Há um exoplaneta que tem titânio no "céu"
Equipa internacional de cientistas detectou pela primeira vez óxido de titânio na atmosfera de um exoplaneta.
Há quem lhe chame Inferno ou, simplesmente, um “Júpiter Quente”, mas o nome correcto (e menos apelativo) é WASP-19b. É um exoplaneta com massa semelhante à de Júpiter, muito próximo da sua estrela, orbitando-a em menos de 10 dias, e onde a temperatura ronda os 2000 graus Célsius. Agora, é um lugar mais especial no espaço porque se percebeu que a sua atmosfera tem pequenas quantidades de óxido de titânio, que nunca tinha sido detectado antes no “céu” de um exoplaneta.
A descoberta, descrita num artigo da revista científica Nature publicado esta quarta-feira, envolveu uma equipa internacional que inclui o iraniano Mahmoudreza Oshagh, um astrofísico que trabalha no Instituto de Astrofísica da Universidade Georg-August, na Alemanha, e colabora com o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço da Universidade do Porto.
Wasp-19b está situado na constelação Vela, no Hemisfério Sul, a 815 anos-luz de distância da Terra. Mais do que estarmos perante a primeira vez que é detectado óxido de titânio na atmosfera de um exoplaneta, é a primeira vez que os cientistas encontram um elemento (químico) pesado na atmosfera. O facto de se tratar de óxido de titânio é importante para compreendermos este exoplaneta muito quente, com uma massa semelhante à de Júpiter. “Quando presente na atmosfera de um “Júpiter Quente”, o óxido de titânio funciona como absorvedor de calor. Se existir em grandes quantidades, esta molécula impede o calor de entrar ou escapar da atmosfera, levando a uma inversão térmica, isto é, a atmosfera superior será mais quente que a inferior. A molécula de Ozono (O3) desempenha um papel semelhante na atmosfera da Terra”, explica o comunicado do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. O óxido de titânio (TiO) é raro no nosso planeta e, tanto quanto se sabe, existirá na atmosfera das chamadas “estrelas frias”.
Conseguir detectar estas pequenas moléculas na atmosfera de um exoplaneta não é uma tarefa simples. “Não só exige informações de uma qualidade excepcional, mas também é preciso ser-se capaz de fazer uma análise sofisticada. Usámos um algoritmo que explora muitos milhões de espectros abrangendo uma ampla gama de composições químicas, temperaturas e propriedades da nuvem ou da névoa para chegar até às nossas conclusões ", diz Elyar Sedaghati, cientista do Observatório Europeu do Sul (ESO) e do Centro de Astronomia e Astrofísica em Berlim, na Alemanha, que liderou este trabalho, num comunicado do ESO sobre o estudo.
A equipa de astrofísicos usou o instrumento FORS2, acoplado ao Very Large Telescope (VLT) do ESO, para observar três trânsitos do planeta. Quando o WASP-19b passa em frente à sua estrela, uma parte da radiação é absorvida pela atmosfera, deixando a sua marca no espectro da estrela. “A equipa conseguiu assim analisar o espectro da estrela para detectar pequenas quantidades de óxido de titânio, água e vestígios de sódio na atmosfera do WASP-19b, além de uma forte neblina que cobre todo o planeta”, refere o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. Os cientistas reuniram observações feitas ao longo de mais de um ano.
“Esta importante descoberta é o resultado de uma remodelação do instrumento FORS2, feita exactamente para este efeito,” acrescenta o membro da equipa Henri Boffin (ESO), que liderou o projecto de melhoria do instrumento. O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço adianta ainda que há novos instrumentos, como o espectrógrafo Espresso - que ficará totalmente funcional em Novembro deste ano – que também vão permitir estudar atmosferas de exoplanetas com grande precisão.