Toda a minha vida me lembro de ser muito opinativa: para toda e qualquer situação tinha sempre um parecer a dar e tinha sempre grande vontade de partilhar esse meu parecer com o mundo. O incremento da Internet e, sobretudo, o aparecimento de redes sociais como o Facebook foram, para uma faladora nata como eu, o nascer de um novo mundo. Aí tinha a possibilidade de não só dar a conhecer as minhas opiniões sobre o mundo, os seus acontecimentos e até os seus “não acontecimentos” como, e melhor que poder dar a minha opinião a qualquer hora, tinha a possibilidade de ter público a ouvir-me a qualquer hora. Assim sendo, passei a usar (não diria a abusar) as redes sociais apresentando, alternadamente, a minha satisfação por pequenos acontecimentos pessoais ou grandes acontecimentos nacionais e internacionais. Contudo, e é de facto algo estranho tendo em conta o boom de blogues a que assistimos, sempre fui expondo as minhas ideias apenas e só na minha página pessoal, de um modo breve e conciso, não me dedicando muito à escrita. Este ano, depois de muitas vezes ser incentivada a fazê-lo, e numa espécie de decisão de novo ano (posta em prática no mês de fevereiro) criei o meu próprio blogue e uma página no Facebook (Steff’s World – A Soma dos Dias) onde passei a expor, por escrito, tudo aquilo que me fazia sentido: desde os fait-divers a acontecimentos importantes na vida nacional e/ ou internacional. Criados blog e página, dei o passo seguinte: convidar todos aqueles que eram amigos na página pessoal e tentar criar uma rede de leitores. Mas, cedo isso deixou de ser motivador, até porque o número de leitores era, nos inícios, bastante irrelevante. Como tal, e algum tempo depois, comecei a enviar crónicas minhas para algumas revistas/ suplementos de jornais que sabia publicarem textos e crónicas de ilustres desconhecidos. E a verdade é que os textos foram sendo aceites, publicados, e eu adquiri o direito de ser lida por mais do que um punhado de amigos fiéis. E esta é a parte bonita e interessante desta história toda. Mas, ligada a esta possibilidade de ser lida por um público mais vasto veio algo com que nunca tinha contactado de perto e que me tem feito pensar imenso no assunto: a violência verbal que algumas pessoas usam quando estão nas redes sociais.
Pelas razões que referi tenho estado mais atenta a este “fenómeno” e tenho que revelar que estou um pouco assustada com “essa gente” que denomino de portuguesa. A título de exemplo citarei duas situações: a publicação de uma das minhas primeiras crónicas num suplemento de âmbito nacional era sobre um assunto que gerou muita controvérsia. Claramente se dividiram as hostes entre quem entendia e quem condenava. Sendo um assunto algo polémico, houve vários comentários. Quando verifiquei o número de leituras que a crónica tinha e, sobretudo, a quantidade de comentários, fiquei curiosa em lê-los. E assumo que, depois de ler, fiquei algo admirada. Admirada porque, por um lado, a grande parte das pessoas que comentaram o texto, fizeram-no porque não concordavam comigo (isso é ótimo porque, como se diz, da discussão vem a luz). Por outro lado, fiquei admirada, para não dizer espantada, com a forma agressiva como as pessoas demonstraram não concordar comigo. Relembro particularmente de uma senhora que numa frase lapidar resumiu o seu ponto de vista desta forma: “olha, outra anormal, como ele” (Sendo” ele” o sujeito de quem falava a crónica) ou de um outro senhor que me disse que só defendia o indefensável porque era paga para isso (?) Falei disso com um colega que, mais conhecedor destas lides, uma vez que costuma publicar há já algum tempo, me disse que, para bem da minha sanidade mental, não lesse muito os comentários. Percebi que é, de algum modo, habitual, o tipo de comentário agressivo e muito pouco construtivo.
Outro exemplo a que dei atenção nos últimos tempos prendeu-se com a mais recente capa da revista Cristina onde aparecem dois casais homossexuais a beijarem-se. O nível dos comentários que se podem ler sobre estas capas é assustador. A ideia de que somos um país que aceita livremente qualquer tipo de amor é, afinal, falsa. Encontramos homofóbicos escondidos atrás dos ecrãs com maior facilidade do que encontramos gatos na rua. O nível de violência é altíssimo. Desde a linguagem, utilizando as imagens mais vulgares que se possa imaginar, e que me recuso aqui a transcrever, a frases “cheias de luz” referindo que a homossexualidade é obra do demónio, acabando em frases que referem que têm pena que “essas práticas sujas não sejam condenadas”. E a agressividade não se fica por aqui! A própria Cristina acaba por ser violentada: porque traz à luz essas “sem-vergonhices” ou, veja-se, porque sabe que o assunto é sensacionalista e está a fazer dinheiro através do tema (só isso explica o facto de a senhora falar de um assunto tão pouco próprio). Todos são arrastados por uma lama de comentários absolutamente aterradores.
O que me assusta no meio disto tudo? O ser humano e a forma como atuamos. Quando estamos protegidos pela tela de um ecrã permitimo-nos mostrar o que de pior existe em nós. Não estamos preocupados com o bem parecer e dizemos (e escrevemos) tudo o que nos passa pela cabeça. Debater opiniões em redes sociais é proibido. Há que impor, da forma menos agradável e mais ofensiva, a nossa opinião, não aceitando que possam existir outros pontos de vista. Constato que, afinal, a opinião sobre a questão da homossexualidade não é tão pacífica como se poderia pensar num ano de 2017. Verifica-se que este país de brandos costumes vive com muitos preconceitos escondidos. Isto fica patente quando existe a possibilidade de dar a opinião sem dar a cara. Concluo que, afinal, somos menos pacíficos do que pensávamos; afinal somos menos liberais quanto aos direitos dos outros que supúnhamos; afinal, somos mais pela guerra do que pela paz…
Estes são apenas dois exemplos… muitos mais poderiam ser aqui comentados. Contudo, estes dois exemplos ilustraram, com grande facilidade, a violência que se passeia no submundo que são as redes sociais. Assusta-me pensar que, ao abrigo de uma tela de ecrã, revelamos a nossa essência e que essa essência é tão feia e tão violenta.