Costa tenta dissipar nuvens sobre a Defesa
Primeiro-ministro declarou confiança na cadeia de comando das Forças Armadas e no ministro da Defesa e acredita que estão a ser tomadas medidas para que Tancos não se repita.
A imagem impunha-se antes do debate do Estado da Nação: António Costa apareceu ontem ao fim da tarde ao lado do ministro da Defesa e dos quatro militares do topo da cadeia de comando, todos alinhados e em aparente sintonia, a garantir que existem condições para que o país confie nas Forças Armadas tal como o primeiro-ministro confia nas chefias militares. E no ministro também.
Ao fim de quase duas semanas de ter sido conhecido o roubo de material militar dos paóis de Tancos, o chefe de Governo chamou à sua residência oficial o ministro da Defesa Nacional, assim como a hierarquia militar que na véspera jantara com o Presidente da República – o chefe de Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Pina Monteiro, e os chefes dos três ramos, Exército, Força Aérea e Marinha.
O tema era a segurança das instalações militares e as declarações no final – as primeiras feitas publicamente pelo primeiro-ministro e pelo CEMGFA – apontavam para duas conclusões: a desvalorização do roubo do material militar de Tancos e a declaração de confiança na cadeia de comando.
“Declaro a confiança do Governo em toda a cadeia de comando das Forças Armadas”, afirmou António Costa, garantindo que todos os chefes militares se manterão em funções, depois de terem sido “tiradas as lições e tomadas as medidas de segurança” necessárias para que roubos como o de Tancos não se voltem a repetir.
“O Governo fica tranquilo quando os chefes militares asseguram ao país a segurança das instalações militares”, acrescentou, depois de ter ouvido Pina Monteiro garantir, perante os jornalistas, que “vão ser tomadas, no curto e no médio prazo”, as medidas de segurança identificadas como essenciais.
Só quando questionado directamente é que o chefe de Governo declarou apoio ao ministro da Defesa: “O senhor ministro tem toda a confiança do primeiro-ministro”, afirmou Costa, logo insistindo nos elogios às chefias militares. “Agradeço a ombridade com que as Forças Armadas, e em particular o chefe de Estado Maior do Exército, assumiram as responsabilidades”, afirmou.
Foi a forma encontrada para tentar pôr fim ao mal-estar que na última semana transbordara das discretas fileiras militares, com o chefe de Estado Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, debaixo de fogo interno por ter suspenso (ou exonerado temporariamente, como anunciou) os cinco comandantes com responsabilidade na base de Tancos. Uma manifestação foi marcada e desmarcada para as portas da Presidência da República e dois tenentes-generais anunciaram sábado a sua demissão em divergência com Rovisco Duarte.
Também a cabeça do ministro Azeredo Lopes estava a ser pedida, a nível político pelo CDS-PP, e a nível militar por alguns militares na reserva que se foram fazendo ouvir nas redes sociais e na comunicação social. Na ausência de António Costa na semana passada, em férias, foi o Presidente da República, que também é o Comandante Supremo das Forças Armadas, que surgiu ao comando do dossier Tancos – base que decidiu visitar há uma semana, levando consigo o ministro, o CEMGFA e o CEME.
Foi a tudo isso que António Costa quis pôr cobro com a reunião de ontem, mas sobretudo com a imagem final do alinhamento do Governo com as chefias militares.
Questionado sobre se não seria tarde demais, o primeiro-ministro considerou que não, pois assim houve tempo de fazer uma "avaliação detalhada" da situação. E afirmou que, antes de ir de férias, tinha recebido da secretária-geral do Sistema de Segurança Interna a garantia de que aquela ocorrência "não teria grande impacto no risco da segurança interna, designadamente associação a qualquer risco de actividade terrorista nacional ou internacional".
Sobre o caso em si, ou sobre o que está a ser feito para prevenir que outros Tancos se repitam, pouco ou nada adiantaram Pina Monteiro ou António Costa. O primeiro-ministro remeteu para a justiça a investigação do crime, enquanto o CEMGFA avisou que não diria quais as medidas preventivas em curso, precisamente para garantir a segurança.
"Depois de um soco no estômago, os chefes militares levantaram a cabeça", tiraram "as lições que havia a tirar" e agora as medidas de segurança que se impõem "vão ser tomadas no curto e no médio prazo", afirmou Pina Monteiro. "Não caímos, estamos direitos e prontos a garantir a confiança dos portugueses nas Forças Armadas", acrescentou.
E deixou passar a ideia de que, afinal, o "desaparecimento" de material militar em Tancos não foi assim tão grave: "O material roubado está avaliado em 34 mil euros". E os lança-granadas foguete, que considerou ser o equipamento com mais significado em termos de perigo, “não tem relevância", disse. "Provavelmente não poderão ser utilizados com eficácia porque estavam para ser abatidos".