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O que mudou em 11 anos em Portugal, segundo Blanchard

Em 2016, o economista francês pedia cortes nos salários para Portugal evitar uma recessão profunda. Agora diz que o grande problema já não é a falta de competitividade.

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Vítor Constâncio criticou a ideia de competir com salários baixos

Em 2006, dois anos antes da crise financeira internacional e cinco anos antes da chegada da troika a Portugal, Olivier Blanchard, então um economista do MIT, apresentou um estudo que motivou um debate aceso sobre qual deveria ser a política económica em Portugal.

A ideia de Blanchard era polémica: Portugal tinha um enorme défice de competitividade e se não se chegasse a um entendimento para cortar os salários nominais em toda a economia de forma muito acentuada, o país ia ter de passar por um longo período de desemprego alto e crescimento baixo. A ideia não passou de um exercício académico não passado à prática, tendo sido criticada, por exemplo, pelo anterior governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, que defendeu que Portugal não tinha vantagens em competir pelos salários baixos com economias como a China, por exemplo.

Passados 11 anos – em que Portugal caiu em períodos de recessão profunda e forte austeridade e Olivier Blanchard ocupou o cargo de economista-chefe do FMI – o economista francês vê agora uma economia portuguesa numa situação bastante diferente.

Agora, diz Blanchard, num novo estudo que veio apresentar em Lisboa na conferência “Portugal, Form Here to Where?”, o problema de falta de competitividade está em grande parte resolvido e deixou de ser a principal problema a enfrentar. Por isso, recomendar uma descida de salários na economia deixou de fazer sentido.

O que vê então o economista? Vê uma economia a recuperar, com um surpreendentemente bom desempenho das exportações, mas a precisar ainda de aumentar a produtividade e dinamizar a procura se quiser taxas de crescimento sustentadamente mais elevadas. E Blanchard acha que para isso acontecer, pode ser preciso o Estado gastar mais dinheiro.

São três as áreas que o economista considera que devem justificar algum expansionismo orçamental: investimento público, apoio à realização de reformas estruturais e recapitalização dos bancos.

No investimento público avisa que o seu valor caiu para níveis demasiado baixos, que não ajudam em nada o crescimento. Nas reformas estruturais, defende que é preciso o Estado apoiar aqueles que podem sair mais prejudicados, sejam os taxistas por causa da Uber, ou os trabalhadores afectados por mudanças na legislação laboral. Nos bancos, é importante resolver o problema do malparado para o crédito voltar a fluir, mesmo que isso implique um agravamento da dívida.

E as contas públicas? Com todos estes gastos como é que se cumprem os objectivos do défice e da dívida? O estudo publicado por Olivier Blanchard – em parceria com Pedro Portugal - defende que realizar uma consolidação orçamental rápida não deve ser agora a prioridade.

Para além de tudo isto, afirma, o que ajudaria também a economia portuguesa seria mais inflação no resto da zona euro, com uma política mais expansionista tantos dos governos europeus como do BCE. Mas isso, claro, não depende de Portugal.

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