Os ritmos de Tony Allen e Nina Kraviz no Jardim Sonoro que é o Lisb-On
O festival que revelou uma clareira no verde do Parque Eduardo VII, em Lisboa, regressa para a quarta edição. Música de dança, da electrónica ao afrobeat, para fruir sobre a relva, tarde fora até ao início da noite
Em 2014, descobriu-se uma clareira no verde do Parque Eduardo VII, em Lisboa. Nas costas do Marquês, uma zona de arvoredo e relva e, no seu interior, espaço aberto para aquilo que nos foi então revelado: um novo festival, centrado na diversidade das electrónicas, da música dita de dança e suas múltiplas derivações, para ser vivido em horário pouco habitual em festivais de Verão, habitualmente iniciados a meio da tarde e prolongados até próximo do raiar do dia seguinte (ou depois disso).
No Lisb-On, ouvimos ao longo das três edições anteriores Dâm-Funk, Roy Ayers, Nicolas Jaar ou Azymuth, e vamos ouvir entre esta sexta-feira e sábado Tony Allen, Nina Kraviz, Sven Vath ou DJ Koze. Ouvimo-los, entre a dança e a relva, ou seja, deitados nas mantas como em bom piquenique (não é por acaso que o Lisb-On se define como Jardim Sonoro), em matinée iniciada às 14h e com as últimas actuações marcadas, no máximo, para as 22h.
Na edição deste ano, a principal novidade é a existência, com excepção do dia abertura, de um segundo palco funcionando em simultâneo com o principal, o que facilitará o maior aproveitamento do espaço sem que o público perca a música de vista. Será neste segundo palco que ouviremos, por exemplo, De Los Miedos & Nomad, sábado às 22h, cruzarem a electrónica de hoje com as músicas que, diggers empenhados, garimparam mundo fora, da África, à América do Sul e ao Médio Oriente – entre os outros nomes que por ali passarão está Novo Major, ou seja, José Moura, co-fundador da loja de discos Flur e da editora Príncipe Discos, incansável divulgador gira-disquista de toda a música de dança exploratória (sábado, 20h30), ou os DJ sedeados em Berlim Nicolas Lutz (domingo, 18h30) e Maayan Nidam (domingo, 20h). Além destes encontramos em cartaz, sábado, Lerosa, Tako, João Tenreiro e Troll2000, e ainda, no domingo, Mary B, Zoy e Zé Salvador.
Num equilíbrio entre históricos incontestáveis e nomes dos quais se faz o presente, destaca-se na programação do Lisb-On Tony Allen (sábado, 17h45), o lendário baterista que, juntamente com Fela Kuti, criou o afrobeat na Lagos da década de 1970, oferecendo ao mundo um dos ritmos mais influentes e disseminados na música criada desde então – e dir-se-ia até que está hoje mais presente do que nunca na consciência criativa. Nota também para Kiasmos, grupo que reúne o compositor islandês Ólafur Arnalds e Janus Rasmussen, nascido nas Ilhas Feroé e fundador dos Bloodgroup. Esta sexta-feira, às 19h45, ouviremos música onde secção de cordas e piano contemplativo se complementam com paisagens desenhadas com matéria electrónica.
Quando os Kiasmos subirem a palco, já teremos apreciado a Space Machine da Red Bull Music Academy (responsável pela programação do primeiro dia), que reúne músicos portugueses com passagem pela academia (Rui Gato, Papercutz, MMMOOONNNOOO, Ghost Wavvves, Jorge Caiado, GPU Panic e Bruno Mushug, dos Octa Push), e já teremos viajado pelo universo fantástico, entre luxúria ítalo-disco, psicadelismo em sintetizador e sons do cinema de terror clássico, de Etienne Jaumet, metade do duo francês Zombie Zombie. Quando os Kiasmos terminarem o concerto, aguardaremos a chegada de Sven Vath, nome histórico do techno alemão, com carreira longa construída desde os anos 1980.
Sábado, o Lisb-On acolhe Nina Kraviz (21h15), naquele que é um regresso ao festival da cantora, compositora, produtora e DJ russa, a austríaca Cassy (19h20), Amp Fiddler, o histórico músico e produtor cujo percurso se cruza com os Parliament, J Dilla ou Prince (18h30), Francisco Coelho (15h) e Ramboiage (14h).
Domingo, no encerramento, actuarão, além dos já referidos, DJ Koze (21h) e Motor City Drum Ensemble (19h). O primeiro é nome de referência do tecno alemão, o segundo, o projecto atrás do qual se esconde Danilo Plessow, nascido em Estugarda, e um apaixonado investigador e recontextualizador dos ritmos do jazz e do tecno original, o de Detroit. O cartaz no palco principal completa-se com Mike Stellar (14h), Nick Craddock (16h) e Move D (17h).
Os bilhetes para o festival custam 55 euros (passe geral), 45 euros (sábado + domingo) e 25 euros (bilhete diário). Com acompanhamento dos respectivos encarregados de educação, a entrada é gratuita até aos 14 anos (inclusive).