Praia da Aguda: A praia dos pescadores onde se mergulha sem molhar os pés
Este Verão vamos percorrer algumas das mais emblemáticas praias da costa de Vila Nova de Gaia, com 18 quilómetros de extensão, todas elas com história, tradição e características singulares.
Depois da Praia da Granja, seguimos viagem pela Praia da Aguda, uma praia de pescadores, inserida numa zona dunar onde são preservadas espécies raras e com uma estação litoral que é uma montra da fauna e flora da região.
Conhecida pelo extenso areal, pela riqueza das dunas e da vegetação natural que a rodeia, a Praia da Aguda é uma praia de pescadores, com mais de um século de história na tradição da pesca artesanal. O alemão Mike Weber colocou a praia no mapa nacional e internacional quando lançou o desafio de construir um pequeno aquário público na praia da Aguda que, mais tarde, se tornaria num projecto mais ambicioso: a Estação Litoral da Aguda (ELA).
Quando atracou por aqui, há mais de 30 anos, Mike Weber ficou espantado com a pequena frota de 24 barcos “caíques”, “estacionados” na praia, mesmo à frente da sua casa alugada na Rua do Mar e à imensa plataforma rochosa acessível durante a maré baixa, cheia de “bicharada”. “Senti-me logo bem, como um peixinho na água”, explica o biólogo marinho.
Fascinado pela beleza desta vila piscatória e pela riqueza da fauna e flora marinhas, o biólogo alemão reuniu um espólio valioso que pode ser visto na ELA, aberta ao público desde julho de 1999, que até hoje já recebeu cerca de 370 mil visitantes. “A ELA oferece uma viagem ao fundo do mar da Aguda, é um mergulho simbólico desde as poças de maré até 25 metros de profundidade. Permite ter um contacto directo com o mar, ficando com os pés secos”, explica o diretor da ELA que também é docente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
Motivos mais do que suficientes para visitar a ELA, onde pode conhecer a fauna e flora aquáticas locais, sobretudo marinhas, saber mais sobre as artes de pesca locais ou participar num dos programas de educação ambiental”. No mesmo espaço, encontra um parque zoológico onde habitam mais de mil animais de 60 espécies diferentes que ocupam os 15 aquários; um centro educacional e de investigação com actividades pedagógicas para os mais novos onde se incluem a alimentação aos peixes, noites no aquário para observar os peixes através de uma câmara especial, actividades de ciência no verão ou sessões de contos sobre o mar. Para todas as idades, existem ainda trilhos de interpretação na natureza e aulas de yoga; um Museu das Pescas onde é possível ver as embarcações em miniatura da frota dos anos 80 da Praia da Aguda, esculturas em barro sobre cenas de pesca e instrumentos usados na pesca artesanal, numa colecção de peças únicas e valiosas, reunida em cinco continentes ao longo dos últimos 30 anos, entre as quais anzóis, ossos de animais, armadilhas, fisgas e arpões. Antes de terminar, espaço ainda para os artefactos antigos da pesca artesanal, alguns ainda são usados nos dias de hoje, como os covos (armadilhas para o polvo) e os palanques (linha de anzol para o robalo).
Pesca artesanal com mais de um século de história
Conta a história que esta arte, que foi transmitida de geração em geração, data de 1870, período em que há registo dos pescadores da Afurada e de Espinho que aqui se instalaram e começaram a construir os primeiros abrigos em madeira para pescar, sobretudo o caranguejo ou “pilado” (símbolo da ELA), que eram vendidos aos agricultores locais como adubo para os campos de cultivo.
Desta relação entre a pesca e a agricultura nasceu a Praia da Aguda que, no início dos anos 50 do século XX, tinha uma população piscatória com mais de 300 pessoas, 47 bateiras grandes e 17 barcos pequenos. Ao longo de décadas, os métodos de pesca e as embarcações evoluíram, as bateiras foram substituídas pelos "caíques" - barcos com cerca de sete metros, rápidos e ágeis.
Mike Weber lembra esta comunidade de pescadores da Aguda, com a qual trabalha desde 1986, como bons colaboradores, “todos bons rapazes, com o coração no sítio certo, cheios de coragem, vejamos as alcunhas: Robbialac, Pele, Brinquinho, Cebola, Latas, Queijo, Patuscada, Padeiro, Pastel, Rouba-cão, Tarila, Taxola, Vadio, Zamoca”. Muitos morreram, outros fizeram-se “homens grandes”, poucos ficaram na pesca, conta. “Se não criarmos incentivos, a pesca da Praia da Aguda está condenada e vai desaparecer daqui a poucos anos”, lamenta o biólogo que vê com tristeza a redução lenta do número de embarcações de pesca (restam apenas cinco), que eram uma característica da paisagem da Praia da Aguda.
Do mar para a mesa
Junto ao farol desta vila piscatória ainda se podem ver alguns barcos ancorados que trazem diariamente o peixe fresco para a lota, peixarias e restaurantes da região.
Do mar para a mesa chega o peixe fresco ao Restaurante Zizi, mesmo em frente à praia, com uma esplanada onde pode relaxar e provar as especialidades da casa, os peixes e mariscos frescos. Na marginal da Aguda, encontra várias opções para comer com vista privilegiada para o mar, entre elas a cozinha italiana do Ciao Bella, um espaço acolhedor que ainda mantém os traços originais das duas antigas casas de pescadores, onde são servidas pizzas de base fina, pastas, e ainda bifes, saladas e tapas.
Para beber um copo ao final da tarde e petiscar, sugerimos o Ela’s Petiscos Bar, mesmo ao lado da entrada da Estação Litoral da Aguda, onde não pode deixar de provar as gambas ao alho, as vieiras gratinadas, os mexilhões ou a salada de búzios, e a associação Cultura Curto Espaço, um local descontraído onde pode fazer aulas de yoga ou participar em sessões de poesia e de leitura.