China criticada por tentar “apagar” referências a Liu Xiaobo online
Redes sociais chinesas acusadas de bloquearem mensagens relacionadas com o activista chinês Liu Xiaobo para evitar a divulgação de mensagens de apoio após a sua morte.
A China reforçou o controlo que exerce nas redes sociais após a morte do Nobel da Paz e dissidente chinês Liu Xiaobo, na semana passada. Mensagens com o nome completo do activista, imagens de apoio, ou combinações das palavras “Xiabo” e “morte” estão a ser eliminadas das redes sociais quer apareçam escritas em inglês ou mandarim, de acordo com uma análise recente feita pelo Citizen Lab, um laboratório de investigação da Universidade de Toronto.
“O WeChat [uma aplicação de mensagens] emitiu uma proibição geral ao seu nome após a morte, expandido amplamente o alcance da censura”, escrevem os responsáveis pela investigação publicada este domingo. Além do WeChat (que tem mais de 768 milhões de utilizadores diários), a análise do Citizen Lab foca-se no Weibo, a alternativa chinesa ao Twitter. Tratam-se das duas maiores plataformas online no país.
Quem envia mensagens de luto ou apoio sobre Xiabo também não percebe que as suas mensagens estão a ser bloqueadas. “A censura não é transparente”, acusam os investigadores do Citizen Lab, que publicaram as imagens dos testes que realizaram nas redes sociais onde se vê que o emissor não recebe nenhuma notificação de que a sua mensagem não está a chegar ao destinatário.
O controlo é maior em conversas de grupo. “Encontramos que mais combinações de palavras estão bloqueadas em conversas de grupo, onde as mensagens podem atingir uma audiência de até quinhentos utilizadores”, lê-se no relatório. Entre as imagens bloqueadas encontram-se fotografias de Liu Xiaobo, ou de pessoas a celebrar a sua vida.
Antes da morte de Xiaobo, as plataformas apenas bloqueavam mensagens que continham o nome do activista junto com referências ao seu historial médico ou aos pedidos recorrentes para ser libertado para receber tratamento do estrangeiro. Liu Xiaobo estava preso no país desde 2008 por ter participado na elaboração da Carta 08, um documento assinado por centenas de activistas dos direitos humanos chineses para promover a reforma política e a democratização na República Popular da China. Xiaobo foi acusado de tentar “subverter as instituições do Estado”, e as autoridades chinesas apenas lhe deixaram sair em liberdade condicional no final do mês passado por razões médicas.
A divulgação de directivas confidenciais pelo portal de notícias China Digital Times, que também tenta combater a censura nos media chineses da sua sede na Califórnia, mostra que os grupos de media chineses recebem mais pressão após eventos sensíveis. Por exemplo, no final de Junho o governo chinês terá exigido aos sites chineses que não publicassem ou partilhassem informação sobre o historial médico de Liu Xiaobo.
Alguns utilizadores têm conseguido combater o aumento do controlo ao referirem-se ao dissidente como “Irmão Liu", ou através da publicação de publicações vagas como simples imagens de velas. Muitos dos apoiantes de Liu Xiaobo acreditam que o activista foi cremado – com as cinzas a serem lançadas ao mar – para evitar que a população e visitantes no país pudessem prestar homenagem ao Nobel da Paz junto da sua sepultura.
Porém, o aumento do controlo após a morte do activista mostram o poder cada vez maior que a China exerce nos media do país dentro e fora da Internet. Também no mês passado, vários dos gigantes tecnológicos do país (entre os quais a Alibaba, a Weibo, e a Tencent que é a dona do WeChat) aceitaram as exigências do Governo para promover as opiniões do Estado na Internet e evitar comentários de humor a respeito do mesmo. Esta segunda-feira, por exemplo, vários utilizadores nas redes sociais notaram como o nome e algumas imagens da personagem Winnie the Pooh (o urso guloso dos contos infantis do autor Alan Alexander Milne) também desapareceram da rede social chinesa Weibo no seguimento de comparações de humor entre Pooh e o Presidente Xi Jinping.