Narcos está de volta e agora o inimigo é o cartel de Cali
Pedro Pascal, o agente da DEA de Narcos – e o príncipe Oberyn de A Guerra dos Tronos –, enfrenta um novo inimigo, com rosto português, na terceira vida da série, que esta sexta-feira regressa ao Netflix. Pêpê Rapazote “vai ganhar a temporada”, diz ao PÚBLICO.
Quando uma série se torna o termo de comparação para outras, é porque atingiu um certo estatuto. E, logo à segunda temporada, Narcos já era esse fenómeno que fazia com que os outros dramas sobre tráfico de droga, cartéis e crimes fossem (ou não...) “o novo Narcos”; a certa altura, pareceu mesmo ser a série mais popular do Netflix – um recorde impossível de aferir, uma vez que o serviço de streaming não revela os seus números. Depois de ter-se focado em Pablo Escobar, o mítico barão da droga colombiano que montou o seu império a partir de Medellín, a série volta-se agora para o poderoso cartel de Cali, que emergiu no final dos anos 1980 para controlar, com a sua violência e a sua rede internacional de espiões e subornos, grande parte do tráfico de cocaína do mundo.
À terceira temporada, morto que está Pablo Escobar, a personagem Javier Peña, operacional da agência federal norte-americana de combate às drogas (DEA), torna-se ainda mais central. “Nunca deixei que a [minha] personagem fosse alguém que acredita numa versão clara do que é certo e errado”, diz Pedro Pascal ao PÚBLICO, por telefone. O actor sublinha que a circunstância de a série ser filmada na Colômbia, com a colaboração de "tantos colombianos que viveram" pessoalmente esta história, é um poderoso factor de "imersão" que dá mais camadas à ficção criada por Chris Brancato, Carlo Bernard e Doug Miro.
Na terceira temporada que esta sexta-feira se inicia, Narcos recebe pela primeira vez um português, Pepê Rapazote. Sobre ele, sobre o tráfico e sobre a outra série que o tornou conhecido, Pascal fala com o PÚBLICO.
Nesta temporada de Narcos, o foco é o cartel de Cali. De que forma é que a série mudará, e com ela o rumo da sua personagem?
O cartel de Cali foi introduzido gradualmente nas primeiras duas temporadas e agora torna-se central. É um inimigo completamente diferente. Contrasta com o império de Escobar em quase tudo. Os seus membros estão muito integrados na sociedade, têm mãos em todos os bolsos e, no papel, são empresários respeitados. Com mais poder, mais alcance e mais dinheiro. Por isso, [agora] não se trata de um rei espalhafatoso, mas mais de um grupo de homens que controlam todas as facetas do império. É preciso descobrir formas completamente novas de combater este adversário.
Para além do que via nos jornais, o que sabia sobre o mundo dos cartéis antes de começar a trabalhar na série?
Não fiz grande pesquisa. A minha família é chilena, o meu pai é médico e tem muitos amigos e colegas sul-americanos. Fomos a Bogotá em 1989, no pico da era Escobar. No que toca à familiaridade com Pablo Escobar, a minha experiência não é a típica experiência de um americano da altura. E é algo único, o que eu vivi então: andávamos com a família que estávamos a visitar e eles tinham guarda-costas e carros com vidros à prova de bala – o que era estranho era quão normal tudo era! Obviamente, era uma coisa completamente fora do reino da minha experiência, mas que ao mesmo tempo fazia parte de uma certa normalidade. Claro que perguntava coisas ao meu pai e ele me respondia...
Uma dos aspectos intrigantes do fenómeno Narcos é a forma como atrai a atenção dos próprios envolvidos – o filho de Pablo Escobar fala e critica a série, como se ela fosse uma parte do legado e da fama do pai. Que é, de certa forma. Como é que isso afecta a produção?
Não afecta a produção de forma alguma. Não houve, em primeiro lugar, qualquer elemento de perigo, e em segundo lugar afastaram-nos completamente disso. No meu caso, acho que provavelmente não quereria saber. Tinha um trabalho para fazer e a minha experiência a filmar e a viver na Colômbia foi tão positiva, normal e rica… Todos os países sul-americanos são diferentes entre si, mas há algo em comum na cultura latino-americana, um fio condutor, e houve muitas coisas que me fizeram sentir em casa. Houve sempre um enorme contraste com a história que estamos a contar: foi uma experiência muito familiar, para mim era como se esses mundos [o dos cartéis e o da sociedade colombiana] fossem opostos.
Nesta temporada, receberam o actor português Pêpê Rapazote. O que pode dizer sobre a personagem dele e a experiência de trabalho que tiveram?
Ah, ele é incrível. Digo-vos já que ele vai ganhar a temporada. É muito, muito poderoso. [José] Chepe SantaCruz [Londoño], o quarto padrinho do cartel de Cali, é o nosso novo trunfo.
É inevitável falar-lhe de A Guerra dos Tronos, a série em que, como Oberyn Martell, também foi um trunfo na sua quarta temporada e que o tornou tão mais conhecido. Que paralelos vê entre estas duas histórias, uma fantasia medieval e um período real da história recente?
Tantos, especialmente depois do dia que tive hoje. Fui a um programa de rádio e estavam a enganar-me com falas de A Guerra dos Tronos e de Narcos – filmei todos os episódios de Narcos e vi todos os episódios de A Guerra dos Tronos, e ainda assim saí-me muito mal. Obviamente, as dinâmicas das lutas de poder são muito específicas em cada uma das séries e fiquei chocado ao perceber como é difícil distinguir as respectivas falas.