Os pioneiros de 1979 no Mundial de Maradona
A primeira selecção portuguesa num Mundial de juniores conseguiu chegar aos quartos-de-final. Nascimento, antigo médio internacional português, esteve no Japão e conta como foi.
A selecção portuguesa não esteve no primeiro Mundial de sub-20 (1977, Tunísia, União Soviética campeã), mas estaria no Japão para o segundo, em 1979, aquele em que um tal de Diego Armando Maradona seria a grande “estrela” e a Argentina seria campeã. Dezoito jovens portugueses fizeram a travessia para a Ásia, mais a dupla técnica composta por Peres Bandeira e um jovem Jesualdo Ferreira. Nesta primeira participação, a selecção portuguesa conseguiu chegar aos quartos-de-final.
Estes foram os portugueses pioneiros, dez anos antes de a equipa de Carlos Queiroz conquistar o primeiro título na Arábia Saudita em 1989. Nesta equipa estavam Zé Beto, guarda-redes do FC Porto (falecido em 1990, num acidente de automóvel), Justino, guardião do Sporting e actual adjunto de Fernando Santos na selecção portuguesa, Alberto Bastos Lopes, defesa do Benfica, Artur Fonte, do Sporting e futuro pai de José e Rui, e também o benfiquista Diamantino Miranda, que, entre os 18, teria a carreira mais destacada, com vários títulos no Benfica, para além de 22 internacionalizações pela selecção principal.
Outro futuro internacional (cinco jogos) de carreira longa dessa equipa foi Rui Nascimento, um médio que viria a destacar-se no Vitória de Guimarães e que chegaria a ser campeão nacional do FC Porto, mas que, em 1979, era o único entre os 18 que jogava no estrangeiro, num clube francês. Nascimento nem esteve na difícil campanha no Euro sub-18 em 1978 (em que Portugal teve de enfrentar Alemanha, Itália e Escócia), mas foi pré-convocado para o Mundial e acabou por ficar no grupo que iria para a Ásia.
“Foi uma longa viagem em que não vimos o dia. E, para cá, não vimos a noite. Mas adorámos, era tudo novo”, recorda ao PÚBLICO o então jovem de 18 anos, agora mais habituado aos fusos horários asiáticos, ele que passou os últimos meses como treinador numa equipa do Dubai, mas que fez grande parte da sua carreira no banco como adjunto de Manuel Cajuda. Por telefone e à distância de 38 anos, as memórias de Nascimento custam a chegar, mas lá vão aparecendo e com o apoio visual de algumas imagens que guarda no telemóvel, como a da página da equipa portuguesa no guia do Mundial (há um exemplar à venda algures na internet), com os nomes no alfabeto latino e em japonês, mais os selos individuais de cada um, com muitas cabeleiras generosas, algumas amostras de bigode e um que tinha óculos (Diamantino).
Para a primeira fase, Portugal ficou baseado em Kobe, num agrupamento com o Canadá, o Paraguai e a Coreia do Sul. O primeiro jogo, com os canadianos, era para ser o mais fácil, mas não foi e Portugal perdeu por 3-1 (Grilo, avançado do Sporting, marcou o golo português). “No primeiro jogo, mesmo à português, entrámos confiantes, e levámos porrada”. Depois, veio o Paraguai, “que tinha um grande jogador, o Romerito [futuro jogador, entre outros, do Barcelona], e que era um dos favoritos”. Portugal ganhou por 1-0, golo de Nascimento, que estava a jogar a avançado. Palavra ao próprio: “Estava a chover muito e foi um golo esquisito. Foi uma bola bombeada para a área, eu fui lá, já me ia virar para a transição defensiva. Os meus colegas começam a gritar, a dizer que o guarda-redes tinha largado a bola, quando eu me viro a bola estava ali e eu empurrei para a baliza. Valeu uma vitória.”
Depois, veio um empate com a Coreia do Sul, sem golos, e a passagem aos quartos-de-final, com mudança para Yokohama, onde Portugal partilhou o hotel com a Argentina. O Uruguai seria o adversário e, depois de um jogo equilibrado, um golo de Rúben Paz, no prolongamento, deu a vitória aos sul-americanos, que seriam, depois, eliminados nas “meias” por Maradona e companhia.
Os 18 rapazes portugueses acabaram por ir relativamente longe, mas trouxeram mais do que memórias num país que, na altura, era o paraíso da tecnologia. “Muitos compraram máquinas fotográficas”, conta Nascimento. “Quando entrávamos num sítio, as pessoas diziam para escolhermos uma prendazita, um porta-chaves, uma coisa pequena. Éramos uns miúdos e éramos uns malandros quando estávamos todos juntos. Desaparecia tudo e eles ficavam doidos.”