Movimento Transformers: usar o talento para mudar o mundo
Nasceram “de olhos postos no mundo” e com eles trazem uma vontade de ajudar as comunidades através do seu talento. O Movimento Transformers quer mostrar que cada um pode mudar o mundo à sua maneira.
Em 2014 apenas 15% da população portuguesa fez voluntariado. Os números são dos mais baixos da Europa e Joana Moreira é uma das pessoas que quer ajudar a aumentá-los. “Acreditamos que as pessoas não se envolvem não porque não queiram, mas porque ainda não encontraram a sua forma de fazerem a diferença”, explica ao P3.
E foi ao acreditar que cada um pode fazer a diferença à sua maneira que, em 2010, um grupo de breakdance de Palmela – os In Motion – usou o seu talento para ajudar a comunidade, dando workshops e espectáculos aos mais jovens, que aprendiam com os mais experientes e depois ensinavam aos mais novos.
A ideia foi crescendo e com o programa Global Changemakers, o grupo foi a Davos, na Suíça, representar as gerações futuras no Fórum Económico Mundial. Foi a partir daqui que nasceu o Movimento Transformers, que tem como objectivo combater a baixa taxa de voluntariado em Portugal, ao ajudar as pessoas a descobrir o seu talento e a usá-lo para transformar a comunidade. Até 2020, esperam aumentar a taxa de voluntariado para 50%.
Joana é actualmente a presidente do Movimento e explica a filosofia do grupo: “Eu transformo-te a ti com o que de melhor sei fazer, mas com isso tens que transformar alguma coisa à tua volta”. Os Transformers actuam em bairros sociais, instituições (ipss) e nas juntas de freguesia e municípios e dizem ter nascido “de olhos postos no mundo, de coração bem aberto e com uma vontade indomável para participar, colaborar e transformar”. As crianças, os jovens com baixos níveis socioeconómicos e os seniores são o público a que pretendem chegar, mostrando-lhes que o talento e a vontade podem mover montanhas.
O modelo é simples: há um conjunto de mentores que, através de aulas semanais, dirige-se a uma Escola de Superpoderes (escolas, hospitais, lares, prisões, entre outros) e ensina o seu superpoder, que pode ser qualquer actividade, a um grupo de aprendizes que escolheu conhecer aquele talento. Depois, acontece o payback, em que ao longo de nove meses de aulas cada grupo tem que identificar um problema social na comunidade e tentar arranjar forma de o resolver ou minimizar através da actividade que recebeu.
No bairro da Amadora, por exemplo, em 2012 a comunidade detectou uma grande dificuldade em encontrar dadores de medula óssea de raça negra e, por isso, organizou um dia especial para mostrar a actividade que aprendeu – o hip-hop - e o bilhete de entrada era uma inscrição para se ser um possível dador. “É uma coisa bastante simples, mas que tem efeito imediato naquela comunidade”, explica Maria João Ferreira, do Movimento Transformers.
“Queremos que todas as pessoas percebam que são responsáveis pelos problemas à sua volta e que se formos passivos as coisas vão continuar como estão”, sublinha Joana. Em 2016, os Transformers actuaram em Amarante, Paranhos, Vila Nova de Gaia, Coimbra e Leiria, mas já a partir do próximo ano lectivo vão trabalhar em parceria com a Área Metropolitana do Porto para chegarem a mais locais.
"Estes jovens precisam de alguém que acredite neles"
O Movimento Transformers quer mudar a vida dos aprendizes, mas também os mentores ficam com um pedacinho do projecto dentro de si. Alice Silva tornou-se mentora em 2013, quando um amigo lhe falou na iniciativa e achou que “tinha tudo a ver com aquilo”. Foi na comunidade do Bairro do Cerco que ensinou kickboxing aos mais novos e os incentivou a fazer voluntariado.
Quando lá chegou, viu “crianças que provavelmente estavam à espera de uma actividade extracurricular”, mas que rapidamente perceberam que aquilo era diferente. Ao longo do tempo, as evoluções foram surgindo, como o maior sentido de compromisso dos jovens e a relação criada com eles. Para Alice, o projecto deu-lhe mais do que apenas a oportunidade de ensinar o seu talento: “Trouxe um poder de adaptação muito grande, de acreditar neles, de estar de braços abertos porque, no fundo, estes jovens precisam é de alguém que acredite neles”.
Depois de ter trabalhado no Cerco e em outras instituições, a mentora foi activadora da Escola de Superpoderes em Paranhos e este ano esteve a operacionalizar o projecto na comunidade.
Um dos aprendizes que teve seguiu as pisadas de Alice e tornou-se mentor. Nos restantes jovens, conta, “a ideia do voluntariado ficou muito vincada e sempre que eram requisitados para alguma situação que envolvia os Transformers e a comunidade, eles estavam prontos e intervinham”.
Já Joana conheceu o Transformers quando estava a terminar o mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde. Foi mentora de expressão artística no Centro Integrado de Apoio à Deficiência e, desde que entrou, fez do Transformers a sua vida: “Despedi-me do meu trabalho enquanto psicóloga em Dezembro do ano passado para passar a investir todo o meu tempo nisto”, conta ao P3.
O voluntariado, argumenta, é “a melhor ferramenta de crescimento pessoal e profissional” e, apesar do ritmo “alucinante” que tem vivido nos últimos tempos, Joana considera que este é o projecto da sua vida.
Apoiados pelo Instituto Português do Desporto e Juventude, o Movimento Transformers conta já com 180 mentores, que ensinaram o seu superpoder a mais de 2000 aprendizes de 52 comunidades diferentes. Destes mentores, 97% continua a fazer voluntariado e 77% dos aprendizes tornou-se voluntário.
No futuro, o grupo pretende chegar a mais comunidades, nacionais e internacionais, incluindo a abertura de uma Escola de Superpoderes em São Tomé e Príncipe, já no próximo ano, de forma a permitir que os mentores possam fazer voluntariado internacional.