Dona da rede Multibanco está à procura de investidor estratégico

Os bancos accionistas da Sociedade Interbancária de Serviços (Sibs), criada há 35 anos, estão à procura de um investidor que possa ser um parceiro de referência da empresa portuguesa, que gere a rede de caixas multibanco e os terminais colocados nas lojas. No limite, empresa pode ser vendida.

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Vítor Bento lidera a sociedade que gere o Multibanco. Daniel Rocha

O processo de procura de um parceiro decorre da mudança das regras europeias e destina-se a potenciar o desenvolvimento do grupo liderado por Vítor Bento, que em 2016 apresentou lucros de 45,4 milhões, dos quais 42,4 milhões resultam do encaixe da venda da posição na rede Visa. 

Depois da tentativa falhada de compra (pela Sibs) da Unicre, o PÚBLICO apurou que os bancos accionistas do grupo presidido por Vítor Bento se preparam para designar o assessor financeiro que vai conduzir o processo que visa adaptar a empresa a um negócio com sinergias de escala. E que possibilite à SIBS tirar partido de uma vaga de concentração que possa juntar entidades que prestam serviços aos bancos no âmbito do  sistema de pagamentos europeu.

O Deutsche Bank tem surgido como o consultor seleccionado para apoiar os bancos, que terão já conhecimento de manifestações de interesse de investidores nacionais e estrangeiros. Um dossiê que será liderado pela Sibs, mas cuja decisão final terá de ser tomada pelos accionistas presentes em Conselho de Administração.

Fontes da CGD e do BCP, dois bancos que dominam quase 50%do mercado e com fortes participações na Sibs, revelaram ao PÚBLICO que estão disponíveis para equacionar a venda das suas acções, caso surja um interessado credível. E notaram que se trata de “activos não estratégicos”. Por seu turno, o CaixaBank, que acaba de assumir o controlo do BPI, também já abriu a porta a poder desfazer-se desta plataforma.

No entanto, os bancos remeteram para Vítor Bento os esclarecimentos adicionais. “A Sibs não contratou nenhuma entidade, pois necessitaria de ter mandato dos seus accionistas para o fazer, o que não possui. Mas qualquer accionista pode decidir alienar as suas acções e adjudicar a operação”, explicou um responsável oficial da Sibs (que tem as marcas Multibanco, MB Net, MB Way).

Segundo o PÚBLICO apurou junto da banca, há várias vias possíveis: a venda de 100% do capital da Sibs; a escolha de um parceiro estratégico; ou, no limite, se as opções que se abrirem não interessarem, nada mudará.

Um banqueiro contactado pelo PÚBLICO considerou que “falar de venda não é o correcto”, mas sim “de procurar o parceiro certo” que possa “complementar o melhor possível a estratégia da Sibs face aos desafios do sistema de pagamentos a nível do espaço do euro e da evolução digital”. Isto, para garantir que a empresa “continua a ser um pólo de inovação nacional” e, nesse caso, até “poderão existir bancos que pretendam continuar como accionistas”.

Outro gestor bancário salientou que, para além da pressão colocada pelas “novas regras europeias e pela acentuada digitalização dos meios de pagamento”, há um “tema muito relevante em cima da mesa a preocupar o sistema: o do comissionamento”.

A 8 de Setembro de 2016, no contexto das evoluções regulatórias, tecnológicas e de mercado que se manifestam a nível europeu, onde os principais operadores já operam na área de "acquiring", Vítor Bento já tinha dado um passo no sentido de procurar sinergias de escala. E propôs a compra dos activos da Redunicre, do universo da Unicre. Uma operação que veio a ser “recusada” pela Autoridade da Concorrência.

A aquisição do negócio de aceitação de pagamentos com cartão da Unicre (designado oficialmente de "acquiring"), foi apresentada com a finalidade de complementar as actividades “na cadeia de valor do mercado de soluções de pagamento”. O que possibilitaria à Sibs estender a actividade aos 50.000 estabelecimentos que operam com a Unicre e  disponibilizam soluções para aceitação de pagamentos com cartões de vários  sistemas de pagamentos nacionais e internacionais, como Visa, MasterCard, Visa Electron, Maestro entre outros.

Constituída em 1982 para gerir o sistema de pagamentos com cartões, e fazer o controlo do tráfego e a monitorização, a Sibs tem surgido associada ao desenvolvimento das tecnologias. O exemplo mais conhecido é o da Via Verde, uma parceria com a Brisa. Para além de ter actividade em Portugal, a Sibs está em Angola, na Nigéria e na Polónia.

Em 2016, a empresa fechou com lucros de 45,4 milhões de euros, mais 122% do que no ano anterior. Mas ao contrário do que se verificou em 2015, quando lucrou 20,4 milhões de euros, em 2016 a Sibs contabilizou resultados extraordinários, que correspondem a 95% do total (42, 4 milhões dos 45,4 milhões apurados), e que são fruto da venda a posição no Visa.  A empresa vai distribuir pelos seus accionistas 35 milhões de euros de dividendos.

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