Para onde vira a cabeça num beijo romântico? Se for para a direita, faz parte da maioria

Beijar tem muito que se lhe diga. Um novo estudo com dados de países ocidentais e não ocidentais revela que, além da maioria das pessoas inclinar a cabeça para a direita, são os homens (nos casais heterossexuais) que iniciam quase sempre o beijo romântico.

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O beijo pode ser estudado na perspectiva da lateralidade do corpo humano enric vives-rubio

Se pensarmos num gesto romântico, vem-nos logo à cabeça um beijo. E para o amor ficar mesmo no ar, pense num beijo na boca. Foram os segredos desse beijo que cientistas da Universidade de Bath Spa (no Reino Unido) e da Universidade de Dhaka (no Bangladesh) quiseram desvendar. Qual o resultado deste teste romântico? A maioria das pessoas quando beija inclina a cabeça para a direita. Portanto, se vira a cabeça para a esquerda, está em minoria. Mas há mais: entre os casais heterossexuais, os homens iniciam 15 vezes mais um beijo do que as mulheres; e se é destro tem maior tendência a virar a cabeça para a direita quando beija, mas se for canhoto roda mais a cabeça para a esquerda.

Este estudo sobre o beijo foi publicado recentemente na revista Scientific Reports, do mesmo grupo da revista Nature. Não é o primeiro estudo do género a ser feito no mundo. Em 2003, foi publicado um artigo na Nature em que os cientistas observaram 124 casais a beijarem-se em aeroportos, estações de comboios, praias ou parques nos Estados Unidos, na Alemanha e na Turquia. Percebeu-se que 64,5% dos casais virava a cabeça para a direita e 35,5% a virava para a esquerda. Depois desse estudo, outros têm confirmado estas observações. Outro trabalho mais recente, de 2016, na revista Laterality: Asymmetries of Body, Brain and Cognition, estabelecia distinções, dizendo que a lateralidade durante o beijo depende do contexto: existe a tendência para virar a cabeça para a direita nos casais românticos quando se beijam na boca, mas que numa situação de beijo entre pais e filhos (no rosto) há a tendência para inclinar a cabeça para a esquerda.

Agora, o estudo foi feito também com casais num contexto não ocidental. Foram observados 48 casais heterossexuais casados do Bangladesh, onde o beijo não é tão visto em público como no ocidente. Por exemplo, enquanto no mundo ocidental vemos um beijo na televisão e no cinema, no Bangladesh isso já não é tão frequente, de acordo com um comunicado da Universidade de Bath Spa. Esta é assim a primeira investigação sobre a inclinação da cabeça durante o beijo com um contexto não ocidental, refere o mesmo comunicado.

Neste estudo, os casais beijaram-se nas suas casas e depois entraram em salas separadas para contar a sua experiência. Viu-se então que cerca de dois terços dos iniciadores do beijo e dos receptores do beijo viravam a cabeça para a direita. Além disso, os homens iniciavam o beijo cerca de 15 vezes mais do que as mulheres.

E o facto de se ser destro ou canhoto também tem a sua importância ao beijar. Se for destro, vai ter tendência para virar a cabeça para a direita e se for canhoto provavelmente vai virá-la a para o lado esquerdo. Isto caso seja o iniciador do beijo. Se for o receptor, irá ter tendência para seguir o seu parceiro.

Parece que o beijo é bastante complexo e poderá assim estar relacionado com as ciências cognitivas e as neurociências. “Estes resultados interessantes são explicados pela influência da aprendizagem social ou das normas culturais e por uma potencial base neurofisiológica, que em conjunto trazem novas revelações sobre os mecanismos subjacentes ao comportamento de preferência lateral nos humanos”, lê-se no artigo científico. “Está bem documentado que os humanos têm tendência para virar a cabeça para a direita numa série de situações. Por exemplo, a maioria das crianças recém-nascidas prefere baixar a cabeça para a direita em vez da esquerda. Surpreendentemente, até os fetos humanos preferem virar a cabeça para a direita nas semanas finais de gestação”, refere ainda o artigo. “Se esta tendência fundamental é inata e se se estende até à vida adulta é uma questão persistente para as neurociências e a psicologia”, acrescenta, segundo o comunicado, o primeiro autor do estudo, Rezaul Karim, do Departamento de Psicologia da Universidade de Dhaka.

Também se observou que quando os participantes no estudo imitavam os movimentos da cabeça de uns dos outros enquanto beijavam, tanto os iniciadores como os receptores do beijo ficavam desconfortáveis. Os cientistas sugerem então que o acto de beijar é determinado pela forma como o cérebro distribuiu as tarefas pelos dois hemisférios. E que diferentes níveis hormonais (como a testosterona) e neurotransmissores (substâncias químicas mensageiras entre os neurónios, como a dopamina, envolvida em comportamentos de recompensa) podem ser distribuídos de forma diferente pelos hemisférios cerebrais, dando assim origem a que a cabeça tenha tendência para se inclinar para a direita.

“Este é o primeiro estudo que mostra diferenças entre os sexos na iniciação do beijo, com os homens a serem mais os iniciadores, e também que o virar da cabeça dos iniciadores do beijo tende a modular a direcção para onde viram a cabeça os receptores do beijo”, sublinha Rezaul Karim. “Com base no nosso trabalho teórico anterior, podemos agora criar novas hipóteses sobre a base neuronal deste comportamento.” Por sua vez, Michael Proulx, do Departamento de Psicologia da Universidade de Bath Spa e também autor do trabalho, acrescenta: “Este estudo é único, uma vez que nos dá um olhar sobre o comportamento privado numa cultura privada com implicações para toda a gente. Trabalhos anteriores não excluíam a aprendizagem cultural porque só tinham amostras ocidentais. Acontece que, como humanos, somos semelhantes mesmo que os nossos valores sociais sejam diferentes.”

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