Passos avisa: "Não podemos cometer os mesmos erros"

Líder do PSD pede "humildade" ao Governo para avaliar o caminho a seguir porque a saída do PDE "não resolve tudo". João Almeida, do CDS, acrescentou que o partido se “orgulha” do seu contributo, depois de “ter recebido como caderno de encargos um memorando negociado" por José Sócrates.

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LUSA/Tiago Petinga

Passos Coelho mostrou-se "satisfeito" pela decisão da Comissão Europeia de recomendar a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo (PDE), mas pede cuidado e "humildade" ao Governo para o caminho que o país tem de percorrer, uma vez que a saída do PDE "não resolve tudo", é preciso não desperdiçar a oportunidade e evitar cair de novo no passado.

Que esta decisão "não nos torne complacentes e que não nos faça esquecer o passado e voltar atrás. Portugal não pode voltar a cometer os mesmos erros. Peço, por isso, a todos para terem a humildade suficiente para não ignorarem os desafios que ainda temos à nossa frente", disse Passos Coelho em conferência de imprensa na sede do partido. Espera o presidente do PSD que esta decisão "seja um marco decisivo para não repetir o passado e fazer diferente".

"É do mais elementar bom senso, ter o realismo para reconhecer que a saída do Procedimento por Défice Excessivo não resolve tudo como não dispensa o enorme trabalho que temos pela frente. É fundamental trabalhar para que o crescimento se converta em crescimento sustentado para futuro e não apenas impulsionado pela conjuntura" e que se tenha também um "défice sustentavelmente mais baixo".

E para isso não há dúvida: Passos não tem a mesma estratégia defendida pelo Governo de António Costa e não seguiria o mesmo caminho. "Apesar de não subscrever a forma como o Governo lidou com a estratégia orçamental, fico satisfeito por Portugal ter atingido a meta orçamental que o país se tinha comprometido", defendeu Passos Coelho em conferência de imprensa na sede do PSD, explicando mais tarde que "poderia haver outras formas de chegarmos a um défice abaixo dos 3%; não teria de ser feito à custa do sacrifício do investimento e de cortes cegos em saúde e educação. Havia outras possibilidades, mas o importante é que conseguimos chegar aos 3%", defendeu.

Passos Coelho, que fez o historial da crise desde 2009 (ano em que o país entrou em PDE), pediu ainda ao Governo "menos calculismo eleitoral e mais arrojo na abertura à mudança, apesar de não vivermos tempos de emergência, é sempre hoje que escolhemos o futuro que nos irá bater à porta. Espero que seja diferente daquele que nos legaram há uns anos", lembrou.

Ora, e foi esse legado deixado pelo Governo de José Sócrates que Passos também referiu ao dizer que foram as acções de 2009 e dos dois anos seguintes que tornaram "incontornável o pedido de ajuda externa", que levou o país a tempos "de enorme severidade" e de "enorme superação". 

Nos últimos tempos, Passos Coelho tem insistido no discurso de que os bons resultados que têm vindo a acontecer na economia - como o crescimento de 2,8% do PIB no primeiro trimestre do ano quando comparado com o mesmo período do ano passado - são resultado das reformas que foram feitas ainda durante o mandato do governo PSD/CDS. 

Na reacção desta segunda-feira, Passos Coelho fez questão de lembrar que foi o seu governo que conduziu o país à saída do programa de ajustamento, sem qualquer programa cautelar, e que é desde essa altura que a economia regista recuperação. "Realmente não baixámos os braços e continuámos um caminho de reformas e recuperação com reformas importantes. Desde que fechámos o resgate, temos visto o desemprego a descer e a economia a crescer, iniciando um processo de recuperação de rendimentos e redução de austeridade". "Valeu bem a pena o esforço", concluiu.

O mérito do governo PSD/CDS

Pouco depois, na Assembleia da República, o deputado do CDS João Almeida seguiu a estratégia de Pedro Passos Coelho e começou por defender que hoje há uma “razão para felicitar os portugueses e empresas que deram o contributo decisivo para que este objectivo fosse alcançado”. O porta-voz do CDS-PP acrescentou que a boa notícia se deve “também ao mérito dos governos – do anterior e do actual – que conduziram o país para que fosse cumprido o objectivo” e que se deve “muito mais ao anterior governo do que aos partidos que hoje apoiam o Governo”.

O centrista acrescentou que o partido se “orgulha” de ter contribuído para isso, depois de “ter recebido como caderno de encargos um memorando negociado pelo PS, um défice acima dos 11% e de o ter deixado abaixo dos 3%”. O deputado vincou que o CDS-PP integrou o governo na “parte mais difícil” deste processo, “com custo de popularidade”, recordou que foi a terceira vez em democracia que Portugal esteve sob o jugo do FMI e avisou que o país “não pode voltar a passar” pela mesma situação outra vez.

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Nuno Ferreira Santos

João Almeida aconselhou ainda o Governo a aproveitar o bom cenário internacional – “o crescimento dos principais parceiros económicos de Portugal, a baixa do preço do petróleo e o programa de compra de dívida do BCE” – e colocou a fasquia alta ao afirmar que se devem criar as condições para “a breve prazo” subirem os ratings da República e a economia crescer.

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