O jogo que ficou para a história do Progrès na primeira pessoa

Eliminar o Rangers na Liga Europa foi “muito grande”, admitiu ao PÚBLICO o lusodescendente Yann Marques

Foto
Jogadores do Progrès no relvado de Ibrox Park Bernard Bamberg, F.C. Progrès Niederkorn

O dia seguinte ao maior feito da história do Progrès Niederkorn, do Luxemburgo, obedeceu à rotina. Yann Marques teve aulas e ao final do dia cumpriu mais um treino, mas ao peito este jovem futebolista de 20 anos, descendente de portugueses, transportava o orgulho de ter feito “uma coisa muito grande”. O modesto emblema de Niederkorn, quarto classificado do campeonato luxemburguês na época passada, derrubou o Rangers com um triunfo por 2-0, após ter perdido na primeira mão, em Glasgow, por 1-0. “Tivemos sempre o objectivo de ganhar e passar à segunda pré-eliminatória”, sublinhou Yann Marques, em conversa com o PÚBLICO.

Este era, à partida, um embate entre forças desiguais. De regresso às competições europeias após seis anos de ausência, o Rangers ostenta o galardão de clube com mais títulos de campeão nacional (54) a nível mundial, embora venha de um caminho tortuoso, após a queda à 4.ª divisão em 2012 por problemas financeiros graves. Já o Progrès tem no historial três títulos de campeão – o último deles em 1980-81 – e quatro Taças do Luxemburgo. De um lado, um plantel inteiramente profissional e pago principescamente. Do outro, um grupo de apaixonados que corre por gosto (há estudantes, professores, gente que trabalha no imobiliário ou em bancos e o avançado Karapetyan tem um bar), dividindo o tempo entre futebol e a respectiva profissão.

Não era uma novidade para o Progrès enfrentar um “gigante” europeu: na primeira ronda da Liga dos Campeões em 1978-79, os luxemburgueses tiveram pela frente o Real Madrid, que já tinha então seis dos 12 títulos de campeão europeu que actualmente ostenta. Na primeira mão, no Santiago Bernabéu, os “merengues” impuseram-se por 5-0. Duas semanas depois, no Luxemburgo, o resultado foi ainda mais pesado (0-7).

“Foi a primeira vitória do Progrès nas competições europeias. Fizemos história. Tenho consciência que conseguimos uma coisa mesmo muito grande”, admitiu Yann Marques. O lusodescendente cumpriu os 90 minutos no duplo duelo com o Rangers e assistiu de perto aos golos de Emmanuel Françoise e Sébastian Thill que deram o triunfo e o apuramento para a segunda pré-eliminatória da Liga Europa. Uma das memórias que o jovem futebolista vai guardar é do ambiente em Ibrox, no jogo da primeira mão: “Estavam uns 50 mil espectadores no estádio. Era um barulho! Nem conseguia ouvir o meu companheiro a dois metros. Não se ouvia nada.”

Entre família e amigos, Yann tinha 25 pessoas nas bancadas do Estádio Josy Barthel, que acolhe os jogos da selecção do Luxemburgo. “Quando chegámos ao balneário a primeira coisa que fiz foi pegar no telemóvel. Estava cheio de mensagens de pessoas a dar os parabéns. No Facebook também. Havia muitos portugueses a ver o jogo”, atirou o jovem lusodescendente, que não conseguiu repetir a troca de palavras com Dálcio Gomes, um dos reforços do Rangers de Pedro Caixinha: “Na primeira mão falámos um bocado. Na segunda mão ele ficou um bocado chateado, não dava para falar muito”, disse.

Para Yann Marques, Portugal é o local das raízes familiares. “Vou aí muitas vezes, ainda há três semanas estive em Portugal. Tenho família na zona de Coimbra. O meu pai nasceu em Portugal. A minha mãe também é portuguesa, mas nasceu cá”, contou. Aos 20 anos, sonha com uma carreira de futebolista: “Tenho como objectivo sair do Luxemburgo e jogar a nível profissional”, confessou. O seu percurso já tem uma noite europeia para recordar.

Sugerir correcção
Comentar