Portugal está no clube dos países mais ricos em termos de esperança de vida

Global Burden of Disease 2016 aponta ganhos “acima do expectável” que a existência de um bom SNS pode ajudar a explicar.

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Esperança média de vida dos portugueses aumentou José Sarmento Matos

A esperança de vida em Portugal está “consideravelmente acima do que seria expectável para o nível sócio-económico do país”, conclui o estudo Global Burden of Disease 2016, que será publicado no próximo número da revista The Lancet e que avaliou o desempenho de 195 países em termos de mortalidade, esperança média de vida, causas de incapacidade e factores de risco, num total de 330 indicadores.

Na média dos países analisados, que abarcam uma população de cerca de 200 milhões de pessoas, a esperança de vida à nascença situa-se nos 75.3 anos para as mulheres e nos 69.8 anos para os homens. O Japão mantem-se como campeão da longevidade, com uma esperança de vida média para homens e mulheres de 83.9 anos. No extremo oposto situa-se a República Centro-Africana onde homens e mulheres têm uma esperança de vida à nascença que não vai além dos 50.2 anos.

Por seu turno, Portugal integra (a par da Etiópia, do Nepal, da Nigéria, do Peru e das Maldivas) um conjunto de países que, no que toca a este indicador, registaram ganhos consideráveis, “muito para lá do que seria expectável considerando o nível de desenvolvimento”, lê-se no estudo. À nascença, as portuguesas têm uma esperança média de vida de 84 anos, contra os 77.8 dos portugueses, especifica ainda o estudo. “Portugal desvia-se da habitual correlação entre o índice de desenvolvimento sócio-demográfico, em cujo ranking não estamos muito bem, e a esperança média de vida, onde nos aproximamos muito do líder mundial, o Japão, onde as mulheres já podem contar viver até aos 86.9 anos. Daí a surpresa dos colaboradores”, comenta José das Neves, investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S, no Porto) que colaborou neste estudo compilando e tratando os dados nacionais.

Quem, como o investigador, conheça mais detalhadamente a realidade portuguesa não terá grandes dificuldades em explicar este “desvio” português. “Além de termos um Serviço Nacional de Saúde muito bem cotado, há condicionantes que se traduzem num bom nível de vida: somos um país seguro, não temos catástrofes naturais nem conflitos…”, enumera José das Neves.

Confrontado com o facto de os portugueses tenderem a viver cada vez mais anos mas não necessariamente com saúde – a Direcção-Geral de Saúde ainda há meses se debatia com o recuo registado na esperança de vida saudável aos 65 anos -, o investigador atribui a perda de anos vida saudável após os 65 aos “erros do passado”. Dito de outro modo, “um indivíduo que teve maus hábitos durante toda a vida, sente as repercussões disso na saúde, quando atinge idades mais avançadas”, observa, preferindo salientar o “salto de gigante” que o país deu desde a década de 70, altura em que a esperança média de vida à nascença não ia além dos 67 anos: “Em meio século, aumentámos a esperança média de vida à nascença em mais de dez anos.”

Apesar destes ganhos, há áreas em que o desempenho português está “aquém do desejável” neste GBD. “Temos ainda muito a fazer nalgumas doenças e factores de risco, em que aparecemos na cauda dos países desenvolvidos”. Dito de forma mais clara, a diabetes, as doenças cardíacas e o VIH matam mais do que deveriam. “O tabagismo e o consumo de álcool, cujo consumo tende a ser banalizado e inclusive correlacionado com ganhos em saúde de forma errada", surgem também, por seu lado, "como preocupantes no que aos factores de risco diz respeito”, acrescenta o investigador do I3S. 

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