Quem é o general da estátua da polémica nos EUA?
A planeada retirada de estátua do general Robert E. Lee levou à manifestação de Charlottesville. O debate sobre esta retirada existe desde que um extremista matou oito pessoas numa igreja negra em Charleston, em 2005.
A planeada retirada de uma estátua de um homem a cavalo foi o pretexto para a manifestação de extrema-direita em Charlottesville, Virgínia, no fim-de-semana. O monumento homenageia o general Robert E. Lee, que liderou as tropas sulistas (da Confederação de 13 estados, os Estados Confederados da América), que partiram para a guerra com a União, ou Norte, defendendo a escravatura.
Lee teve educação militar em Westpoint, onde foi o segundo melhor aluno, e distinguiu-se em batalhas na guerra contra o México. Aceitou liderar as forças da Confederação na Virgínia, embora não tivesse muita experiência a comandar tropas. Ganhou algumas batalhas e perdeu outras, e a sua prestação militar durante a Guerra Civil (1861-1865) é vista como tendo tido altos e baixos. No final, no entanto, continuou a lutar, embora a derrota fosse quase certa durante grande parte de 1864, e só se rendeu em Abril de 1865. Para além de liderar as tropas que defendiam o esclavagismo, o general era dono de escravos.
Descendentes de combatentes sulistas defendem a manutenção de monumentos a Lee e outros generais como Thomas “Stonewall” Jackson, ou símbolos como a bandeira da Confederação. Mas estes são vistos cada vez mais e apenas como representações de um ideal de sociedade assente na exploração e segregação racial.
Generais como Robert E. Lee e políticos que serviram os Estados Confederados da América “não são figuras históricas dignas de nota que também beneficiaram da instituição da escravatura”, sublinha o colunista Matthew Yglesias num artigo no site Vox. “São figuras históricas que são dignas de nota quase exclusivamente porque lideraram uma insurreição contra os Estados Unidos da América, uma insurreição cujo primeiro objectivo foi perpetuar a escravatura.”
Ironicamente, o próprio Lee não queria a construção de monumentos em sua honra, defendendo que o país devia seguir em frente.
Apesar de derrotados, as figuras que simbolizam a luta sulista continuam em monumentos e locais públicos em vários estados do Sul. Haverá cerca de 718 monumentos destas figuras, nas contas da organização que estuda o extremismo Southern Poverty Law Center.
A maioria destes monumentos foram construídos em dois períodos: nos anos de 1890, na altura do estabelecimento das leis que determinavam a segregação, e nos de 1950, quando houve grande resistência no Sul ao movimento de direitos cívicos, notou James Grossman, director executivo da American Historical Association, em declarações ao The New York Times.
O debate sobre o que fazer com estes símbolos é relativamente novo: generalizou-se em Junho de 2015, depois de um supremacista branco ter assassinado um grupo de pessoas numa igreja frequentada pela comunidade negra de Charleston, Carolina do Sul. Pouco depois, a bandeira da Confederação, por exemplo, foi retirada do edifício do Capitólio de Colúmbia, no mesmo estado.
A acção de Charlottesville e a morte de uma manifestante contra os extremistas terá o efeito de acelerar o processo de retirada dos monumentos. Esta quarta-feira, a cidade de Baltimore retirou quatro monumentos, incluindo uma estátua de Lee, uma acção aprovada em conselho municipal “na sequência das acções de terrorismo interno levadas a cabo por supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, no passado fim-de-semana”, cita o Baltimore Sun.
As autoridades levaram a cabo a medida a meio da noite para evitar problemas como os protestos violentos do fim de semana em Charlottesville, explicou a presidente da câmara, Catherine E. Pugh.
Se as autoridades demoram a agir, também já houve casos em que manifestantes tomaram a questão nas suas mãos. Na cidade de Durham, na Carolina do Norte, um grupo derrubou na terça-feira uma estátua dedicada aos soldados da Confederação.
A quem pergunta se a retirada de monumentos não é “apagar a História” (como fez o Presidente, Donald Trump, questionando a acção), James Grossman responde que não se deve confundir História e memória. “Não se está a mudar a História, está-se a mudar o modo de lembrar a História.”