Popular dá liderança de balcões ao Santander Totta
Banco Popular foi comprado por um euro mas implica aumento de capital de 7000 milhões. Santander cresce em Espanha e Portugal.
Menos de um ano depois de ter feito a digestão com o Banif, o Santander Totta engole agora outra instituição financeira, o Banco Popular, um negócio feito via Espanha. E, com isso, dá outro salto em frente em diversos indicadores, como no activo total, crédito (nomeadamente às PME) e depósitos, disputando ao BCP a segunda posição no mercado português. Há um indicador, no entanto, onde conquistou desde já a liderança, ultrapassando mesmo a Caixa Geral de Depósitos: o número de balcões.
De acordo com dados enviados ao PÚBLICO pela instituição financeira liderada por António Vieira Monteiro, o Banco Santander Totta (BST) fechou o ano de 2016 com 642 balcões (depois de ter recebido cerca de 150 unidades do Banif), a que se somam agora outras 118 do Popular. Ao todo, o BST fica com 760 balcões (16,7% de quota de mercado). No final do ano passado, a CGD detinha 717 agências, e entretanto já encerrou 61 balcões, preparando-se para cortar, pelo menos, 180 agências até 2020.
Ao nível de trabalhadores, a aquisição do Popular -- negociada em Espanha com as autoridades europeias, e que implica o pagamento de um euro mais um aumento de capital de 7000 milhões – envolve a transferência de 901 pessoas, menos 200 do que os que transitaram do Banif, elevando o número total do BST para mais de 7000 funcionários.
No comunicado distribuído aos investidores, o Santander, liderado por Ana Patricia Botin, afirma que a aquisição do Popular implica sinergias de 500 milhões, nomeadamente por via da “optimização da rede combinada de sucursais”. Ou seja, as agências fazem parte do plano de corte de custos. Onde até aqui eram adversários, lado a lado, vários balcões devem passar a ser redundantes.
O PÚBLICO questionou o BST sobre quando é se saberá quais os balcões a fechar, e se isso poderia provocar a saída de pessoal, mas foi respondido que não era possível prestar esse tipo de informações nesta altura.
No ano passado, e já no âmbito de uma tentativa de reestruturação do banco espanhol, o Popular Portugal encerrou 47 agências e negociou a saída de 270 pessoas, processo que implicou requerer ao Governo o estatuto de empresa em reestruturação, de modo a que os funcionários acedam ao subsídio de desemprego.
Santander: a crescer por aquisições desde 1999
Durante algum tempo, e ao contrário do que se passou com o Banif, as duas marcas vão subsistir, mantendo os clientes o acesso normal às suas contas e investimentos. Aliás, este caso tem várias semelhanças com o Banif, embora agora não tenha havido o envolvimento de dinheiros públicos.
Já os accionistas e obrigacionistas subordinados perderam o capital aplicado, no âmbito da medida de resolução determinada pelas autoridades europeias devido ao iminente colapso do Popular (em Portugal, a instituição teve um lucro de 11,8 milhões em 2016). De fora ficaram os restantes obrigacionistas e os depósitos acima de 100.000 euros.
O Santander é um caso de crescimento por aquisições, tendo começado por deter uma pequena presença em Portugal. Tudo mudou com António Champalimaud, quando o empresário decidiu, em 1999, vender o seu império financeiro, formado pelo Banco Pinto & Sotto Mayor, Totta & Açores, Crédito Predial Português (CPP) e Mundial Confiança, aos espanhóis, provocando uma guerra com as autoridades portuguesas. A CGD é chamada a intervir, e, no fim, o Santander acaba por ficar com o Totta e Açores e o CPP. Depois, o CPP foi engolido e ficou o Totta como homenagem à marca do passado. Mais recentemente, o Santander aproveitou a fragilidade do Banif (onde o Estado era o maior accionista) e, agora, foi a vez de crescer com o Popular.
No caso do Popular, um dos maiores bancos espanhóis, e que dá agora a liderança ao Santander em Espanha com uma quota de mercado de 20% no crédito (25% no caso das PME), este chegou a Portugal através de Américo Amorim. O empresário português, que já estivera ligado ao BCP, tinha avançado com o Banco Nacional de Crédito, acabando por trocar, em 2003, a maioria das acções por uma fatia do Popular (no qual já não está presente há algum tempo). Dois anos depois, o Popular tomou também conta do nome do banco em Portugal.
O desaparecimento de mais um banco, e o reforço do Santander em Portugal, surge na mesma altura em que os espanhóis do Caixabank estão a consolidar o domínio do BPI, com mudanças ao nível da organização. Numa outra escala, o também espanhol Bankinter, que comprou o negócio de retalho do Barclays em Portugal, tem-se esforçado por conquistar mercado, nomeadamente no segmento do crédito à habitação.