Precursor do estilo de vida "macrobiótico" em Portugal desapareceu em sessão de mergulho
Alerta para o desaparecimento de Francisco Varatojo foi dado ao final da manhã. Operações de busca ao largo do Cabo Espichel, em Sesimbra, estarão suspensas durante a noite.
Francisco Varatojo, um dos principais defensores do estilo de vida "macrobiótico" em Portugal, desapareceu ao final da manhã desta quinta-feira, durante uma sessão de mergulho ao largo do Cabo Espichel, Sesimbra. A notícia foi avançada pelo Jornal de Notícias e depois confirmada à Lusa pela escola de mergulho Megadive, que alugou a embarcação ao grupo de mergulhadores. "Infelizmente, posso confirmar que o mergulhador desaparecido é o senhor Francisco Varatojo, numa situação que lamentamos muito. Era um grupo que costumava mergulhar", disse Leandro Pereira, da Megadive, à agência de notícias.
O comandante do Porto de Setúbal, o capitão-de-fragata Luís Lavrador, explicou ao PÚBLICO que o desaparecimento se deu quando um grupo de pessoas, que se encontrava a realizar uma sessão de mergulho, estava a iniciar “o processo de subida à superfície”. Os restantes mergulhadores deram pelo desaparecimento de uma pessoa já à superfície “e ainda o tentaram socorrer”, relata o comandante. O grupo deu, de seguida, o sinal de alerta para o sucedido através da embarcação alugada.
De acordo com o JN, Francisco Varatojo saiu para o mar com quatro mergulhadores certificados.
Depois de dado o alerta, foram deslocados quase de imediato mergulhadores da Polícia Marítima ao local, mas ainda sem resultados. A operação de busca esteve a decorrer com "uma série de meios", informou Luís Lavrador.
As buscas foram suspensas depois do pôr-do-sol de quinta-feira, disse o capitão do Porto de Setúbal à Lusa. "Neste momento, as buscar ainda estão a decorrer. Ainda aqui estão meios da Polícia Marítima, Força Aérea e Instituto de Socorros a Náufragos, mas muito em breve vão ser suspensas, devido ao pôr do sol", disse Luís Nicholson Lavrador, cerca das 21h00. O responsável referiu que as buscas têm estado a decorrer sem sucesso e que serão retomadas logo ao nascer do dia, cerca das 7h. "Vamos agora suspender as buscas e retomar logo pela manhã", acrescentou, confirmando mais uma vez a identidade da pessoa desaparecida.
Fonte do Centro Coordenador de Busca e Salvamento Marítimo adiantou à agência Lusa que as buscas foram retomadas às 06h30 de sexta-feira com vários meios da Polícia Marítima e uma aeronave da Força Aérea.
Seguidor de Michio Kushi
Francisco Varatojo fundou em 1985, com Eugénia Varatojo, o Instituto Macrobiótico de Portugal. A organização tem como objectivo “partilhar e desenvolver uma série de saberes relacionados com saúde e bem-estar, alimentação natural e estilos de vida mais saudáveis e ecológicos”. Para isto formou uma “vertente formativa que se considerava inexistente em Portugal”, lê-se no site do instituto. Tudo isto é alcançado através de “palestras regulares, actividades em escolas, cursos de culinária, publicações em revistas, organização de seminários e programas residenciais”.
Um dos eventos mais conhecidos organizado pelo Instituto Macrobiótico é o Festival Zimp, que pretende ser uma alternativa de “férias na Natureza” e onde é criado um “espaço para se estar em harmonia” e onde “se respira ar puro e alegria”. Este ano o festival decorre entre os dias 31 de Julho e 6 de Agosto na Quinta de Crestelo na Serra da Estrela.
Natural de Leiria, Varatojo entrou no mundo da macrobiótica nos anos 70 quando, com 17 anos, atravessou o Atlântico rumo aos Estados Unidos para estudar mais sobre a prática com Michio Kushi, o introdutor da macrobiótica em terras norte-americanas. Nos anos 80 regressou a Portugal já com o objectivo de trazer esta dieta e estilo de vida para o país. Em 1985 fundou, juntamente com a mulher, o então Instituto Kushi de Portugal, que depois se tornou o actual Instituto Macrobiótico.
Em entrevista à Revista Progredir, Varatojo dizia que nos últimos 30 anos teve a oportunidade de ensinar “a milhares de pessoas os fundamentos de uma vida mais saudável e de uma alimentação adequada”. “Neste meu percurso, fui suficientemente afortunado por poder dar aulas e conferências em quase todo o Mundo, pelo que pude ganhar uma boa perspectiva das aspirações humanas universais e de como, um pouco por todo o mundo, a saúde e o ambiente se começam a degradar devido a uma modo de vida e de uma alimentação cada vez mais afastados da Natureza”, afirmou na mesma entrevista.
Sobre a dieta macrobiótica, o aspecto mais conhecido deste estilo de vida, explicava que "a cozinha macrobiótica está baseada em métodos tradicionais, é maioritariamente baseada em alimentos de origem vegetal, tem em consideração aspectos geográficos e sazonais, dá preferência a alimentos cultivados de forma orgânica”. “Os cereais integrais, vegetais, leguminosas, sementes, oleaginosas e frutos são a base da alimentação”, lê-se ainda. Varatojo distinguia, no entanto, esta dieta do tradicional vegetarianismo: “A alimentação macrobiótica pode ou não ser vegetariana, depende de diversos factores, como o clima, condição, preferências pessoais, etc. Em climas muito rigorosos, por exemplo pode ser difícil ser exclusivamente vegetariano”.
No site do Instituto Macrobiótico diz-se que Varatojo é “reconhecido como um dos consultores macrobióticos mais qualificados, sendo procurado regularmente pelos principais centros europeus para seminários e consultas”.
Varatojoso tem obra literária sobre a temática, sendo autor de livros como Mente Sã, Corpo São, Fundamentos do Pensamento Oriental e Macrobiótico ou Deliciosas Receitas Macrobióticas, isto para além de discos e vídeos. Foi ainda presidente da International Macrobiotic Assembly durante seis anos. Em 2010 recebeu o prémio Aveline Kushi Award.