A leste, algumas coisas de novo (para o bem e para o mal)

O romeno Andrei Cretulescu mostrou a sua estreia na longa-metragem, o búlgaro Ilian Metev mostrou a sua estreia na ficção.

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Charleston, de Andrei Cretulescu DR
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3/4, de Ilian Metev DR
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3/4, de Ilian Metev DR
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3/4, de Ilian Metev DR

Ainda bem que Radu Jude veio mostrar The Dead Nation, porque seria pena que a edição 2017 de Locarno se ficasse pelo mais decepcionante filme romeno que vemos em muito tempo. Numa cinematografia que raramente desce abaixo de um nível médio muito recomendável, Charleston (Concurso Internacional) é a excepção que confirma a regra: a estreia na longa-metragem de Andrei Cretulescu tem muitas das qualidades técnicas e artísticas que reconhecemos à nova vaga romena, mas opta por um tom de comédia seca e absurda em câmara lenta, perseguindo o tom desfasado, abstracto e oblíquo dos novos gregos como Yorgos Lanthimos ou Athina Rachel Tsangari, mas sem o conseguir manter durante duas demasiado longas horas. E, contudo, o ponto de partida é excelente – um homem que não recuperou ainda da morte trágica da mulher num acidente é visitado por um desconhecido que lhe revela ter sido o amante dela nos últimos meses da sua vida. Alexandru, o viúvo, é um bruto cínico, Sebastian, o amante, um panhonha que se deixa intimidar; em comum apenas têm a mulher que amavam e que perderam brutalmente, mas esta dupla a dar para o azar, por mais que Cretulescu tente e que os seus dois excelentes actores se entreguem, não tem de facto nada em comum, nem mesmo com o espectador.

Ali mesmo ao lado, a Bulgária traz-nos a primeira e altamente recomendável ficção de Ilian Metev, ¾ (Cineasti del Presente) – o título lê-se “três quartos”, referindo-se à composição incompleta da família que lhe está no centro, à qual falta a mãe (cuja ausência nunca é explicada). Metev, autor de um Sofia’s Last Ambulance de boa memória que foi premiado no Doclisboa de 2012, aplica as técnicas que aprendeu a filmar documentário a uma ficção que tem muito de documental, acompanhando Miha, uma jovem pianista à beira de partir para uma academia, e o seu irmão mais novo, o hiperactivo e brincalhão Niki, durante alguns dias, e a sua relação com o pai astrofísico num agregado familiar em que a mãe é evocada mas nunca está presente. 3/4 é modesto, discreto, mas extremamente atento, na sua aparente menoridade, no seu naturalismo descomplexado, a uma série de questões importantes sobre as relações familiares sem querer estar a fazer grandes pronunciamentos sobre o assunto. E, aqui para nós, é melhor filme do que o compatriota que ganhou Locarno no ano passado.

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