Células estaminais usadas para tentar "curar" diabetes do tipo 1

Implante experimental foi colocado em duas pessoas. Em três meses deverá começar a produzir insulina.

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Há mais de uma década que se tenta usar células estaminais para tratar a diabetes EVR ENRIC VIVES-RUBIO

Duas pessoas com diabetes do tipo 1 receberam na semana passada um implante com células estaminais para produzir insulina e “curar” a doença, segundo uma notícia publicada nesta segunda-feira na revista New Scientist.

É a primeira vez que um implante com células estaminais é usado para tratar a diabetes do tipo 1. Em três meses, os especialistas vão saber se o dispositivo controla a diabetes. Uma terceira pessoa irá também receber este tratamento experimental.

A diabetes do tipo 1 é uma doença auto-imune que vai destruindo as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina, uma hormona que desvia a glicose que está no sangue para as células, evitando os efeitos negativos deste açúcar. As pessoas com este problema têm que administrar insulina várias vezes ao longo do dia para controlar o nível sanguíneo da glicose.

Apesar de haver condicionantes genéticas, sabe-se pouco sobre as causas desta doença. Cerca de 10% das 442 milhões de pessoas com diabetes no mundo são do tipo 1. As restantes têm diabetes do tipo 2, que surge ao longo da vida quando o corpo se torna insensível à insulina ou produz menos hormona do que o necessário.

O implante, chamado PEC-Direct, é produzido pela empresa Viacyte, de San Diego, na Califórnia e tem o tamanho de um cartão de crédito. No implante estão contidas as células estaminais que, já dentro do corpo, entram num processo de maturação que dura três meses, especializando-se para produzir a insulina. Estas células foram originadas a partir de um embrião nos primeiros estádios de desenvolvimento não aproveitado por uma mulher que fez fertilização in vitro.

Assim que os níveis de açúcar do corpo sobem, espera-se que as células do implante iniciem a produção da hormona para reduzir os níveis de glicose. Como as células implantadas não pertencem aos doentes, é necessário usar medicação para suprimir o sistema imunitário não deixando que o corpo ataque o implante.

“Se resultar, podemos chamar de ‘cura funcional’”, diz Paul Laikind, da Viacyte, citado pela New Scientist. “Não é uma verdadeira cura porque não resolve o problema auto-imune que causa a doença, mas estaríamos a substituir as células que estão em falta.”

Num ensaio feito previamente em 19 pessoas, a empresa provou que as células estaminais desenvolviam-se em ilhotas de Langerhans – o grupo de células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina. No entanto, como eram poucas células, aquele ensaio não foi feito para tratar a diabetes.

O novo implante pode ser posto no antebraço. Como é poroso, permite que os vasos sanguíneos o penetrem, de modo a alcançar as células estaminais que podem ser alimentadas.

“Se este tratamento tiver sucesso, esta estratégia pode realmente alterar a forma como tratamos a diabetes do tipo 1 no futuro”, diz, por sua vez, Emily Burns da Diabetes UK, uma instituição dedicada à doença, citada também pela New Scientist. Até agora, o único tratamento equivalente passa pelo transplante de células do pâncreas de órgãos de dadores. A técnica resulta, mas é limitada ao número de dadores de órgãos.

Há 15 anos que se tenta usar células estaminais para tratar a doença, mas sem sucesso. Se este implante funcionar, deixa de haver um problema de stock com os órgãos. As células estaminais poderão ser multiplicadas para se produzir os implantes necessários.

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