O “inferno” de chuva e vento desabou sobre a Florida

O furacão Irma chegou aos EUA com toda a força. Com ele vieram ventos fortíssimos, chuvas intermináveis, tornados e muita destruição. Mais de 127 mil pessoas foram recebidas em abrigos temporários.

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As fortes chuvas inundaram toda a zona baixa de Miami EPA/ERIK S. LESSER

A baixa de Miami era este domingo um lago gigante pontuado por arranha-céus, horas depois de o furacão Irma ter chegado à Florida. A precipitação era em média superior a cinco centímetros por hora e registaram-se várias inundações. O estado que se tinha mobilizado nos dias anteriores para a maior evacuação da história dos EUA enfrentou tornados, cortes de estradas, falhas de electricidade, inundações e pelo menos uma morte.

“Parece que um gigante pegou na minha casa e abanou-a”, dizia uma moradora em Boca Raton, uma estância balnear a norte de Miami. Uma das principais dificuldades durante o dia foi o falhanço dos sistemas de comunicação. O ex-director dos serviços de emergência da Florida, David Halstead, declarava ainda de manhã que o estado acabava de entrar “no lado negro da lua”, em que não era possível saber ao certo o que estaria a acontecer nos locais por onde o Irma passava.

Durante a tarde, quando o olho do furacão estava prestes a atravessar a cidade de Tampa, na costa ocidental, o mayor preparava a população para o pior. “Estamos prestes a ter a nossa própria versão daquilo que é o inferno”, disse Bob Buckhorn. O “inferno” repetiu-se por todo o sudoeste da Florida – horas intermináveis de ventos muito fortes, tornados e chuvas impiedosas.

Apesar de o pior só ter começado a chegar às primeiras horas da manhã (hora do almoço em Portugal), a noite já foi de tempestade para os habitantes das ilhas e de Miami, com relatos de inundações, ventos fortes e precipitação muito elevada em toda a zona Sul do estado. As Florida Keys, o arquipélago de centenas de ilhas na ponta Sul do estado, foram as primeiras a sentir a força do Irma que trouxe consigo ventos na ordem dos 210 km/h – iniciando a sua travessia dos EUA como um furacão de categoria 4, o segundo nível mais grave na escala de Saffir-Simpson.

A US-1, a auto-estrada que liga as ilhas ao continente, foi rapidamente inundada pela subida da água do mar e a meio da manhã a precipitação nas Keys era superior a 30 centímetros, deixando o arquipélago praticamente abaixo da linha média da água do mar. Foi nesta região que se registou a primeira morte causada pela chegada do Irma – um homem morreu num acidente que envolveu uma carrinha.

O estado passou os últimos dias a mobilizar-se para a chegada do furacão que já tinha deixado um rasto de destruição por várias ilhas das Caraíbas, naquela que foi a maior evacuação da História dos EUA. Mais de 6,5 milhões de pessoas – um terço da população da Florida – receberam instruções para abandonar as suas casas e dirigirem-se para abrigos ou casas de parentes ou amigos em locais mais seguros. Os abrigos espalhados pelo estado receberam mais de 127 mil pessoas.

O governador Rick Scott voltou a passar o dia em aparições televisivas, mas ao contrário dos dias anteriores, o objectivo era agora o de simplesmente tentar acalmar a população. “Levem esta tempestade mortífera a sério, permaneçam seguros. Rezem”, pediu.

Os ventos fortes permitiram a formação de vários tornados ao longo do centro e do sul da Florida e de rajadas de vento com velocidades superiores a 160 km/h que derrubaram árvores, postes de electricidade e pelo menos uma grua da construção civil. A meio da tarde o Irma desceu à categoria 3, mas as autoridades do Centro Nacional de Furacões mantiveram os avisos, alertando que “irá continuar a ser um furacão poderoso enquanto se movimenta ao longo da costa ocidental da Florida”.

Blackout para 1,7 milhões

Mais de 1,7 milhões de casas ficaram sem electricidade, revelou a FPL, que detém a maior rede de distribuição do estado. A empresa tinha previsto que mais de quatro milhões dos seus clientes seriam afectados, mas o principal problema será o tempo até que as partes da rede destruídas voltem a ser repostas. “Esse processo de restauração será medido em semanas, não em dias”, disse o porta-voz Rob Gould, durante uma conferência de imprensa, citado pela Reuters.

O Irma, que chega aos EUA alguns dias depois de o Harvey ter provocado inundações sem precedentes no estado do Texas, poderá causar estragos superiores aos do Andrew, que em 1992 devastou partes da Florida, o terceiro estado mais populoso dos EUA, responsável por cerca de 5% do PIB nacional. 

Para evitar o pior, mais de seis milhões de pessoas receberam ordem para abandonar cidades inteiras, mas sábado ao final do dia as autoridades avisavam já que era tarde para os que ainda estavam na zona se fazerem à estrada – ao invés disso deveriam procurar refúgio nas centenas de abrigos abertos pelo estado. O jornal Tampa Bay Times estima que o estado da Florida já tenha gasto 77 milhões de dólares (63 milhões de euros) só com os preparativos para o furacão.

Dezenas de milhares de elementos da Guarda Nacional foram enviados para a Florida para apoiar os esforços de reconstrução, embora se espere que o Irma perca intensidade apenas durante a madrugada de terça-feira, quando descer à categoria 1. Apesar da descida de intensidade, não se prevê que o rasto de destruição se fique pela Florida. À medida que o Irma continue a progredir para norte do território norte-americano, as autoridades prevêem que 45 milhões de pessoas de mais cinco estados estejam em risco, perante ventos com velocidades superiores a 60 km/h.

Na perspectiva de se preparar para o impacto do Irma à medida que ruma a norte, o governador da Georgia, Nathan Deal, declarou o estado de emergência em todo o território. Esta segunda-feira são esperadas chuvas e ventos muito fortes e há grande probabilidade de haver inundações, diz a CNN.

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