ONU volta a acusar a Venezuela de recurso sistemático a força excessiva

Nações Unidas dizem que as violações de direitos humanos na Venezuela não são episódicas, e que fazem parte de uma estratégia "deliberada" de repressão da oposição política.

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Zeid Ra'ad al-Hussein, Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos Reuters/DENIS BALIBOUSE

As Nações Unidas voltaram a referir-se, nesta quarta-feira, à crise na Venezuela e a acusar as forças de segurança de Caracas de violações em massa e de forma deliberada dos direitos humanos na repressão dos protestos contra o regime de Nicolás Maduro. Um relatório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos indica a existência de uma “estratégia para reprimir a oposição política e cultivar o medo”, pedindo mais investigação.

De acordo com Reuters, no documento volta a ser pedido ao Governo de Maduro que liberte manifestantes detidos de forma arbitrária e que acabe com os julgamentos de civis por tribunais militares. O relatório refere que, das cinco mil pessoas que foram detidas durante a recente vaga de protestos, mil permanecerem ainda encarceradas. E são denunciados casos de tortura e maus-tratos.

No relatório, que dá seguimento às primeiras conclusões avançadas a 8 de Agosto, atribuem-se 73 mortes registadas desde Abril à acção das forças de segurança venezuelanas. Continua por apurar a responsabilidade de outras 53 mortes.

O número total de mortes (124) indicadas no relatório inclui nove membros das forças de segurança que o Governo venezuelano diz terem sido mortos em Julho e outas quatro pessoas alegadamente mortas por manifestantes, que também são acusados de usarem meios violentos, nomeadamente cocktails molotov.

Maduro, recorde-se, considera que a Venezuela é vítima de uma “insurreição armada” apoiada pelos EUA e motivada por interesses económicos, nomeadamente no petróleo.

O relatório denuncia que a o recurso à violência por parte das forças de segurança se intensificou com o agravamento da crise política em Caracas, e sublinha que as violações dos direitos humanos foram e as detenções arbitrárias não se resumiram a actos isolados e que eram parte de uma estratégia deliberada.

O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, alertou para um "grave risco de deterioração da situação na Venezuela". E defendeu que o Governo deve assegurar que as investigações a estes abusos, iniciadas pela procuradora-geral Luisa Ortega (afastada do cargo por criticar o Governo), continuam e são conduzidas de forma imparcial.

No sábado, recorda a Reuters, as forças armadas da Venezuela realizaram exercícios em todo o país e pediram aos civis para se juntarem às unidades de reserva, de forma a defenderem o país de um possível ataque externo, depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter dito que a "opção militar" estava em cima da mesa no diferendo com Caracas.

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