A promessa, o capitão, e a corrida aos passaportes na Eslovénia
Selecção eslovena sagrou-se pela primeira vez campeã da Europa de basquetebol, erguendo o troféu no culminar de um trajecto irrepreensível. Com apenas 18 anos, Luka Doncic é uma das figuras da equipa
Cara de miúdo, corpo de gigante. Luka Doncic ainda não tinha feito 14 anos e já media 1,87m, graças ao património genético herdado do pai, que mede 2,01m, foi basquetebolista profissional durante quase duas décadas e chegou a representar a selecção da Eslovénia. O jovem Luka seguiu-lhe os passos, começou a jogar nas equipas jovens do Olimpija de Ljubljana e não tardou a dar nas vistas: aos 13 anos assinou com o Real Madrid, onde continuou a confirmar todo o seu potencial. Em 2015, aos 16 anos, dois meses e dois dias, tornou-se no mais jovem basquetebolista a representar os “merengues” na Liga espanhola de basquetebol. Luka Doncic, a quem auguram um futuro brilhante na NBA, foi uma das figuras da selecção eslovena que no domingo surpreendeu tudo e todos e sagrou-se campeã da Europa.
Em 12 participações no Eurobasket enquanto nação independente, a Eslovénia nunca tinha ido além do quarto lugar obtido em 2009. A 13.ª vez no torneio continental não trouxe azar, mas sim a sorte grande: medalha de ouro e um troféu inédito para os eslovenos, que superaram todos os adversários num trajecto invicto que não se via desde que a Lituânia fora campeã sem derrotas em 2003. “A Eslovénia merece a medalha de ouro. Trouxeram para este torneio um ritmo de jogo digno da NBA”, admitiu Aleksandar Djordjevic, treinador da Sérvia, após a derrota na final.
A referência à Liga norte-americana de basquetebol não é feita ao acaso: não pela experiência dos jogadores eslovenos, mas pelo longo percurso do treinador Igor Kokoskov, que desde 2000 tem vindo a trabalhar como adjunto na NBA, tendo passado por diversas equipas. O único basquetebolista do conjunto esloveno a actuar nos EUA era o capitão Goran Dragic, pelos Miami Heat, e que neste Europeu terá feito a despedida da selecção.
O percurso da Eslovénia no Eurobasket superou todas as expectativas e provocou uma corrida aos passaportes no país de pouco mais de dois milhões de habitantes, com aproximadamente a área do Alentejo. Segundo a televisão pública RTV SLO, várias centenas de pedidos de emissão urgente de passaportes foram feitos depois de a selecção bater a Espanha na meia-final (92-72) e garantir a presença na final. Foram preenchidos 11 voos e muita gente fez os 1500 quilómetros até Istambul, onde se realizou a fase final do torneio, de autocarro e automóvel.
Depois de um triunfo sobre a campeã Espanha – que até a Kokoskov deixou “sem palavras”, confessaria o técnico – a decisão do troféu foi um teste à resistência cardíaca dos adeptos. Apesar de vencer por 56-47 ao intervalo, a Eslovénia perdeu Doncic, por lesão, no terceiro período. Dragic também teve problemas físicos e teve de parar no derradeiro período do encontro, saindo a coxear mas nunca deixando de incentivar os companheiros na linha lateral.
Com pouco mais de três minutos e meio para jogar, a Sérvia chegou a passar para a frente do marcador (80-82), mas os eslovenos não se renderam e garantiram o título. Apesar da saída prematura, Dragic brilhou acumulando 35 pontos, sete ressaltos e três assistências. “Os meus companheiros de equipa, os técnicos, todos ajudaram. Este é um desporto colectivo e estou muito orgulhoso dos meus companheiros. É um sentimento inacreditável”, confessou o basquetebolista de 31 anos.
Foi uma passagem de testemunho na selecção eslovena. O futuro pertence a Luka Doncic, que aos 18 anos já igualou a altura do pai, será quase certamente uma das primeiras escolhas no draft da NBA em 2018. “Está sempre no controlo, consegue suster pressão forte sobre a bola, é activo nos ressaltos e antecipa-se bem na defesa. Doncic ajuda os companheiros de equipa a serem melhores e é óptimo a fazê-lo. É muito maduro fisicamente, assim como o seu jogo”, escreveu a revista norte-americana Sports Illustrated. E o miúdo-gigante ainda agora começou.