Há mais um edifício a ser construído junto a Castelo do Bode com canos a despejarem para a albufeira

Para o lugar ocupado por uma estrutura em ruínas, com cerca de 20 metros quadrados, foi licenciada a construção de um edifício de três pisos que ocupa 540 metros quadrados.

Foto
pedro cunha

Apesar das interdições impostas pelo Plano de Ordenamento da Albufeira de Castelo do Bode (POACB), continua a ser permitida, pelas autoridades competentes, a construção de edifícios que “colocam em risco a qualidade da água” que abastece Lisboa, denuncia a Quercus, através de comunicado. O caso mais recente é o de um edifício habitacional de três pisos no concelho de Vila de Rei, a menos de 50 metros da albufeira, no domínio público hídrico e em área de Reserva Ecológica Nacional (REN), que já se encontra em fase de construção.

Através de fotografias de satélite do local verifica-se que a obra está prevista para um espaço ocupado por uma pequena ruína que ocupa cerca de 20 metros quadrados de área. Os ambientalistas realçam a incoerência do projecto, depois de terem consultado o processo "nos serviços da autarquia. “O proprietário fundamentou o pedido de licenciamento invocando a pré-existência de uma edificação antiga naquele local”, com área de implantação de 137 metros quadrados. Contudo, a construção licenciada ocupa 540 metros quadrados, “quando o POACB só permite uma ampliação de 25 metros quadrados, à construção já existente", salientam os ambientalistas.

A alteração traduz-se no licenciamento de um “enorme edifício” de três pisos que a Quercus considera “inadmissível”. A organização ambientalista constatou ainda “a abertura de uma vala até ao plano de água, com movimentação de terras e abate de árvores, onde foram enterrados quatro tubos de PVC com comunicação à albufeira e, pelo menos um deles servirá para descarga de esgotos domésticos da fossa séptica construída na zona reservada interdita”, assinala. E recorda que na zona reservada do POACB, conforme descreve a Resolução do Conselho de Ministros n.º 69/2003, de 10 de Maio, “não são permitidas novas construções ou grandes ampliações”.

A obra, prossegue a Quercus está a decorrer “na zona de Malhadas, próximo de Fernandaires”, no concelho de Vila de Rei. Na planta síntese de ordenamento do POACB, a área insere-se em “Zona de Protecção, Uso Florestal, Zonas de Proteção e Valorização Ambiental”, em plena Reserva Ecológica Nacional (REN), “nas tipologias “Albufeiras/Faixa de protecção/Contígua à margem”, “Áreas estratégicas de protecção e recarga de aquíferos” e “Áreas de elevado risco de erosão hídrica do solo”, realçam os ambientalistas. E referem que a situação já foi denunciada ao Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA-GNR), à Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT), à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e à Câmara Municipal de Vila de Rei. Entretanto, a Quercus solicitou ainda o “embargo da obra à autarquia e à APA mas as obras de construção continuaram”.

A Câmara Municipal de Vila de Rei respondeu à Quercus que a obra “se encontra licenciada” com base na consulta prévia que fez à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR Centro), à Administração da Região Hidrográfica do Tejo (ARH Tejo) e à APA. A ARH Tejo e a CCDR Centro, após parecer prévio desfavorável, “emitiram parecer favorável”, referem os ambientalistas, acrescentando que a APA “não emitiu parecer dentro do prazo legalmente estipulado, o que configura deferimento tácito”, assinalam.

A Quercus considera “inaceitável que sejam permitidas reconstruções de ruínas para edifícios de habitação junto da albufeira de Castelo do Bode devido ao risco de contaminação das suas águas”.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários