Portugueses são dos que mais confiam nas notícias, mas dos que menos pagam
Estudo analisou consumo de informação em 36 países. Em Portugal, 28% disseram bloquear publicidade online.
Os consumidores de notícias em Portugal são – num grupo de 36 países analisados num influente relatório sobre o estado dos media – dos que mais confiam nas notícias. Mas também se encontram entre os que estão menos dispostos a pagar por informação online e são dos que mais usam bloqueadores de publicidade.
O Digital News Report, um relatório do Instituto da Reuters para o Estudo do Jornalismo (que funciona na Universidade de Oxford), foi divulgado nesta quinta-feira. O trabalho é conduzido por académicos nos vários países, através de um questionário a utilizadores de Internet que consomem notícias. O capítulo sobre Portugal é assinado pelos investigadores Ana Pinto Martinho e Gustavo Cardoso, do ISCTE.
Entre os consumidores em Portugal, 58% afirmaram ter confiança nas notícias, uma percentagem que fica atrás apenas do Brasil (onde é analisada apenas a população urbana) e da Finlândia. Os investigadores notam que para este resultado pode contribuir uma “forte tradição de imprensa livre”, bem como “níveis relativamente baixos de polarização política”. O estudo nota também que a audiência do jornal Diário de Notícias é a que tende a situar-se mais à esquerda e a do site Observador, mais à direita, muito embora as sobreposições entre os vários órgãos sejam grandes. A televisão tem uma importância superior ao que acontece na generalidade dos países europeus.
A confiança nas notícias, porém, não parece traduzir-se em receitas. Em Portugal, apenas 9% afirmaram ter pago por jornalismo online (por exemplo, através de uma assinatura), o que põe o país na 25.ª posição. Neste capítulo, os utilizadores na Noruega, Brasil, Hong Kong, Suécia e Malásia ocupam os lugares de topo, com mais de um em cada cinco consumidores de notícias a afirmarem ter pago por informação na Internet.
Espelhando a encruzilhada de negócio em que as empresas de media vivem, também a publicidade (a fonte de receitas tradicionalmente mais importante para as empresas de jornalismo) continua a desagradar a muitos utilizadores. Subiu ligeiramente a percentagem de utilizadores em Portugal que recorrem a bloqueadores de publicidade (que podem ser gratuitamente instalados em browsers, como o Chrome ou o Safari, e que eliminam a grande maioria dos anúncios). Entre os inquiridos, 28% disseram usar estes bloqueadores, colocando Portugal em sexto lugar de uma tabela em que o lugar cimeiro é da Grécia, onde a penetração é de 36%.
A partir do início de 2018, o browser Chrome (do Google e o mais usado no mundo) passará a incorporar um bloqueador, que eliminará os anúncios mais intrusivos e que deverá alargar o uso deste tipo de tecnologia a muito mais pessoas.
As conclusões mostram também que os consumidores de notícias mostram pouca confiança nas redes sociais, cujo crescimento como fonte de informação parece ter estagnado, com as aplicações de mensagens (como o WhatsApp) a ganharem importância no acesso à informação. “Apenas um quarto dos inquiridos [nos vários países] considera que os media sociais fazem um bom trabalho a separar os factos da ficção, comparado com 40% para os media noticiosos”, lê-se no relatório. Os entrevistados apontaram a ausência de regras e os algoritmos usados como factores que levam a que notícias de pouca qualidade e notícias falsas se espalhem rapidamente.
Em Portugal, 62% usam as redes sociais (sobretudo o Facebook) como fonte de notícias, uma ligeira descida face ao ano anterior.