Esta mulher não tem maravilha nenhuma
A passagem ao grande ecrã da super-heroína da DC Comics é apenas mais um filme de super-heróis, sem mostrar personalidade nem causar entusiasmo.
O sexo de quem dirige Mulher-Maravilha não é para aqui chamado. Esta aventura “de origem” da super-heroína criada por William Moulton Marston (que na versão televisiva com Lynda Carter por cá era conhecida por Super-Mulher) existe apenas para pôr a render mais uma personagem da “propriedade intelectual” da DC Comics que possa dar luta ao já bem instalado império Marvel.
E a presença atrás da câmara de Patty Jenkins, que deu o Óscar a Charlize Theron por Monstro, não traz ao filme nenhuma mais-valia supostamente “feminina” — até porque, ao leme de um filme destes, ou se é um nome com créditos firmados ou então não há margem de manobra para fugir ao caderno de encargos.
Só que Mulher-Maravilha não parece sequer querer injectar frescura nem originalidade nessa fórmula: manta de retalhos que trabalha a fantasia, o filme de guerra, a comédia romântica, sem nunca conseguir instalar-se num tom ou encontrar um ritmo, é um filme que se arrasta penosamente por quase duas horas e meia, desaproveitando por completo actores como Robin Wright, Danny Huston ou David Thewlis.
A culpa não é da israelita Gal Gadot – uma Monica Bellucci mais terrena e voluntariosa, sedutora e à vontade no seu papel de princesa amazona confrontada com uma civilização patriarcal que desconhece por completo, sendo como é oriunda de uma ilha oculta da humanidade inteiramente populada por mulheres guerreiras.
A culpa é mesmo de uma produção mais interessada em acertar no jackpot da bilheteira e em criar um novo franchise do que em contar uma história interessante com personagens credíveis. Aqui, nada disso existe, apenas a enésima reiteração dos lugares-comuns do super-herói (neste caso, heroína) a descobrir a extensão e o limite dos seus poderes, mas sem graça nem personalidade que a diferenciem dos outros todos. De maravilha, acreditem, esta Mulher tem mesmo muito pouco.