Alberto Martins deixa Parlamento 30 anos depois
O histórico dirigente estudantil de Coimbra dos anos 60 foi ministro da Reforma do Estado e da Modernização Administrativa de Guterres e ministro da Justiça no segundo mandato de Sócrates. Decidiu sair a meio de uma legislatura em que não assumiu nenhum cargo.
Trinta anos depois de ter assumido as funções de deputado pela primeira vez, Alberto Martins, participa esta quarta-feira no seu último plenário parlamentar. O histórico dirigente da crise estudantil de Coimbra em 1969 decidiu sair a meio de uma legislatura em que não assumiu nenhum cargo de relevo.
Antes do início das votações, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, anunciou "como um momento triste" a renúncia de Alberto Martins e todas as bancadas se levantaram e aplaudiram de pé o mais antigo deputado em funções.
"Saio por decisão pessoal, mas continuo empenhado na vida política", disse Alberto Martins, com a voz embargada. Nas suas palavras, o parlamento é "a instituição real e viva da liberdade institucional", "um lugar de honra da República", "o lugar constituinte da democracia". Após as palavras de despedida, Alberto Martins voltou a ser longamente aplaudido de pé por todos os deputados.
Com 72 anos, Alberto Martins era o mais antigo parlamentar em funções. Foi ministro por duas vezes, primeiro no Governo Guterres, quando assumiu a pasta da Reforma do Estado e Modernização Administrativa (que existia pela primeira vez), e depois no segundo mandato de José Sócrates, enquanto ministro da Justiça.
À excepção destes dois períodos, passou os últimos 30 anos no Parlamento, onde teve uma intensa carreira. Por duas vezes foi líder parlamentar (2005-2009 e 2013-2014) e foi presidente de várias comissões parlamentares – Assuntos Constitucionais (1995-1999), Negócios Estrangeiros (2011-2013) e comissão eventual para a Ética e Transparência dos políticos (1995). Foi também vice-presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e da União da Europa Ocidental entre 1997 e 1999.
Alberto Martins fez do Secretariado do PS de António José Seguro e esteve ao lado deste durante a disputa com António Costa, em 2014. Sai agora do Parlamento por vontade própria, a meio da legislatura. A última vez que se dirigiu ao plenário foi na cerimónia do 25 de Abril deste ano, data que coincide com o seu aniversário.
Na altura, defendeu a recusa do "conformismo" e a promoção e defesa de uma "nova ética de responsabilidade", com subordinação do poder económico ao político.