Harvard retira convite a Chelsea Manning para ser professora convidada

Director da CIA criticou a universidade pelo estatuto dado à antiga soldado que em 2010 forneceu ao WikiLeaks 700.000 documentos confidenciais da diplomacia norte-americana.

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Reuters/HANDOUT

A Universidade de Harvard retirou o convite a Chelsea Manning, a ex-soldado norte-americana acusada de entregar informações confidenciais ao portal WikiLeaks, para dar aulas na instituição de ensino sobre a identidade da comunidade homossexual e transexual no Exército norte-americano. A decisão surge depois de o director da CIA, Mike Pompeo, cancelar uma visita à universidade e de Michael Morell (antigo director adjunto da CIA) cortar as suas relações com a instituição.

Mike Pompeo ia discursar em Harvard sobre segurança global. Porém, acabou por cancelar a sua palestra, por considerar que o convite feito a Manning era “um selo de aprovação vergonhoso” às suas acções. Numa carta endereçada à instituição, Pompeo refere-se a Manning como “um traidor americano”, afirmando que não pode comparecer na universidade, pois isso significaria que apoiava a decisão da instituição em convidar o antigo soldado.

“A minha consciência e dever para com todos os homens e mulheres da CIA não me permite que traia a sua confiança ao aparecer e apoiar a decisão de Harvard com a minha presença no evento desta noite”, lê-se na carta enviada ao director do programa de Serviços Secretos e Defesa do Centro de Belfer, Rolf Mowatt-Larssen.

Michael Pompeo afirma que Manning colocou várias vidas em risco depois de divulgar informações confidenciais ao portal WikiLeaks: “Muitos oficiais dos serviços secretos e militares acreditam que as informações divulgadas colocaram em risco a vida dos patrióticos homens e mulheres da CIA.”

Depois das críticas por ter convidado Manning para leccionar na Universidade de Harvard, a instituição retirou o convite à ex-soldado, dizendo ter sido “um erro”. Em comunicado divulgado no site da universidade, o reitor declara: “Ter Chelsea Manning como professora convidada foi um erro, pelo qual assumo a responsabilidade.

“Apercebo-me agora que algumas pessoas consideram o título de professor convidado como honorífico, e, por isso, temos de o ter em consideração quando fazemos os convites”, admitiu Douglas W. Elmendorf. Contudo, o director da instituição ressalva que na universidade não se considera a designação uma honra especial. “É uma maneira de referir algumas pessoas que passam mais do que algumas horas [em Harvard]”, explica.

“Peço-lhe desculpa [a Manning] e a todas as pessoas que se mostraram preocupadas por não ter a percepção das implicações do convite inicial”, referiu. Apesar disso, Douglas W. Elmendorf mantém o convite para que Chelsea passe um dia na instituição para que possa falar com os alunos.

Chelsea Manning já reagiu à decisão de Harvard, dizendo: “Sinto-me honrada por ter sido a primeira mulher transexual a ser desconvidada.”

Contudo, Pompeo não foi o único a cancelar a sua presença em Harvard após anunciarem ser Chelsea professora convidada. O antigo director adjunto da CIA Michael Morell resignou ao seu título de membro sénior daquela instituição. Numa nota divulgada no Twitter, Michael Morell afirma que não pode pertencer a uma instituição “que honre um criminoso que expôs informação confidencial”.

Para o antigo director adjunto da CIA, o convite feito a Manning é “uma decisão que a vai ajudar no seu esforço de legitimar o percurso criminoso que assumiu”. Michael Morell considera ainda que a presença de Manning em Harvard pode encorajar outras pessoas a divulgarem informações confidenciais.

Apesar de discordarem do convite feito por Harvard a Chelsea Manning, Pompeo e Morell, ressalvam que a sua decisão não se relaciona com o facto de esta ser transexual.

“Apoio os direitos de Manning enquanto transexual, incluindo o direito de servir o nosso país no Exército dos Estados Unidos”, concluiu Morell.

Em 2010, enquanto era analista dos serviços de informação militares dos Estados Unidos, Manning divulgou mais de 700.000 documentos confidenciais ao portal WikiLeaks, relativos às guerras do Iraque e do Afeganistão. Condenada a 35 anos de prisão, a ex-soldado foi libertada em Maio deste ano, depois de o antigo Presidente dos Estados Unidos Barack Obama lhe conceder o perdão presidencial.

Entre as informações divulgadas por Manning estão documentos que pormenorizam a forma como o Vaticano encobria casos de abuso sexual na Irlanda, relatórios militares atestando que o número de vítimas civis na guerra do Iraque era maior do que as estimativas oficiais e as tentativas dos Estados Unidos para que Espanha limitasse os inquéritos relativos às torturas em Guantánamo.

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