Entre montes e vales há uma aldeia tão portuguesa, casas pequenas fruto de muito trabalho, esforço e suor, empoleiradas no sopé de uma montanha onde a luz mal chega no Inverno. Casas quase vazias de Setembro a Julho. Casas onde vive uma geração que vive à espera, à espera que os dias passem, à espera que chegue Agosto, à espera que o sol e o calor lhes tragam os seus que dali saíram jovens e agora regressam com filhos e até netos. Nessa pequena aldeia abraça-se, ri-se e vive-se tudo o que há para viver durante os 31 dias do mês de Agosto. Há vinho português e comida típica, enchidos e petiscos, há uma mesa farta a cada esquina, procissões e romarias, há lágrimas de alegria e coração cheio, não se poupa a felicidade. Ouve-se música de baile, brinda-se à amizade e à família.
No mês de Agosto a aldeia enche-se de gente e vida, de carros com matrículas estrangeiras, de crianças como há muito não se via, de sotaques e palavras francesas. A passagem do tempo dá o ar da sua graça. As crianças falam português com sotaque, os adultos esqueceram-se de algum vocabulário mas todos se entendem e todos festejam. Há ali um fulgor em querer viver a vida que foge no resto do ano.
No fim do mês, os que vieram regressam a casa, regressam aos seus trabalhos noutros países, as crianças regressam à escola, aos amigos e à cidade. Na velha aldeia por entre montes e vales permanecem os mais idosos, aqueles cujo sorriso se some no fim de Agosto, e que fica de novo quase um ano à espera que ele regresse com os que partiram hoje. Na velha aldeia por entre montes e vales regressa uma solidão que só sente quem lá vive, uma nostalgia e uma saudade mas sempre uma esperança de ainda cá estar no próximo ano para abraçar os que partiram hoje e festejar com eles por mais um mês inteiro.