Estaremos preparados para uma ameaça biológica?
Simulou-se esta sexta-feira um acidente com uma viatura com materiais perigosos, no Regimento de Lanceiros nº2, na Amadora.
Dois veículos ligeiros chocam no município da Amadora. Há dois feridos ligeiros e sabe-se que uma das viaturas transporta matéria perigosa e contagiosa, nomeadamente bactérias. Este é um cenário simulado, mas levanta questões na mesma: de que forma devemos reagir? E sobretudo, estaremos preparados para resolver esta ameaça? Na manhã desta sexta-feira, na parada do Regimento de Lanceiros N.º 2, na Amadora, o Elemento de Defesa Biológica, Química e Radiológica do Exército fez uma demonstração das suas capacidades num acidente como este, juntando oito entidades e observadores internacionais.
O cenário da simulação estava montado, cerca 50 agentes da protecção civil já estavam a postos e os dois carros já tinham embatido. O primeiro passo foi ligar para o 112 e os primeiros a chegar ao local do acidente foram os Bombeiros Voluntários da Amadora. Identificaram, através do símbolo de perigo biológico, que um veículo de uma transportadora privada tinha substâncias perigosas e delimitaram três zonas: a “zona quente”, a “zona intermédia” e a “zona limpa”. No local, encontraram também dois feridos ligeiros.
Também não tardou muito até que a Polícia de Segurança Pública chegasse, cortasse a circulação rodoviária e delimitasse o local, para onde se dirigiram também os Serviços Municipais de Protecção Civil. Depois de estabilizarem o condutor do veículo “contagioso”, este revela que as substâncias (a bactéria a Yersinia pestis e a Bacillus anthracis) tinham como destino a Alemanha, por meio aéreo.
Os bombeiros concluem que não conseguem tratar da situação. Então, esgotados os meios locais, foi necessária a intervenção do Elemento de Defesa Biológica, Química e Radiológica do Exército. Logo procederam à descontaminação. Entretanto já na zona quente, entram os militares com um fato especial e uma máscara facial com filtro de partículas. Verificam se houve algum derrame das substâncias perigosas e abrem o porta-bagagens do veículo. Confirma-se o derrame: por isso, é necessário descontaminar a viatura.
Depois de todos os procedimentos, a equipa sai da zona próxima do veículo e começa a descontaminação do pessoal e do material. Se assistimos a esta demonstração em cerca de 15 minutos no regimento da Amadora, num cenário real demoraria muito mais. E entretanto, a PSP restabelece a circulação. Por perto, nesta simulação, estiveram também representantes da Direcção-Geral da Saúde, da Agência Portuguesa do Ambiente, o Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, do Campus Tecnológico e Nuclear do Instituto Superior Técnico, da Força Aérea e observadores internacionais, como Filippa Lentzos, do King’s College de Londres, e Glenn Lolong, da Organização Mundial da Saúde.
Ao nível das melhores da Europa
Depois da demonstração, o tenente-general Faria Menezes assistiu da tribuna à simulação. “O que vimos hoje aqui é um sinal do futuro. Ou seja, diversas agências a responderem a uma ameaça e a deixarem os cidadãos bem protegidos”, disse depois aos jornalistas, explicando a importância destas demonstrações. “A ameaça não pode ser tomada como improviso. O que fazemos é ter os cenários, as forças prontas e vemos as sinergias com as várias entidades. Tudo isto é pouco perante a ameaça. Estes exercícios servem para criar as sinergias.” E garantiu que as capacidades apresentadas esta sexta-feira estão “ao nível das melhores da Europa”.
À frente desta demonstração esteve a major Ana Silva, que nos diz que o planeamento já estava a ser feito desde Fevereiro e que os cenários de simulação são criados de forma a serem “os mais reais possíveis”. “Os pretextos são avaliados à medida que a ameaça se vai alterando, mas o foco do Exército é estar preparado e estes exercícios visam-no”, declarou aos jornalistas.
Ora esta sexta-feira foi o culminar do exercício Celulex, que treina o Exército na resposta a incidentes que envolvam perigos de contaminação, e que decorreu entre 15 e 18 de Maio, na região de Fonte da Telha, no distrito de Setúbal. Envolveu 150 pessoas, desde equipas que participaram no planeamento, coordenação, avaliação ou apoio real, informa a major.
E para que serve tudo isto? “O cidadão fica mais informado sabendo que nos treinamos para estas ameaças”, diz a major Ana Silva, acrescentando que também permite motivar os militares. “Quanto maior for a moral, a preparação e o militar acreditar que está preparado, melhor é toda a resposta e a cooperação interagências.”