Não é fácil viver neste país. Há países piores, claro. Mas não é fácil viver aqui. Sim, temos um bom clima, paisagens deslumbrantes, as pessoas são boas (no geral), a comida é fantástica e o cheiro maravilhoso. Mas não é fácil. Então para os jovens, ufa, nem se fala!
Tenho um mestrado e uma licenciatura. Já fiz formações de línguas. Escrevi artigos. Participei em conferências. Escrevi um livro. Não é por isso que trabalho na minha área. A área da comunicação e do jornalismo. Sou lojista. Até gosto, mas não é a mesma coisa.
Como eu há milhares. Milhares de jovens felizes a fazer outra coisa que não a da sua formação. E milhares de inconformados. Eu estou no meio. Conheço jovens licenciados a trabalhar como operários e vendedores. Outros arriscaram e voaram além-fronteiras. Porque não é fácil viver neste país.
Não é fácil contar os trocos no final do mês. Nem sequer é fácil "tratar de papelada". Não é fácil viver neste país, muito menos no interior. No interior desertificado, como se costuma dizer. Num interior menorizado e desprezado pelos donos do país (sejam eles quem forem). Muito menos fácil é viver num concelho pequeno. Daqueles com poucos habitantes. E que parece esquecido e deixado “à mercê”.
Não fácil é ter uma oportunidade. Uma oportunidade de ter casa, por exemplo. Não falo de uma mansão. Só um simples apartamento ou uma vivenda com história. Ter uma oportunidade na escrita, na pintura, no canto, na dança. Também não é para todos. Mas nem sequer é fácil ver espectáculos ou exposições em todos os pequenos concelhos — aqueles concelhos que dizem que é urgente cuidar.
As oportunidades não são fáceis em todo o lado, eu sei. Mas, por cá, não é nada fácil ser chefe ou trabalhar em altos cargos públicos sem ter um amigo ou um pai de um amigo ou um conhecido que auxilie na entrada. Não é fácil sonhar neste país. Sonhar com igualdade ou com prosperidade. Não é fácil sonhar, mas continuo sonhando. Porque, afinal, o ser humano "é do tamanho dos seus sonhos”.