Investigador defende zonas-tampão de folhosas em redor das aldeias de Pedrógão
Aires Henriques propõe uma solução idêntica à que permitiu que a casa e propriedade agrícola, turística e cultural que possui em Troviscais Cimeiros resistissem às chamas.
Um antigo técnico do Ministério da Agricultura e investigador da História de Pedrógão Grande defende a criação de zonas-tampão com árvores folhosas em redor das aldeias daquela região para prevenir a destruição ocorrida no incêndio que começou dia 17.
Aires Henriques, antigo inspector do Ministério da Agricultura, actualmente reformado, preconiza uma solução idêntica à que permitiu que a casa e propriedade agrícola, turística e cultural que possui em Troviscais Cimeiros - a cerca de dois quilómetros em linha recta do local de origem do incêndio - resistissem incólumes às chamas que queimaram vastas áreas de pinhal e eucaliptal, também na aldeia onde reside.
"Aqui não houve fogo, houve umas manchinhas de fogo, mas não ardeu no sentido de criar uma calamidade, de arderem casas. E eu não estava cá sequer, não tive aqui uma mangueira", disse Aires Henriques à agência Lusa, recordando o dia 17, em que, vindo de viagem com a mulher, só conseguiu chegar a Troviscais à noite, quase 12 horas depois de o fogo lhe ter ameaçado a habitação.
A propriedade - onde está instalada o Museu da República e da Maçonaria, três núcleos expositivos que não foram afectados pelo incêndio e um empreendimento de turismo rural, que ficou igualmente a salvo das chamas - possui quatro hectares de terreno anexo, ocupado maioritariamente com cerejeiras e plátanos, por onde o fogo passou sem causar estragos de maior, a exemplo do quintal, onde uma única árvore ficou queimada e partiu com a força do vento.
Ao lado e em redor das casas contíguas arderam pinheiros e eucaliptos, os mesmos que Aires Henriques quer ver banidos das zonas em redor das aldeias: "Está aqui um exemplo claro. À volta das aldeias não podem deixar crescer mais pinheiros, nem mais eucaliptos, plantações desse género. Têm de definir zonas tampão com plantação de folhosas à volta das aldeias". "Têm de definir 10 metros, 20 metros, 50 metros, 100 metros, 200 metros, o que for. Têm de definir claramente à volta das aldeias zonas de tampão, em que não se podem plantar eucaliptos", reafirma.
"E o próprio proprietário tem de ser orientado e quando ele não tem capacidade para fazer isso, tem de ser alertado para criar as condições para a sua sobrevivência, para a sua defesa", argumenta.
Aires Henriques esteve quase meio século em Lisboa, onde foi dirigente da Casa de Pedrógão Grande durante 18 anos, 12 como presidente. Reformou-se há oito anos, regressou ao interior do país e tem tomado posições sobre o concelho, sobre o qual tem em preparação uma monografia.
Desconfia que a tragédia que afectou o município "não vai mudar nada", face ao despovoamento e ao que diz ser a "total descoordenação" entre autarquias vizinhas, num território com características idênticas "em que ninguém define nada em comum, de uma forma pensada, organizada, coordenada, que possa ser proveitosa".
De acordo com Aires Henriques, "não se justifica" que cada um dos três municípios possua uma associação florestal e uma associação de desenvolvimento e que cada um trabalhe "para o seu lado, descoordenado".
Defende, assim, a fusão administrativa dos três municípios mais afetados pelas chamas (Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera).
"Nesta zona aqui têm de fundir os três concelhos, não tem mais sentido concelhos com três mil habitantes, o da Sertã, aqui ao lado, tem 12 mil, estes três fazem um igual à Sertã", declara.