Houve "pequenas falhas" mas as eleições da mudança entraram na História
João Lourenço confiava na vitória do seu partido, o MPLA. CASA-CE espera aumentar os votos e UNITA prometeu protestos em caso de irregualridades. CNE elogiou o comportamento dos cidadãos - o resultado oficial será anunciado quinta-feira.
A Comissão Nacional Eleitoral de Angola admitiu que houve “pequenas falhas”, mas segundo garantiu o seu presidente, André da Silva Neto, os incidentes não comprometeram a integridade de um processo democrático que entrará para a História do país como as eleições da mudança: pela primeira vez em 40 anos, o cabeça-de-lista do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) não era José Eduardo dos Santos, o homem que governa desde 1979 e que decidiu abandonar a presidência.
João Lourenço, o antigo general e actual ministro da Defesa, escolhido pelo MPLA para assegurar a transição de Eduardo dos Santos depois de 38 anos no cargo, confiava na vitória do seu partido – o único que esteve no poder em Angola. Ao votar, numa mesa da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, era a imagem da contenção: posou para as câmaras junto da urna, mas não correspondeu aos pedidos dos fotógrafos que lhe pediam para fazer com a mão o número quatro que indica a posição do partido no boletim – conforme aparecia nos cartazes eleitorais.
Lourenço abandonou rapidamente a assembleia de voto e fez uma breve declaração aos jornalistas, para apelar à participação dos angolanos na eleição e para exprimir o seu agrado com a forma como estava a decorrer a votação. “Gostamos da organização. [A assembleia de voto] não tem grandes filas e o acto foi simples e rápido. Acredito que é assim em todo o país”, declarou o candidato favorito.
O presidente da CNE também se congratulou com o “comportamento dos eleitores e de todos os cidadãos envolvidos directa ou indirectamente no processo eleitoral”, e o “clima de serenidade, elevação, civismo, sentido de estado e grande responsabilidade”, disse à agência Lusa.
Os resultados oficiais das eleições gerais só devem ser anunciados esta quinta-feira. As sondagens projectavam mais uma vitória do MPLA, que deverá obter o maior número de assentos no parlamento (de 220 deputados) e eleger o Presidente, que é o cabeça-de-lista do partido com mais votos. João Lourenço nunca se posicionou como um homem de ruptura com o regime de José Eduardo dos Santos, mas repetiu que no que concerne ao combate à corrupção a sua actuação seria muito diferente.
No entanto, a sua prioridade – e maior desafio – será o relançamento da economia, que atravessa um período de crise. O país entrou em recessão e o desemprego disparou, tornando mais agudas as dificuldades de grande parte da população que vive na pobreza. Angola depende da exportação de petróleo e da importação de bens de consumo: todos os partidos concordam que é preciso quebrar o ciclo da dependência do crude e diversificar a economia, além de reformar o sector financeiro. Mas como dizia à Lusa o presidente da associação Transparência e Integridade, “é difícil saber que mudanças políticas, económicas e sociais vão ser possíveis”.
O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, participou pela última vez nas eleições na qualidade de chefe de Estado e de Governo. Rodeado de seguranças e jornalistas, o líder do MPLA (só deixará a presidência do partido em 2018), apresentou-se na assembleia de voto 1047 de Luanda, na escola primária de São José de Clunny, para depositar o voto no seu sucessor. No local estavam os antigos presidentes de Timor-Leste e de Moçambique, José Ramos Horta e Joaquim Chissano, respectivamente, bem como o ex-primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves – o trio integrava uma delegação de observadores internacionais convidados pelo Governo angolano para assistir à votação.
Apesar da presença em Angola de várias equipas de observadores africanos, a União Europeia não enviou monitores por não ter recebido garantias de protecção e livre acesso às assembleias de voto. O presidente da CNE, André Silva Neto, também reconheceu que alguns delegados dos partidos que deveriam fiscalizar a votação foram afastados pelos presidentes das assembleias de voto, por desconhecerem uma mudança no regulamento decidida por causa de atrasos no processo de credenciamento. A situação foi regularizada, garantiu.
O líder do maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, acredita num resultado melhor do que aquele que obteve em 2012, quando não conseguiu passar a barreira dos 20% (32 deputados). A UNITA prometeu organizar protestos de rua se o processo eleitoral não decorresse de forma transparente ou fossem denunciadas irregularidades na votação.
Também Abel Chivukuvuku, o antigo dirigente da UNITA que em 2012 formou o movimento Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (ou CASA-CE), espera conquistar mais votos do que nas últimas eleições gerais. “Palmilhei o país, de Cabinda ao Cunene, e senti o pulsar das populações. Os angolanos querem mudança, pacífica, ordeira, construtiva e que mude o rumo do país”, afirmou à Lusa.