Há um gabinete no Porto a ajudar universitários vítimas de violência no namoro

Estudantes podem receber apoio gratuito na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e no Instituto Universitário da Maia. Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade diz que projecto poderá estender-se a outras zonas do país”.

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Este é o primeiro gabinete do género a nível nacional ADRIANO MIRANDA

Há já um mês que psicólogos especializados estão a prestar apoio gratuito a estudantes universitários, vítimas ou ex-vítimas de violência no namoro, quer esta seja física, psicológica, sexual, através de ameaças, perseguições ou controlo social. A iniciativa é da Associação Plano i que, através de parcerias com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e o Instituto Universitário da Maia (Ismai), criou o Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência no Namoro, com atendimento nos dois estabelecimentos de ensino superior.

“Este tipo de serviço específico, só vocacionado para vítimas de violência no namoro é o único no país”, explica Sofia Neves, presidente da Associação Plano i. Com o programa UNi+ (Programa de Prevenção da Violência no Namoro em Contexto Universitário), financiado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade, a associação achou que esta era a altura certa para criar o gabinete: “Há números alarmantes que nos mostram que o ensino superior é um contexto em que a vitimização acontece. Não havendo ainda estruturas de atendimento para estas vítimas, achamos que faria todo o sentido criá-las.” Segundo a Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade, no futuro este projecto pioneiro “poderá estender-se a outras zonas do país”. 

Em Março, o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses revelou que número de vítimas de violência no namoro sinalizadas aumentou quase 60% em três anos, entre 2014 e 2016, culminando com 767 vítimas no ano passado. A grande maioria das vítimas (657) era do sexo feminino. Realce-se ainda o número homens, que representa 14,3% das vítimas e que tem vindo a aumentar exponencialmente, já que passou de 60 em 2014 para 110 em 2016. Mais de um terço das vítimas tem entre 18 e 25 anos.

Associação Plano i recebeu 80 denúncias de violência

“Neste momento temos tido alguns pedidos, que nem todos foram concretizados em termos de consulta. Há várias pessoas a querer saber como o serviço funciona”, conta Sofia Neves. O facto de estarmos agora numa época crítica na vida dos universitários, com os exames e o fim do ano lectivo, está a “condicionar um pouco a procura”, mas o gabinete já se encontra em pleno funcionamento, garante a também investigadora do Ismai.

Desde Abril que a associação possui um Observatório de Violência no Namoro, que está actualmente a recolher informação sobre crimes de violência no namoro em Portugal no ano de 2017, através de um questionário online, anónimo e confidencial.

Ao observatório chegaram já 80 denúncias de violência no namoro relativas ao ano de 2017: 39% vindas de testemunhas (professores, psicólogos, assistentes sociais) e 55% de ex-vítimas. Na altura do crime, 50% das vítimas eram estudantes e 16% trabalhadoras-estudantes e tinham uma média de idades de 21 anos. Já a média de idades dos agressores, ficava-se nos 24 anos e 94% deles eram do sexo masculino. Porto e Lisboa são as zonas do país com maior concentração de denúncias. Das 80 vítimas, mais de metade teve de lidar sozinha com a situação e só 10% apresentaram queixa. Uma realidade que a associação ambiciona mudar.

As consultas do Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência são marcadas a partir de um formulário online disponível nos sites das duas faculdades e podem ser realizadas às sextas-feiras, entre as 14h e as 18h no Ismai, e às segundas-feiras das 14h às 18h e sextas-feiras das 9h às 13h, na FMUP.

Texto editado por Pedro Sales Dias

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