China diz aceitar "medidas adicionais" contra a Coreia do Norte
Proposta de resolução entregue pelos EUA na ONU prevê embargo total à venda de petróleo a Pyongyang, uma medida que promete ter a oposição de Pequim.
O Governo chinês concorda que o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve adoptar novas medidas em resposta ao sexto ensaio nuclear da Coreia do Norte, desde que haja um esforço simultâneo para reiniciar o diálogo com Pyongyang. Uma posição assumida depois de os Estados Unidos terem posto a circular uma proposta de resolução que inclui um embargo à venda de petróleo e o congelamento dos bens de Kim Jong-un no estrangeiro.
Movimentações a que o regime norte-coreano reagiu com a já habitual retórica. “Iremos responder à bárbara conspiração em torno das sanções e da pressão dos Estados Unidos com as nossas poderosas medidas de retaliação”, lê-se num comunicado divulgado pela delegação de Pyongyang enviada a Vladivostok, no extremo da Rússia, onde decorre um fórum económico regional presidido pelo Presidente Vladimir Putin.
Na mesma altura, e sob pressão da opinião pública alarmada com a sucessão de ensaios balísticos e nucleares do país vizinho, o Exército sul-coreano concluiu a instalação do sistema de defesa antimíssil THAAD, o que levou a China (que vê o seu território abrangido pelo potente radar do sistema) a emitir um novo protesto contra Seul. Segundo a Reuters, os quatro lançadores de mísseis que restavam foram colocados esta quinta-feira num antigo campo de golfe a sul da capital, mas só depois de milhares de policiais terem conseguido furar o bloqueio ao local de cerca de 300 activistas e habitantes locais.
“Tendo em conta os novos desenvolvimentos na Península Coreana, a China concorda que o Conselho de Segurança deve adoptar novas respostas e adoptar medidas adicionais”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, sem especificar quais os passos que Pequim está disposta a aceitar. Wang Yi reafirmou, ainda assim, aquela que tem sido a posição de partida do Governo chinês: as sanções são apenas parte da solução e devem ser combinadas com esforços claros para convencer o regime norte-coreano a regressar à mesa das negociações.
Sanções sem precedentes
Um caminho improvável se vierem a ser adoptadas as medidas incluídas na proposta de resolução posta a circular quarta-feira pelos EUA e a que a Reuters teve acesso.
O texto endurece algumas das iniciativas já incluídas na última ronda de sanções, aprovadas depois de a Coreia do Norte ter testado dois mísseis de longo alcance, e prevê acções em novas áreas, incluindo a proibição de emissão de vistos, o congelamento dos bens no estrangeiro de Kim Jong-un e outros quatro dirigentes norte-coreanos, bem como os pertencentes ao Partido dos Trabalhadores da Coreia, ao governo do país e à companhia aérea Air Koryo, detida pela ala militar do regime.
Prevê igualmente um embargo às exportações de têxteis norte-coreanos que são, depois do carvão e outros minerais, as mais lucrativas vendas do país ao exterior, 80% das quais têm como destino a China. Da mesma forma, prevê um embargo total à venda de crude, produtos petrolíferos refinados e gás natural ao país – uma proposta a que tanto a China e a Rússia, os principais fornecedores de combustível ao país, se opõem, considerando que isso iria provocar uma enorme desestabilização da Coreia do Norte.
Estão ainda previstas restrições adicionais às exportações norte-coreanas de carvão (um dos principais alvos das sanções adoptadas em Agosto) e uma proibição total da contratação de trabalhadores norte-coreanos em países estrangeiros – os seus salários são uma importante fonte de moeda estrangeira para Pyongyang.
A embaixadora norte-americana, Nikki Haley, disse querer que a proposta de resolução seja aprovada na próxima segunda-feira, mas o seu congénere russo, Vassili Nebenzia, já considerou a data “um pouco prematura”. Face à resistência de russos e chineses, o secretário do Tesouro norte-americano, Steve Mnuchin, afirmou que a ONU tem já pronta um decreto para o Presidente Donald Trump assinar prevendo sanções contra os países com relações comerciais com a Coreia do Norte, para o caso de não haver um consenso na ONU. “Vai autorizar-me a deixar de fazer comércio e a impor sanções a quem quer que negoceie com a Coreia do Norte”, afirmou.