significa que, contar o número de anéis num tubarão maduro, resulta na impressão de que o animal é mais jovem do que na realidade é.
De acordo com Alastair Harry, das 53 populações de tubarões e raias (parentes próximos dos tubarões) para as quais existem dados consistentes, cerca de 30% têm a longevidade subestimada.
"Os dados actualizados indicam que a subestimação da longevidade dos tubarões é sistémica e não episódica. É uma situação que não pode ser ignorada" no âmbito das políticas de conservação de espécies ameaçadas, adianta o investigador.
O estudo de Alastair Harry dá conta de dois métodos de revisão do cálculo da idade dos tubarões: marcadores químicos e vestígios de radiação tomando como base os testes nucleares oceânicos realizados no Pacífico nos anos 1950.
No primeiro método, tubarões capturados são injectados com uma tinta que é absorvida pela coluna vertebral, deixando uma marca permanente. Quando os animais são recapturados algum tempo depois, o crescimento das vértebras nesse período definido é avaliado. No segundo método, a idade dos tubarões é estimada a partir dos vestígios de isótopos de carbono, que têm um ritmo conhecido de degradação, detectados nos tecidos.
Lisa Natanson, bióloga da Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, que participou na validação dos novos dados apresentados por Alastair Harry, considerou, citada também pela revista Nature, que será necessário reavaliar todos os modelos que regem actualmente as políticas de gestão da pesca de tubarões.
Uma maior longevidade implica que, se isso significar que os tubarões atingem a idade adulta e iniciam o ciclo reprodutivo mais tarde, são mais vulneráveis do que o que se julga actualmente. Por outro lado, uma vida mais longa pode significar um ciclo reprodutivo mais longo, factor de robustez das populações.
Das cerca de 400 espécies de tubarões conhecidas, 64 são listadas como ameaçadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Organizações ambientalistas estimam que 100 milhões de tubarões são mortos, todos os anos, pela pesca comercial e desportiva.