A virtude de Merkel

Merkel funciona como um pólo agregador. O líder do SPD não vai ter tarefa fácil, nem hoje em frente às câmaras nem nas urnas daqui a três semanas.

Na Alemanha, o centrão pertence a Angela Merkel. É por isso que vai ganhar as eleições que se realizam no final do mês, confirmando a quarta reeleição como chanceler. Aquela que foi, durante a crise económica, a mulher mais odiada do sul da Europa tem a extraordinária capacidade de se reinventar e de se manter interessante – como comprova uma recente sondagem que lhe dá 57% das preferências dos eleitores entre os 18 e os 21 anos. A Alemanha tem hoje valores que Merkel representa muito bem, e nesse sentido é exactamente como Helmut Kohl: uma líder do seu tempo, em sintonia com a nação.

Merkel funciona como um pólo agregador que consegue apresentar até duas posições sobre a mesma matéria, fazendo o pleno de quem procura posições moderadas. Foi assim com o casamento homossexual, em que deu liberdade de voto para permitir a passagem da lei mas assumiu pessoalmente o voto contra; igualmente com o fim do serviço militar obrigatório; também com as políticas de família; foi ainda assim com o nuclear, em que mudou de posição esvaziando politicamente os Verdes. Schäuble é o melhor trunfo para garantir a estabilidade das finanças e a solidez da economia, que continua a ser uma excepção na Europa.

Só com a imigração na Europa tomou uma posição clara, permitindo roubar votos e causas aos sociais-democratas, mas dando o flanco aos extremistas. Por isso é que a disputa mais interessante parece ser à direita da CDU, onde os neo-fascistas estão a crescer à custa da direita liberal. Ambos têm disputado o mesmo terreno, com propostas anti-imigração e contra o apoio aos países do sul da Europa. Esta deriva dos liberais pode ser perigosa, abrindo espaço a duas forças populistas que disputam o terreno da demagogia e na prática deixando à chanceler toda a representação democrática do centro-direita.

Já o líder do centro-esquerda foi incapaz de se apresentar como alternativa. Depois de abandonar a liderança do Parlamento Europeu, Martin Schultz ainda conseguiu liderar as sondagens por um breve período, mas nunca conseguiu justificar porque é que é parceiro numa coligação governamental com um partido de quem diz ser muito diferente. Hoje, no único debate televisivo, Schultz tem um duplo problema: apresentar-se suficientemente distante de Merkel para merecer votos, sem nunca mostrar o pouco que o separa dela. O seu programa é demasiado parecido com o da chanceler e, para fazer mais do mesmo, mais vale quem já lá está. O líder do SPD não vai ter tarefa fácil, nem hoje em frente às câmaras nem nas urnas daqui a três semanas.

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