Reino Unido envia cartas com ameaça de detenção e deportação a cidadãos da UE

Ministério do Interior diz que cerca de 100 missivas foram enviadas "por erro" e pede desculpa.

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LUSA/ANDY RAIN

O ministério do Interior do Reino Unido enviou cerca de 100 cartas a cidadãos da União Europeia (UE) residentes em solo britânico, informando-os de que corriam risco de serem detidos. A notícia está a ser avançada pela BBC, que acrescenta que o governo veio a público confessar que se tratou de "um erro".

O lapso foi detectado quando uma académica de nacionalidade finlandesa, com autorização de residência no Reino Unido, recebeu uma dessas cartas.

Segundo o site daquele canal britânico, a professora universitária em causa é Eva Johanna Holmberg, casada com um cidadão britânico, que foi assim informada de que dispunha de um mês para deixar o país. Ouvida pela BBC, fonte do ministério do Interior reiterou que "os direitos dos cidadãos da UE a viverem no Reino Unido permanecem inalterados".

A mesma fonte não identificada acrescentou que todos os estrangeiros que receberam uma carta destas serão contactados para "clarificar que devem ignorá-la".

"Um número limitado de cartas foi enviado por erro e estamos a analisar com a maior celeridade possível a razão por que isso aconteceu", garantiu ainda a mesma fonte, descrita como um porta-voz do ministério.

O caso emergiu depois de aquela professora universitária ter partilhado a sua história nas redes sociais. Pouco depois, a sua descrição do caso espalhava-se por diferentes contas no Twitter.

"Na quinta-feira recebi uma carta do ministério do Interior dizendo-me que 'tinha sido tomada a decisão de me retirarem do Reino Unido, ao abrigo do artigo 10.º da lei sobre Imigração e Asilo de 1999'... e que eu sou considerada uma 'pessoa sujeita a deportação, dado que falhou em ter provado que exerce direitos protegidos por tratado no Reino Unido'", escreveu a professora finlandesa, especialista em História, que trabalha numa universidade londrina. "A carta dava-me um mês para sair, a contar da data da notificação", acrescenta.

Trata-se de "uma decisão absurda", sublinha, "tomada apesar de eu pagar aqui impostos, ser casada com um britânico e actualmente estar empregada também na Universidade de Helsínquia". "Este disparate sem sentido envelheceu-me pelo menos cinco anos desde quinta-feira e torna-me ainda menos capaz de confiar seja no que for que Amber Rudd, Theresa May ou David Davis digam para acalmar os cidadãos da UE", remata a docente.

Segundo o diário londrino The Guardian, o ministério apresentou "profusas desculpas" à académica de origem finlandesa, para quem esta situação resulta de "incompetência". 

A porta-voz dos trabalhistas para as questões da administração interna considera que este erro é "uma desgraça", segundo refere o mesmo jornal. "Não podemos admitir que o ministério do Interior cometa erros destes", reagiu Yvette Cooper, destacando a ansiedade e stress que estas cartas terão gerado nas famílias afectadas.

Dianne Abbott, a "ministra-sombra" do Labour, também lamentou o lapso, lançando farpas ao governo de Theresa May: "Como este governo é pródigo em reviravoltas, a única coisa que pode valer àqueles afectados é a documentação oficial que têm sobre os seus direitos de permanência."

No Reino Unido vivem cerca de 3,5 milhões de cidadãos da UE, segundo números citados pelo Guardian. Muitos deles têm vivido com uma sensação de incerteza sobre o futuro depois do referendo de 2016 que ditou a saída do Reino Unido da UE, o famigerado "Brexit".

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