Cerveira e Tomiño querem juntar-se sobre as águas do Minho
Vila Nova de Cerveira apresenta nesta quinta-feira um projecto para encurtar ainda mais o que a separa da Galiza. É mais um exemplo de aproximação de dois municípios que têm privilegiado a cooperação transfronteiriça
É a concretização de um desejo antigo das duas localidades separadas pelo Rio Minho: a sua aproximação. O Parque Transfronteiriço Castelinho — Fortaleza, que é apresentado nesta quinta-feira, vai unir ainda mais Vila Nova de Cerveira e Tomiño. O objectivo passa por, até 2020, ligar as localidades minhota e galega através de uma ponte pedonal.
Embora os parques já existam — Castelinho do lado português e Fortaleza na margem galega —, um em frente ao outro apenas separados pelo Rio Minho, a sua união será materializada numa ponte pedonal sobre o rio que ligará efectivamente os dois parques. O lançamento de um concurso de ideias para a sua construção será divulgado nesta quinta-feira em Vila Nova de Cerveira,
“O parque transfronteiriço, que agora vamos apresentar publicamente, é um projecto em que andamos a trabalhar desde 2015”, conta ao PÚBLICO o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira, Fernando Nogueira. A relação entre os dois municípios é descrita como exemplar no que toca à cooperação transfronteiriça entre o Norte de Portugal e a Galiza e este parque é mais um passo nesse caminho. Esta união foi recentemente elogiada por Helena Freitas, então coordenadora da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, durante uma visita àquela região.
Este “exemplo” de Vila Nova de Cerveira tem ganho também reconhecimento a nível nacional. Primeiro com a atribuição da II Bandeira Cidades de Excelência — nível II pela Rede de Cidades e Vilas de Excelência e, mais recentemente, recebeu o galardão de “Município do Ano — Norte 2017”, na categoria de municípios com menos de 20.000 habitantes, uma iniciativa dinamizada pela Universidade do Minho através da plataforma UM Cidades.
Este último reconhecimento tem um significado especial já que Vila Nova de Cerveira concorreu com o projecto “Agenda de Cooperação Transfronteiriça Amizade Cerveira-Tomiño” e mostrou os resultados e perspectivas de uma cooperação sustentável, sempre com olhos postos nas potencialidades que o Rio Minho oferece.
Esta ponte pedonal e ciclável irá fazer companhia à já existente Ponte da Amizade, que liga os dois municípios há mais de dez anos e é tida como um importante ponto de passagem entre o Norte de Portugal e Espanha. Para Fernando Nogueira, esta ponte trouxe mobilidade “de forma mais acessível” aos vizinhos do outro lado da margem já que ganharam acesso à estacão ferroviária de Cerveira, o que criou um polo de ligação daquele município galego “a Viana do Castelo, ao Porto ou a Vigo”. Na opinião do autarca, esta futura ligação vai contribuir para o fortalecimento de laços já existentes pois será sobretudo usado por quem quer ir apenas ao outro lado do rio.
Objectivo: “Desfronteirizar”
O projecto que será apresentado nesta quinta-feira é mais um passo para, nas palavras de Fernando Nogueira, “desfronteirizar” e “vencer o amigo que é o Rio Minho”. “O lançamento do concurso de ideias é um passo fundamental do objectivo traçado por Vila Nova de Cerveira e Tomiño de se afirmarem como ‘dois países, um destino’”, adianta o autarca cerveirense.
Os dois parques, separados entre si, têm aproximadamente seis hectares. Com a ligação projectada, a área ocupada rondará os 20 hectares. Esta junção física através de outra ponte seria mais uma aproximação de dois povos que nunca olharam a outra margem com desconfiança. “Antes de haver esta relação oficial dos governos, atravessava-se com contrabando, a nado, ia-se namorar ao outro lado, há casamentos, a ligação já é antiga”, lembra o autarca.
O anteprojecto foi candidatado ao Interreg V — Programa de Cooperação Territorial, do Programa Operativo de Cooperação Transfronteiriço Espanha-Portugal (POCTEP) e está ao abrigo do projecto “Visit Rio Minho”, que traça como objectivo primário a “preservação e valorização do Rio Minho Transfronteiriço”.Texto editado por Ana Fernandes