Neymar no PSG: eis o maior negócio da história do futebol
Milionários franceses vão pagar os 222 milhões da cláusula de rescisão da estrela brasileira, mas a Liga espanhola acusa clube parisiense de "doping financeiro" e garante que não vai aceitar a transferência
No início deste século, quando o Barcelona colocou no topo da sua lista de reforços de Verão o nome de um jovem talento brasileiro, chamado Ronaldinho Gaúcho, o clube que lhe abriu as portas da Europa não teve argumentos para contrariar o “gigante” catalão. A vontade férrea do jogador e os 32,25 milhões de euros envolvidos no negócio não deixaram ao Paris Saint Germain (PSG) qualquer opção.
Estávamos na temporada de 2003-04. Passaram 14 anos e as posições inverteram-se drasticamente. O emblema da Cidade Luz é hoje sinónimo de riqueza, aparentemente ilimitada, e está prestes a desembolsar 222 milhões de euros para resgatar o também brasileiro Neymar à Cidade Condal. O maior negócio da história do futebol está iminente.
Os valores envolvidos são de suster a respiração para o cidadão comum. E até no extravagante mundo do futebol fazem cair o queixo. Até agora, a maior transferência de sempre de um jogador tinha chegado aos 117 milhões de euros, na passagem de Paul Pogba da Juventus para o Manchester United. Um ano volvido, o mercado de transferências volta a espantar o mundo e a levantar algumas questões. Como pode um clube abrir a bolsa desta forma e continuar a cumprir os critérios do fair-play financeiro imposto pela UEFA, para impedir a concorrência desleal dentro das quatro linhas? Para a Liga espanhola não pode, mas a UEFA não quer precipitar-se e aguarda a confirmação do negócio.
Pressionada a pronunciar-se acerca dos valores envolvidos na previsível transferência, a entidade que regula o futebol europeu foi cautelosa. “O PSG tem de respeitar as regras de fair-play financeiro, como todos os clubes da Europa. O impacto potencial da contratação de Neymar pelo PSG teria efeitos na economia do clube durante muitos anos”, avisou Andrea Traverso, director da comissão de licenciamento e fair-play da entidade: “É muito complicado julgar este tipo de operação com antecedência, já que não sabemos os planos do clube. Podem vender alguns jogadores por preço igual ou superior. Só podemos fazer cálculos depois e assegurar que as regras se cumpram.”
Bem mais contundente foi a reacção de Javier Tebas, presidente da Liga espanhola. “Não, não vamos aceitar o dinheiro de um clube como o PSG que, sem pertencer à nossa Liga, quer beneficiar de um direito da nossa organização e, acima de tudo, quando esse clube está a infringir leis e normas”, garantiu, esta quarta-feira, em entrevista ao jornal desportivo As, acusando o emblema francês de protagonizar “um claro exemplo de doping financeiro”. “Se o PSG aparecer com o dinheiro da cláusula de Neymar [que terá de ser remetido para a Liga, antes de transitar para o clube que vende], não o aceitaremos”, prometeu, deixando antever uma eventual batalha jurídica.
Uma posição musculada da Liga espanhola que, assumidamente, está empenhada em travar uma sangria das maiores vedetas das suas competições, atraídas pelos milhões das grandes potencias da Premier League, mas também dos novos milionários emergentes de outras paragens do futebol europeu, nomeadamente do PSG. Já em relação aos números que envolveram algumas das maiores transferências para o futebol espanhol, que tiveram o Real Madrid e o Barcelona como destinos, nos últimos anos, a entidade nunca se pronunciou.
E uma das mais polémicas destas contratações envolveu precisamente Neymar, há quatro anos, quando saiu do Santos rumo a Barcelona. A falta de clareza em relação às verbas envolvidas motivaram uma investigação judicial, com os catalães a serem condenados a pagar uma multa de 5,5 milhões de euros à Fazenda Pública. O caso motivou a demissão do anterior presidente Sandro Rosell.
Enquanto aguarda pela conclusão do negócio, Neymar [que irá ganhar qualquer coisa como 30 milhões de euros limpos em Paris, por cada uma das cinco temporadas que terá acordado com o PSG, segundo a comunicação social espanhola] começou já a queimar etapas e despediu-se dos seus companheiros, esta quarta-feira de manhã. O primeiro a reagir publicamente foi Messi, através da sua conta na rede social Instagram, onde publicou um emotivo vídeo, com fotos dos melhores momentos que passaram no Barcelona, acompanhada de uma mensagem: “Foi um prazer enorme compartilhar contigo todos estes anos, amigo Neymar.”
Uma amizade que cresceu, mas também se transformou numa rivalidade de estatutos, que terá pesado e muito para a saída da estrela brasileira. Com o argentino dificilmente seria a grande figura do Barcelona, reduzindo-se as probabilidades de vencer um “Balão de Ouro” [prémio da FIFA para o melhor jogador do mundo] num futuro próximo. Deixa os “blaugrana” após 186 partidas, 105 golos e 80 assistências, desfazendo o temível MSN, que protagonizou no ataque da equipa, com Messi e Suarez. Era o mais novo do trio e o Barcelona continua inconsolável, exigindo ao PSG que pague até ao último cêntimo a cláusula de rescisão. Os adeptos já deram o seu veredicto, comparando o jogador a Figo (que abandonou a catalunha em 2000 para reforçar o rival Real Madrid), acusando-o de ser “mercenário” e “traidor”.