Panamá rompe com Taiwan e estabelece laços diplomáticos com a China

Taipé lamenta uma decisão tomada "com base no dinheiro". Presidente Varela diz que "é o mais correcto" para o seu país.

Foto
Os chefes da diplomacia do Panamá e da China, esta terça-feira em Pequim EPA

O Panamá estabeleceu laços diplomáticos com a China, rompendo com Taiwan. Trata-se de uma vitória para Pequim, que vê diminuir cada vez mais o número de países que reconhecem a soberania da ilha que considera ser parte do seu território.

Na segunda-feira, o Presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, disse na televisão que o seu país estava a reforçar os seus laços comerciais com a China, estabelecendo laços diplomáticos com o segundo melhor cliente do seu canal. "Estou convencido de que é o mais correcto para o nosso país", disse Varela.

O governo de Taiwan lamentou a decisão, que considerou ter sido tomada "com base no dinheiro". "O nosso Governo expressa tristeza e uma forte condenação e objecção à atitude da China de incitar o Panamá a cortar relações connosco, limitando o nosso espaço internacional e ofendendo o povo de Taiwan", disse David Lee, ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan.

Como resposta, Taiwan encerrou o seu programa de cooperação com o Panamá e esvaziou a sua embaixada, retirando o pessoal diplomático e técnico. "Isto para salvaguardar a nossa dignidade nacional e soberania", disse Lee.

A China receia que a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, queira avançar para uma declaração de independência; Tsai – que no início deste ano visitou o Panamá – tem dito que quer manter uma relação pacífica com Pequim.

Taiwan é a ilha no Mar da China onde se trava um conflito antigo. É o território onde Chiang Kai-shek criou a República da China, com o objectivo de reunificar a China continental sob o domínio dos comunistas de Mao Tsetung, que criou a República Democrática da China. A relação entre os dois lados evoluiu até se chegar a um entendimento, a que chamam o status quo: ambos aceitam que só há uma China, Taipé comprometeu-se a não declarar a independência. Num período inicial, foi com Taipé que muitos governos quiseram ter laços diplomáticos, rejeitando a China comunista. Mas com o passar das décadas essa preferência foi desaparecendo.

Num comunicado emitido após a decisão do Panamá, a presidência em Taipé diz que "a República da China — o nome oficial de Taiwan — é uma nação soberana e a sua soberania não pode ser questionada. (...) As autoridades de Pequim têm manipulado constantemente o princípio ‘uma só China’ para interferir com a presença de Taiwan na arena internacional e têm ameaçado o povo de Taiwan". O comunicado diz que o território perdeu "um aliado diplomático" mas "o seu estatuto na comunidade internacional não mudou".

Diz a Reuters que a China e Taiwan têm usado apoios a países em desenvolvimento para conseguirem aliados internacionais. Porém, Taipé está a perder terreno perante uma China cada vez mais poderosa na arena internacional e indispensável a muitos países devido ao seu peso comercial.

O Panamá é o segundo país que recentemente rompeu laços com Taiwan a favor da República Popular da China — São Tomé fez o mesmo em Dezembro do ano passado, sendo agora apenas 20 o número de países que reconhecem Taiwan como um Estado soberano. Em meados da década de 1990, eram 30 os países com quem Taipé tinha relações diplomáticas, sobretudo países pequenos no Pacífico e América Latina.

A mudança diplomática foi selada esta terça-feira em Pequim, onde se juntaram o chefe da diplomacia chinês, Wang Yi, e a ministra dos Negócios Estrangerios panamiana, Isabel Saint Malo.

"Trata-se de um momento histórico que abre um novo capítulo", disse Wang, para quem a decisão do Panamá está "em concordância" com "os tempos".

Sugerir correcção
Ler 1 comentários