À primeira vindima, o Parque Vitícola de Lisboa promete bom vinho
Entre a agitação da cidade, nasceu a vinha do Parque Vitícola de Lisboa. Nesta quinta-feira realizou-se a primeira colheita, que vai levar às mesas dos portugueses a marca “Corvos de Lisboa”.
No horizonte, um avião a aterrar na pista. Na estrada, os carros aceleram a fundo para chegarem ao seu destino. Esta é a vista do Parque Vitícola de Lisboa, onde desde as oito da manhã os cachos das uvas são colhidos e colocados em caixas. É “Uma parte do campo inserida no meio da cidade”, que proporciona um “contraste arrojado”, caracteriza-o João Duarte, um dos trabalhadores da primeira vindima do Parque.
Sob um calor que vai aumentado ao longo da manhã, 24 trabalhadores que participam nesta primeira vindima na propriedade da Câmara de Lisboa gerida em parceria pela empresa Casa Santos Lima. Enquanto conversam, vão apanhando um a um os cachos de uvas. Para nenhum deles é a primeira vez. “Comecei a trabalhar desde pequena na vindima,” disse Maria Adelaide, ao explicar que já participou em várias colheitas. Quanto a João Duarte, esta é a terceira vez que participa na apanha da uva da Casa Santos Lima.
As vindimas, que habitualmente decorrem entre Setembro e Outubro, foram antecipadas devido ao período de seca que o país enfrenta. Não só no Parque Vitícola e na região, mas por todo o país. “Do Douro ao Algarve, as vindimas foram mais cedo do que é habitual e aqui também”, disse José Oliveira da Silva, administrador da Casa Santos Lima, ao PÚBLICO.
“Nós vamos fazendo controlos de maturação, vendo quando é que as uvas estão em condições para serem vindimadas, em termos de acidez e grau alcoólico futuro. Felizmente, apesar de termos aqui três variedades, que são o Arinto, Tinta Roriz e Touriga Nacional, conseguimos um timing, que é o dia de hoje, em que estas três variedades apresentam níveis aconselháveis para a vindima,” acrescenta o administrador.
Questionado sobre se a poluição que provém do aeroporto afecta a vinha, o administrador adianta que o produto não é de qualquer forma afectado, ao esclarecer que “o próprio processo de fermentação faz com que haja um precipitar de tudo o que é estranho à uva”.
Da vinha lisboeta, as uvas partem para a adega em Alenquer, “onde são trabalhadas com muito carinho para fazer um vinho muito especial”, refere José Oliveira da Silva. “Sei que há uma grande expectativa e nós esperamos estar à altura dessa responsabilidade e fazer um vinho com qualidade.”
No futuro, já na fase de comercialização, o vinho parte para as lojas com o nome Corvos de Lisboa. “Um branco e um tinto e, eventualmente, um Corvos de Lisboa Reserva,” explica José Oliveira da Silva. O administrador da Casa Santos Lima estima que da colheita resultem entre 15 a 20 mil garrafas. Revela ainda ter esperança que seja possível provar o vinho branco da marca antes do Natal, entre finais de Novembro e princípio de Dezembro. Para Carlos Pereira da Fonseca, vogal da direcção da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, é importante que existam mais vinhos de Lisboa nas lojas. Ter garrafas da vinha do Parque Vitícola nas prateleiras “deve ser um motivo de orgulho”, afirmou.
Também presente na vindima esteve o vereador José Sá Fernandes, que acredita que a parceria entre a Câmara de Lisboa e a Casa Santos Lima é um grande sucesso. “Em termos do próprio aproveitamento do território, era um terreno onde não se podia fazer nada por causa do Aeroporto, com grande potencial vitivinícola, como se está a ver pela vindima que está excelente, mesmo num ano mau, de muita seca. O aproveitamento ecológico é muito bom e em termos pedagógicos também”, disse ao PÚBLICO. Ao abordar as potencialidades do Parque, refere ainda que este serve também para promover outras regiões vizinhas. “Lisboa serve para isso, para promover os outros.”
O final da tarde marca o fim da primeira vindima do Parque Vitícola de Lisboa, a menos de um mês de celebrar o seu primeiro aniversário. Por agora, resta-nos esperar para brindar com o vinho da capital. Talvez no Natal.