A história da cidade do Porto vai ter um museu só para ela
Futuro pólo do Museu da Cidade deverá abrir em Outubro de 2018 no antigo Reservatório de Água do Parque da Pasteleira. Reabilitação do edifício custa 700 mil euros
O antigo reservatório de água do Parque da Pasteleira vai acolher um novo pólo museológico dedicado à história da cidade do Porto. É o novo pólo do Museu da Cidade que, nas suas diversas vertentes, tem vindo a ser reabilitado e tem já uma nova imagem. A reabilitação do reservatório, que vai nascer num edifício que esteve escondido dos olhos do público durante anos, custa cerca de 700 mil euros. O futuro Museu da História da Cidade do Porto deve abrir portas em Outubro do próximo ano.
O arquitecto Sérgio Fernandez, do Atelier 15, que partilha com Alexandre Alves Costa, recordou como a primeira visita feita ao reservatório da Pasteleira foi difícil. “Tivemos que entrar por uma tampa de saneamento, com tudo às escuras, e o edifício completamente coberto de [relva] verde”, disse, esta sexta-feira, na apresentação do projecto para o novo museu. O arquitecto falava já no edifício semi-reabilitado e liberto da terra que o cobriu em tempos, mostrando-se totalmente branco, com os diversos arcos e pilares que compõem a estrutura central a captarem toda a atenção.
A trabalhar sem programa, os arquitectos optaram por “deixar o espaço tal como estava e evidenciar a rudeza dos materiais que o constituem”, abrindo o edifício ao jardim e tirando o talude que o escondia. “Optamos por pintá-lo de branco para que a rudeza fosse bem visível”, explicou Sérgio Fernandez. A juntar a isto, foram abertos quatro lanternins, que conferem luminosidade ao interior. Dois deles têm escadas que conduzem à cobertura, onde a terra que cobre o chão vai ser substituída por relva, criando-se um palco ao ar livre. O que aí acontecer poderá ser assistido através dos quatro pequenos anfiteatros que descem das quatro aberturas criadas no topo do edifício.
Enquanto a reabilitação do edifício está contabilizada em cerca de 700 mil euros, o programa do futuro museu e o respectivo custo ainda não estão definidos, mas Alexandra Lima, chefe da divisão municipal de Museus e Património Cultural, explicou que ela será centrada em vários momentos da história da cidade, tendo como fio condutor, a água. “Estará aqui representado o Cerco do Porto, os torna-viagem, a implantação da República, a ligação da cidade ao rio Douro e ao mar”, disse, durante a apresentação. Tudo, apresentado “num discurso multimédia em diálogo com os objectos”, que será preparado pelos arquitectos, o pessoal do pelouro da Cultura e o cenógrafo João Paulo Ribeiro, que está a trabalhar noutros projectos envolvendo o policêntrico Museu da Cidade.
O Reservatório da Pasteleira faz parte do património da empresa municipal Águas do Porto. Desde 2008, ainda durante o mandato de Rui Rio, que se pensou em reabilitar espaços como este e dar-lhes nova utilização. Na manhã desta sexta-feira, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, diz que para este local chegou a estar prevista a instalação de “campos de paddle”, mas que a ideia acabou por ser afastada, desde logo, pelos potenciais ocupantes, ao perceberem o valor patrimonial do espaço. O autarca destacou o carácter descentralizador da instalação do futuro pólo museológico num jardim que, apesar de totalmente reabilitado, ainda “precisava de uma nova utilização”. A este nível, também a abandonada cafetaria do Parque da Pasteleira deverá beneficiar com a obra, uma vez que as valências de loja e cafetaria do futuro museu se irão instalar nesse espaço, acrescentou.
Durante a apresentação do futuro pólo e da imagem do Museu da Cidade, Alexandra Lima aproveitou para fazer um balanço da reabilitação de outras unidades museológicas do município, que tinham sido submetidas a uma candidatura europeia, no âmbito do programa Norte 2020.
A Casa-Museu Guerra Junqueiro já reabriu, em Março, e a Casa Marta Ortigão Sampaio está quase a abrir as portas, também requalificada. Ainda em obras continuam o Museu Romântico e a Casa Tait, que será um futuro centro de interpretação dos Caminhos do Romântico. A sede do serviço educativo municipal vai também ser instalada numa antiga escola primária, junto à Casa Tait. Todos estes espaços foram intervencionados segundo projectos do arquitecto Camilo Rebelo e de Andreia Soutinho e foram alvo de uma candidatura de quase 1,6 milhões de euros, comparticipada em 85%. De fora, ficou a transferência do Museu do Vinho do Porto para o antigo edifício do CRAT – Centro Regional de Artes Tradicionais, na Rua da Reboleira, cuja candidatura autónoma está em fase de revisão, depois de ter sido “contestada”, explicou Alexandra Lima.
A ser preparada está ainda a transferência do Gabinete de Numismática e do Banco de Materiais, do Palácio dos Viscondes de Balsemão, e também a instalação das Reservas dos Museus Municipais do Porto no antigo Abrigo dos Pequeninos. A abertura do percurso subterrâneo do Rio de Vila é que está atrasada e, para já, sem qualquer data. Rui Moreira explicou que a intervenção foi afectada pelo anúncio da nova linha de metro, já que a entrada para o percurso subterrâneo, junto à estação de S. Bento será afectada por esse projecto.