"(…) o homem português, mais do que interessado em moda, preocupa-se cada vez mais com a sua imagem e, quase sem querer, uma coisa leva à outra."
Smoking
Esta crónica não versa sobre o traje de cerimónia masculino, mas, como me vou debruçar sobre os homens (não todos, apenas alguns, concretamente os quatro que escolhi), pareceu-me bem designá-la assim.
Compreenderei eu os homens ao ponto de conseguir escrever sobre o que vai nas suas mentes ariscas e enigmáticas? Claro que não, e foi por isso que lhes pedi ajuda. Tudo começou numa linda manhã solarenga, quando o J., um colega de trabalho, me disse que as crónicas que aqui escrevo são de gaja. Antes que lhe pudesse responder (e estando já o dia algo mais nublado), concluiu: "Quer dizer, mas tu és gaja, logo, escreves como tal!" Pois.
Isso deu-me a ideia de tentar responder, de forma express, às dúvidas mais prementes de alguns homens, e foi assim que questionei quatro exemplares que me são próximos, incluindo o J., sobre o que é que gostavam de ler, se pudessem escolher um tema relacionado com moda.
O C., o mais interessado pela área de entre dos meus inquiridos, informou-me que gostava de ler sobre o crescimento do interesse dos homens portugueses pela moda.
Meu querido C., parece-me que o homem português, mais do que interessado em moda, preocupa-se cada vez mais com a sua imagem e, quase sem querer, uma coisa leva à outra. Há, no entanto, projectos bem curiosos a acontecer: googla, por exemplo, Portuguese Dandys, sei que vais adorar. Já o meu irmão, um maluquinho da sobrevivência (aquele tipo de pessoa que gosta de ir para o mato fazer fogueiras com pedras e comer ervas que sabem sabe-se lá a quê), gostava de ler sobre roupa indicada para o efeito.
Diria que são essenciais as botas todo-o-terreno, as calças de material resistente e de rápida secagem e uma cobertura para a cabeça que proteja do sol e evite a perda de calor quando ficar frio para caraças. Já no campo do bem-estar, um protetor solar e um repelente da bicharada também devem revelar-se úteis.
O J. não almeja ler sobre nada em especial, mandou antes uns bitaites que lhe parecem pertinentes. Não gosta dos gajos que usam calças justas e subidas (a uns quatro centímetros acima do tornozelo), nem dos que calçam sapatos com sola vermelha e/ou branca. Detesta ver homens com barba mais relógio Timberland, não simpatizando com barbas em geral: se um gajo todo beto usar barba de 15 dias é de direita, e isso é considerado chique pela sociedade; se for um homem descontraído a usá-la é de esquerda, não há que enganar.
O J. acha ainda que as mulheres deliram com quem tenha um automóvel branco a brilhar (não sei onde foi buscar a ideia, mas ele lá deve saber).
Finalmente, o meu homem — o traidor — disse que o interesse dele sobre moda é nulo, mas se o tema for de gajo gostava de ler sobre futebol.
Babe, estou para o futebol como tu estás para a moda, por isso continua a dedicar-te aos jornais desportivos, está bom? Quando quiseres ler sobre algo com interesse fala comigo que dou um jeito, se entretanto conseguir ultrapassar este revés na nossa relação.
Top
A definição diplomática diz que é uma peça de roupa superior que cobre o corpo no sentido do pescoço até à cintura. Eu gosto mais da minha designação, segundo a qual top é a peça que tapa as mamas e mostra a barriga. Sobre este tipo de top tenho muito pouco a dizer, deixo apenas um conselho rápido às meninas mais calorentas: se têm um pneuzito deixem os tops a hibernar até ele desaparecer, ok? Simples e eficaz.
O que quero mesmo é falar do top enquanto termo que designa fantástico, o máximo, maravilhoso, muito bom e afins. Sei que há muita gente (com mais de 25 anos, parece impossível) a utilizar a expressão (a noite de ontem foi top, aquela música é top, comprei um top que é top, o jantar estava top) e pergunto-me: não podem utilizar uma qualquer outra interjeição substitutiva? Top irrita-me sobremaneira e desconfio que quem utiliza a palavra sofre de síndrome de Peter Pan (não tenham medo de reconhecê-lo, eu própria descobri, não faz muito tempo, que sofro do síndrome de pedantismo gramatical e, em ambas as situações o reconhecimento é o passo mais importante para a cura).
Pior do que top só mesmo LOL, que pode assumir dois níveis de gravidade: o nível constrangedor —quando escrito —, e o nível insuportável, se dito.
Usem emojis, escrevam ou digam "ahahahah", riam-se de forma despropositada, não interessa, mas parem de utilizar o LOL, por favor. É que, neste caso, ao síndrome de Peter Pan pode estar associado o síndrome de Alice no País das Maravilhas e isso não pode dar bom resultado. Pensem bem na vida, o de onde venho, quem sou, para onde vou, e equilibrem prioridades. Se, ainda assim, não conseguirem desvincular-se na totalidade do acrónimo, usem-no na versão David Cameron, que o escrevia às pessoas mais próximas porque pensava que significava lots of love. Desculpável e tão mais fofinho.