Sobre a noite passada: A Guerra dos Tronos é a mais vista – e é a história d’O Dragão e o Lobo

O episódio final da penúltima temporada da série mais popular – bateu novos recordes – deixa os leões para trás e revela novidades para leitores e espectadores. Série pode voltar só em 2019.

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HBO

Este texto contém spoilers sobre o episódio O Dragão e o Lobo

Tantas pessoas, tão pouco tempo. N’A Guerra dos Tronos televisiva houve menos episódios e mais, muito mais gente frente ao ecrã neste Verão de 2017. Mas se A Guerra dos Tronos se fez sempre de tantas, mas tantas pessoas, “quando chegamos ao fim da temporada, o universo contrai-se”, diz um dos seus autores, David Benioff. O Dragão e o Lobo, título simbólico do episódio de fim de temporada, matou e juntou personagens há muito em rota de colisão – e agregou 16,5 milhões de pessoas só nos EUA. É um novo recorde que confirma o estatuto da série como a maior do momento.

O Dragão e o Lobo, transmitido domingo à noite nuns EUA em que competia com os prémios da MTV e com Twin Peaks perto do fim, tornou-se no episódio mais visto de sempre da série. É um crescendo constante, o desta penúltima temporada de uma série televisiva que parece feita à medida para a era Twitter e que, segundo os dados citados pela Hollywood Reporter, só nos EUA tem reunido em torno de cada episódio 31 milhões de pessoas.

É um número da “velha televisão”, dos acontecimentos como as finais desportivas ou dos tempos com muito menos canais, especialmente significativo por se tratar de audiências de um canal de televisão pago. Atinge-se juntando expedientes da “nova televisão”, os visionamentos diferidos, o streaming nas várias plataformas oficiais, a compra de pacotes on-demand. Exclui os números internacionais (o primeiro episódio bateu também recordes para o canal português, o SyFy) e os ilícitos, aqueles que fizeram da série uma recordista também da pirataria.

Enquanto as audiências se expandem, o mundo criado em 1996 por George R.R. Martin contrai-se, como resumiu Benioff no vídeo Inside the Episode que acompanha cada capítulo no YouTube. Estes clips são também explicadores, não só da intriga mas também das motivações de dois autores – D.B. Weiss e David Benioff trabalham sobre o universo denso de fantasia e guerra que Martin alicerçou em regras bem definidas. Chega-se ao fim com menos gente a bordo (oito personagens e um dragão estão na lista de baixas da temporada) e com todas mais próximas.

A intriga pôs pela primeira vez, ou pela primeira vez em muito tempo, uma panóplia de nomes centrais numa arena – os Lannister, os irmãos Clegane, Snow, Daenerys e seus acólitos. “É um desafio, por que há tantas vias diferentes por onde seguir, mas o facto de estarmos centrados no esforço de convencer Cersei [Lannister] a recuar e aceitar tréguas, isso deu-lhe uma espinha dorsal”, diz D.B. Weiss sobre esta escolha.

Mas o episódio de 1h20 de duração realizado por Jeremy Podeswa não se chama O Dragão e o Leão, mas sim O Dragão e o Lobo. Animais que simbolizam casas de Westeros, mas também o fogo e o gelo (personificado) que dá nome à série literária que inspira a série televisiva – A Canção de Gelo e Fogo. Esse momento que os argumentistas criaram em torno de uma rainha e de uma casa que já foi grande, a Cersei cuja bandeira tem um leão, só evidencia como as peças antigas estão espalhadas num tabuleiro tomado por novos jogadores. Sejam eles os guionistas Weiss e Benioff e a televisão, sejam os jovens líderes que eliminam um estratego como Mindinho, para quem o caos era uma escada até se revelar, afinal, a morte na ponta de uma adaga.

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Há dias, Martin voltou a frisar que “a série de livros e a adaptação televisiva vão por caminhos diferentes”, como disse à edição norte-americana do jornal Metro. Mas Weiss e Benioff claramente ainda sentem o peso da herança dos livros, apesar do novo ritmo acelerado da série e do atropelo de algumas regras de Martin que mantêm plausível e sólido um mundo de dragões, videntes, ressurreições e geoestratégia convencional. Nos últimos minutos do episódio, confirma-se a parentalidade de uma personagem central (senão mesmo titular) e revela-se um dado novo para neófitos televisivos e fanáticos dos livros e do ecrã. “O desafio com esta sequência era encontrar uma forma de apresentar informação que pelo menos uma boa parte do público já tinha de uma forma dramática e excitante e com um novo elemento”, diz D.B. Weiss no vídeo oficial da HBO. Chama-lhe uma “bomba de informação”. Ou, como resume delicadamente Benioff, saber que afinal o famoso Jon Snow é Aegon Targaryen, “o herdeiro de direito do Trono de Ferro” e sobrinho da rainha Daenerys, com quem acaba de se envolver numa relação incestuosa, “enlameia as águas”.

Para acabar de contar a história na televisão restam seis episódios, ainda sem data de transmissão – há um ano, já se aludia à possibilidade de a série só voltar em 2019; o director de arte da série disse ao PÚBLICO que em Julho já estaria a trabalhar no terreno na oitava temporada; fontes da produção disseram à Hollywood Reporter que a rodagem começa já em Outubro mas que pode durar até Agosto de 2018.

Desde o início que a série tenta dizer, primeiro sussurrando e depois gritando, o que a personagem Jaime Lannister resumiu segunda-feira sem grande poesia: “Isto não é sobre casas nobres. Isto é sobre os vivos e os mortos”. É uma das personagens que muda de rumo e segue um novo caminho, tal como Martin aludia. Alan Sepinwall escreve, no Uproxx, que “A Guerra dos Tronos tem de mudar para a sua temporada final”. Matt Zoller Seitz avisa, no Vulture, que “agora esta [já] é uma A Guerra dos Tronos diferente”. Uma história que envolve milhões de pessoas pelo globo aproxima-se do fim com muitos pequenos clímaxes concentrados nas suas últimas horas de TV. Neste final, a imagem que fica é tanto do novo candidato a rei, um jovem lobo dragão, quanto de outro rei, gélido e ameaçador, a derrubar a única muralha entre o reino dos vivos e o exército dos mortos. “A seguir ao alimento, abrigo e companhia, as histórias são o que mais precisamos no mundo”, como diz o escritor Philip Pullman. Esta é contada por dois autores que já mostraram saber qual a rota e as jogadas que a sua audiência e essa categoria apaixonada que são os “fãs” quer ver, mas que jogam com cartas antigas, com marcas que acumulam enormes expectativas.

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