No início dos anos 90, Hanna Swida-Ziemba concluiu, no seu estudo sobre a juventude polaca, que “as pessoas das gerações mais antigas colocavam-se tanto no passado quanto no futuro. Para os jovens contemporâneos só o presente existe.” Zygmunt Bauman pegou nestas palavras e concluiu, por sua vez, que este sentimento e estado se mundializaram; que se replicaram por todo o mundo. Ou seja, os jovens dos países desenvolvidos e culturalmente influenciados por esse tipo de sociedades são levados a viver em constante confronto com o passado, que querem desvalorizar, e a ignorar autoprojeções para o futuro, por ser demasiado imprevisível, demasiado “líquido”.
Destaca-se no discurso de Bauman a influência da “modernidade líquida”, conceito que o autor criou para descrever inúmeros aspetos da nossa vida social e individual: o que antes era sólido agora escapa-se, liquidamente entre os dedos, sendo o amor um desses exemplos de ausência de consistência.
Essa juventude, estudada no início da década de 90, constitui-se como parte significativa dos adultos ativos da atualidade. Essa tendência de viver somente para o presente não parece ter sido apenas um tique de revolta juvenil geracional. Parece que se transformou num modo de organização da sociedade e também de uma nova classe social, definida por Guy Standing como o “precariado”. Esta nova classe social, muito provavelmente, é vítima e causadora da sua própria condição.
O capitalismo tem trazido níveis de prosperidade, produtividade e criação de riqueza inegáveis, mas, em simultâneo, origina esmagadoras desigualdades na redistribuição dessa riqueza. Neste sistema vivemos como indivíduos consumistas do presente. Nos países ricos, proporciona-se a possibilidade de aceder a uma qualidade de vida invejável e sem igual na história da humanidade, mas assente na precariedade. Tudo pode mudar a qualquer momento. Podemos viver bem, mas nunca saberemos por quanto tempo.
Felicidade e alternativas
Mas será que somos felizes vivendo apenas no presente? Aliás, será realmente possível viver apenas no presente, sem memória que nos estruture, e sem um futuro em que possamos depositar esperanças? Se vivemos tudo no presente pode não restar nada para o futuro. De notar as expressões usadas de forma avulsa e superficial que invocam o “carpe diem”, representativas de um sentimento falsamente libertário e de desespero inconsciente face à precariedade. Numa outra perspetiva, outro reflexo da ditadura do presente é a crise ambiental. De notar o caso das alterações climáticas em que os consumos do presente se sobrepõem aos equilíbrios ambientais futuros essenciais para vivermos.
Mas que alternativas temos? Podemos, de algum modo, escolher viver para o futuro? Estará isso ao alcance do indivíduo comum? Podemos simplesmente passar ao lado dos impulsos para viver apenas no agora. Também esta crítica pareça líquida, pois não se retém dela qualquer sugestão sólida alternativa. O decrescimento dos consumos é realmente uma opção quando construímos sociedades que apenas se dizem sãs se crescerem? Remeter todas as esperanças para a evolução tecnológica dará alguma segurança? Mesmo que quisesse usar estas palavras como critica não teria alternativas de recomendação sem invocar o futuro. Logo, estaria a ser anacrónico, pois o futuro nunca foi tão intangível como agora. Apesar de tudo, a incerteza dá-nos resiliência, porque já não sabemos viver de outro modo no presente.